Proposta de compra do Master pelo BRB gerou polêmica no mercado. (Foto: Adobe Stock)
O veto do Banco Central (BC) a um dos negócios recentes mais polêmicos do mercado financeiro ligou o alerta de investidores com Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Banco Master na carteira. A operação envolvia a aquisição de 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do banco de Daniel Vorcaro pelo Banco de Brasília (BRB), instituição financeira controlada pelo governo do Distrito Federal.
Na noite desta quarta-feira (3), a autoridade monetária reprovou a venda de parte do Master para o BRB (BSLI3). Em fato relevante, o BRB afirmou que solicitou o acesso à integra da decisão para avaliar os fundamentos da autoridade monetária ao negar o negócio e estudar alternativas cabíveis. Como mostrou o Estadão, o BRB vai insistir na operação após ter acesso ao documento.
“O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional”, diz o comunicado.
O Master também aguarda ter acesso à integra do documento para avaliar os argumentos do BC. Em nota, o banco disse que “continua confiante na sua estratégia e na sua operação, que fizeram com que se destacasse num mercado altamente concentrado”.
O novo capítulo da operação elevou os riscos dos CDBs do Banco Master. Antes, o entendimento geral do mercado era de que, com aquisição pelo BRB, os investidores com os títulos na carteira poderiam se beneficiar de um maior nível de segurança.
Como mostramos nesta reportagem, isso aconteceria porque a operação iria melhorar o perfil de risco da instituição ao se aliar a um banco público, com maior qualidade de carteira de crédito. Agora, com a recente decisão do BC, a situação do Master voltou a ficar problemática.
“O banco tem um ativo de longo prazo e um passivo de curto prazo, que são CDBs. Então, vejo que esta decisão deixa o banco mais frágil, em uma situação mais frágil”, diz Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research colunista do E-Investidor.
O que o investidor de CDBs do Master faz agora?
Dado a situação, os investidores que possuem CDBs do Master têm poucas alternativas. Fontes explica que o mercado está disposto a pagar de 30% a 40% do valor dos CDBs devido ao risco elevado da instituição. Ou seja, vender os ativos com esse nível de precificação pode não ser a melhor a decisão.
“Se estivesse precificado a um valor justo, tudo bem vender os títulos”, diz a especialista. “O investidor tem que contabilizar se realmente acha que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) vai honrar com essa dívida“, orienta.
Como mostramos aqui, a instituição de Daniel Vorcaro vinha chamando a atenção do mercado pela oferta agressiva de CDBs com taxas de até 140% do CDI, nível acima da média do mercado. A cobertura do FGC para investimentos de até R$ 250 mil era um dos principais fatores que motivaram os investidores a tomar esse nível de risco.
“Vale reforçar que o limite do FGC é por conglomerado financeiro e não por instituição isolada. Assim, o teto de R$ 250 mil vale de forma conjunta para Banco Master, Will Bank e Banco Voiter”, alerta Cristiano Leal, especialista em investimentos CEA e MBA em Gestão Financeira pela FGV.
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Contudo, caso Master não consiga honrar com as suas obrigações, os títulos emitidos pelo banco comprometeriam cerca de 42% da liquidez total do FGC. Por esse motivo, há uma interpretação do mercado de que a proposta de venda de um pedaço do Master para o BRB era uma espécie de “socorro” para conter os danos que o banco poderia causar para o sistema financeiro.
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Apesar do risco, Filipe Arend, head de renda fixa da Faz Capital, ressalta que o FGC tem mecanismos para se capitalizar caso enfrente dificuldades para cobrir um possível default dos títulos do Master. “Ele consegue, por exemplo, tomar uma linha de crédito do Banco Central para socorrer os ativos”, afirma.