

Na jornada da renda passiva, quem investe em setores perenes pode esbarrar neste dilema: faz sentido ter Banco do Brasil (BBAS3) e BB Seguridade (BBSE3) juntos na carteira? É diversificação ou sobreposição?
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Na jornada da renda passiva, quem investe em setores perenes pode esbarrar neste dilema: faz sentido ter Banco do Brasil (BBAS3) e BB Seguridade (BBSE3) juntos na carteira? É diversificação ou sobreposição?
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A dúvida cresceu com a desvalorização das ações, puxada pela crise no agronegócio e pela inadimplência que atingem o BB, mas também respingam na seguradora.
Para quem já tem os dois papéis, o que fazer? Concentrar em BBSE3? Trocar por outros bancos e seguradoras? Comprar mais ou só se deitar em posição fetal, chorar e esperar?
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A situação do Banco do Brasil é delicada e deve demorar a se resolver. Os balanços do 2º trimestre, que saem em agosto, podem mudar o jogo. A BB Seguridade divulga primeiro, no dia 4, mas os olhares estão no Banco do Brasil, dia 13 — data que pode estancar as perdas ou abrir espaço para mais quedas. No fundo do poço, às vezes, tem alçapão.
O cenário segue incerto e há quem seja mais pessimista. O consenso é que os problemas persistem até dezembro, com chance de se estenderem em 2026. “A inadimplência no agronegócio vai pressionar os resultados do Banco do Brasil em 2025. A depender de algumas condições, é possível uma normalização parcial ao longo de 2026”, diz Milton Rabelo, analista da VG Research.
Jayme Simão, sócio-fundador do Hub do Investidor, lembra que o ciclo do crédito rural é mais longo, o que torna a recuperação naturalmente mais lenta.
Entre os mais céticos está Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, que vê a crise atual como sem precedentes — algo comparável apenas à grande crise do agro de 70 anos atrás.
Um dos agravantes, segundo a própria gestão do BB, é o crescimento dos pedidos de recuperação judicial. Escritórios de advocacia têm incentivado produtores rurais a usar esse caminho, o que impede o banco de executar as garantias previstas nos contratos.
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Para Oliveira, sem uma solução rápida à vista, o cenário tende a se arrastar. “Isso pode se estender além de alguns poucos trimestres, envolvendo ainda 2026. Tudo depende da capacidade da gestão do BB em encontrar saídas que encurtem a crise.”
O banco afirmou a analistas do BTG que está adotando concessões de crédito com alienação fiduciária para conter o avanço das recuperações judiciais. Rabelo vê essa medida como positiva para o médio e longo prazo, mas com impacto limitado no curto.
No início do ano, o BB trabalhava com um payout (parcela do lucro destinada a proventos) entre 40% e 45%, com tendência de entregar o teto. Mas, após o 1º trimestre, tudo mudou: diante da crise, o banco passou a operar com 40%.
Com a piora esperada para o balanço do 2º trimestre, especialmente na carteira do agro e de pequenas e médias empresas, já há quem projete um payout mais conservador, entre 30% e 35%.
É o caso do BTG, que estima um Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) entre 10% e 13%, ante os 16,7% do 1º TRI25. Para preservar capital, o banco pode reduzir o payout ou vender ativos da carteira de crédito.
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O receio agora é que o tradicional calendário de 8 pagamentos por ano também entre em xeque. Há analistas que consideram possível sua descontinuidade em 2026, caso o cenário siga negativo.
Para Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, os dividendos podem oscilar, mas seguem como pilar da atratividade da ação. Ele estima payout entre 35% e 40% nos próximos trimestres, o que ainda garantiria um dividend yield acima de 7%, competitivo no mercado.
“Não vemos risco de suspensão dos 8 pagamentos em 2026. Com a normalização da inadimplência e melhora fiscal, pode haver revisão positiva da política de dividendos”, diz Chinchila.
Já Simão é mais pessimista e vê como plausível que os 8 pagamentos não se repitam em 2026, embora o dividend yield siga atrativo mesmo com payout menor. Rabelo também vê espaço para corte do payout até 30%, mas não aposta no fim dos pagamentos recorrentes.
As ações da seguradora já sofreram com o efeito da crise do Banco do Brasil, o que levanta dúvidas entre investidores: há risco de contratos rurais não serem renovados com produtores? E isso poderia respingar nos seguros da BB Seguridade?
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Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research, diz que essa preocupação é real e tem pressionado os papéis de BBSE3 nos últimos meses. “A BB Seguridade não cumpriu sua principal meta de guidance (projeção) sobre emissão de seguros, o que acende alerta para os próximos trimestres.”
Outro ponto de atenção, segundo Bueno, é a renovação do contrato com o Banco do Brasil, que permite à seguradora usar os balcões e canais do banco estatal para vender seus seguros. O contrato vence em 2033 e, embora já haja sinalizações de renovação, a incerteza segue no radar.
Rabelo, da VG, lembra que, apesar de mais resiliente que o BB — já que se beneficia dos juros altos — a seguradora depende muito da distribuição via banco estatal. “Mesmo com cenário mais construtivo para os resultados da BB Seguridade, os desafios do BB afetam negativamente algumas linhas de receita da seguradora”, comenta.
Ele destaca que, no 1º TRI25, a emissão de seguros rurais caiu 40% por causa da inadimplência no crédito agrícola.
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Apesar disso, os dividendos da BB Seguridade parecem pouco afetados. Segundo Rabelo, a crise pode respingar no lucro, nas linhas de negócio, mas não compromete a distribuição de proventos.
Bueno concorda. A BB Seguridade já anunciou R$ 4 bilhões em dividendos para o segundo semestre, algo perto de R$ 1,94 por ação, o que dá um dividend yield acima de 5%. “Anualizando, o dividend yield seria de 12%. Não vemos os proventos comprometidos, continua com bons resultados”, afirma.
Oliveira, do Vida de Acionista, vai além: considera o impacto imaterial na seguradora. Ele explica que boa parte dos seguros do agronegócio da BB Seguridade são ressegurados, o que reduz bastante o risco, ainda que também limite o lucro.
“Se o cliente deixa de pagar o seguro, o serviço é interrompido. Isso não gera prejuízo, mas sim redução de receita, aspectos que são bem diferentes no balanço”, observa Oliveira.
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Ele lembra que a BB Seguridade tem receitas operacionais diversificadas, com atuação em segmentos como vida, prestamista, habitacional, rural, residencial e empresarial. “Sem contar o resultado financeiro, que é turbinado por juros a 15%.”
Os analistas consultados divergem. Para casas como VG Research e Terra Investimentos, BBAS3 e BBSE3 são ativos complementares em uma carteira de renda.
Chinchila vê no Banco do Brasil maior potencial de valorização no longo prazo, enquanto a BB Seguridade oferece previsibilidade e estabilidade nos dividendos. “Ter as duas equilibra risco e retorno, dilui exposição e fortalece uma carteira mais defensiva e diversificada”, defende.
Já Bueno pondera que em um cenário mais estável até faria sentido, mas hoje o risco do Banco do Brasil pesa. “O momento não favorece carregar BBAS3.”
Cleide Rodrigues, analista-chefe da Money Wise Research, é mais crítica. Para ela, ter os dois papéis é sobreposição. “Apesar dos modelos de negócio diferentes, banco e seguradora compartilham a mesma origem e base de receitas: o Banco do Brasil”, afirma. Segundo ela, se o BB vai bem, a BB Seguridade tende a acompanhar e o contrário também vale.
“É apostar duas vezes na mesma estrutura. A BB Seguridade usa o canal do BB para vender seguros, previdência, capitalização”, explica Rodrigues. Impactos operacionais ou políticos no BB podem refletir diretamente na seguradora.
Simão concorda e acredita que atualmente se expor a ambas as empresas seria duplicar o risco de forma desnecessária.
Alguns analistas defendem a troca de BBAS3 por BBSE3 ou, caso o preço médio da posição em BBAS3 esteja desfavorável, ao menos focar novos aportes na seguradora.
Para Oliveira, BB Seguridade oferece mais margem de segurança. Segundo ele, a empresa consegue remunerar o acionista de forma sustentável e é hoje a melhor seguradora da Bolsa. Ele destaca que a companhia tem ótimas características para o cenário atual, com lucros crescentes desde 2016, resiliência à oscilação dos juros, payout elevado frequentemente acima de 80% e capacidade de manter rentabilidade mesmo diante de eventos extremos como a tragédia no Rio Grande do Sul, crise no agronegócio e fenômenos climáticos como El Niño e La Niña.
“Se o investidor estiver com lucro em Banco do Brasil e busca mais segurança, a troca por BB Seguridade faz sentido. Mas, como poucos atendem a esse perfil, o melhor pode ser aguardar os balanços do 2º TRI das duas empresas”, aconselha.
Bueno, da Nord, acredita que vender BBAS3 no prejuízo não compensa, mas vê BB Seguridade como uma grande oportunidade, especialmente por conta do dividend yield projetado na casa dos dois dígitos. “Mesmo com o cenário pressionado, a seguradora entregou bons resultados no 1º TRI e deve seguir forte em proventos”, avalia.
Negociada perto de R$ 33, com múltiplo P/L (preço sobre lucro) em torno de 8 vezes, a ação também enfrenta alguma resistência no mercado. Alguns analistas enxergam pouco espaço para valorização, ainda que reconheçam o apelo em dividendos. É o caso da Terra Investimentos e do Hub do Investidor, que têm visão neutra para o papel e indicam preço máximo de compra de até R$ 38.
Ação | Dividend yield projetado próximos 12 meses | Preço-teto de compra | Recomendação | Quem recomenda? |
Banco do Brasil (BBAS3) | 9% | R$ 27,00 | Compra | VG Research |
Banco do Brasil (BBAS3) | 7% até 8% | R$ 26,00 | Compra | Terra Investimentos |
Banco do Brasil (BBAS3) | 8,00% | R$ 22,00 | Compra | Hub do Investidor |
Banco do Brasil (BBAS3) | 8.20% | R$ 20,63 | Neutra | Vida de Acionista |
Fonte: levantamento E-Investidor com analistas
Ação | Dividend yield projetado próximos 12 meses | Preço-teto de compra | Recomendação | Quem recomenda? |
BB Seguridade (BBSE3) | 10,50% | R$ 38,00 | Compra | VG Research |
BB Seguridade (BBSE3) | 8% até 9% | R$ 38,00 | Neutra | Terra Investimentos |
BB Seguridade (BBSE3) | 10,00% | R$ 37,00 | Neutra | Hub do Investidor |
BB Seguridade (BBSE3) | 12.05% | R$ 50,63 | Compra | Vida de Acionista |
BB Seguridade (BBSE3) | 11.8% | R$ 40 | Compra | Nord Research |
Fonte: levantamento E-Investidor com analistas
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