- De acordo com levantamento do Trade Map, enviado ao E-Investidor, dos 15 BDRs chineses negociados na B3, apenas um apresentou alta no acumulado de outubro
- Ao olhar para o acumulado deste ano, a desvalorização também persiste entre os BDRs negociados no mercado brasileiro
- O fraco desempenho reflete as incertezas relacionadas à economia chinesa em virtude das mudanças políticas
A reeleição histórica de Xi Jinping e o risco do Produto Interno Bruto (PIB) da China não alcançar a meta dos 5,5% em 2022 trazem um alertas para os investidores brasileiros posicionados em BDRs (Brazilian Depositary Receipts) chineses.
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Com as incertezas no campo político e econômico no gigante asiático, o ETF XINA11 que reúne as principais companhias chinesas acumula perdas na casa dos 17% em outubro, segundo dados do TradeMap, enviado ao E-Investidor.
A desvalorização é ainda mais intensa ao observar no intervalo entre janeiro até o pregão a última quarta-feira (26). Ao longo deste período, a derrocada chega a 41,6%. O baixo desempenho também não é diferente para os BDRs.
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Em outubro, apenas os BDRs da companhia de software Kingsoft Cloud Holdings (K2CG34) e da New Oriental Education & Technology Group (E1DU34) apresentaram ganhos, enquanto os BDRs das outras 13 companhias chinesas negociadas na B3 registraram derrocadas de até 36%. Ao longo deste ano, o cenário negativo também prevalece.
As baixas performances são reflexos das incertezas que pairam sobre a economia chinesa. No campo econômico, o principal fator de entrave para uma atividade econômica aquecida é a política de combate a proliferação da covid-19. Enquanto a maioria dos países voltou ao normal com o processo de vacinação em massa, as cidades chinesas ainda seguem submetidas a restrições em virtude da proliferação do vírus.
A insistência nas medidas de isolamento social exige dos analistas de mercado novas revisões para as estimativas econômicas para 2023. Segundo Jennie Li, estrategista-chefe da XP, a perspectiva era de que a segunda maior economia conseguisse apresentar um crescimento do seu PIB na casa dos 5%. No entanto, a projeção segue em revisão em virtude das dúvidas se Xi Jinping irá dar continuidade a esta política.
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“Há analistas que acreditam que, com a reeleição do Xi Jinping, pode ser que ele consiga flexibilizar daqui para frente porque a visão, de um modo geral, é que essa política não é sustentável a longo prazo” , afirma Li.
O problema é que a discussão sobre o fim dessas políticas acontece desde o início deste ano e as estimativas dos economistas ainda não corresponderam com a realidade. “Essa é a grande interrogação. Ninguém sabe o que vai acontecer. Então, eu acho que isso (os lockdowns) é um grande catalisador para a economia”, diz.
No terceiro trimestre, a China conseguiu crescer 3,9% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas do país. O resultado representa uma aceleração de 0,4% em relação ao segundo trimestre. O número também superou a previsão de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que esperavam expansão de 3,5%, segundo informou a Agência Estado.
O ponto importante é que, no acumulado de janeiro a setembro, o avanço foi de apenas 3%, enquanto a meta do governo estima um crescimento de 5,5%. Na política, as discussões giram em torno da reeleição de Xi Jinping, que seguirá para o inédito terceiro mandato após a decisão do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCCh), realizado entre os dias 16 e 22 de outubro. O evento ocorre a cada cinco anos para definir o líder político do país.
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Mas além de ocupar o cargo de presidente da China, Jinping exercerá a função de secretário-geral do comitê central do PCCh e de presidente da comissão militar central do partido. Veja os detalhes das consequências da concentração de poder de Xi Jinping para o mercado nesta reportagem. “Com a maior concentração de poder e com liberdade de atuação sobre a economia chinesa por parte do líder chinês, a projeção é de que haja maior intervenção estatal sobre a economia”, afirma Lucas Carnevale, analista da Levante Investimentos.
Após a consolidação do poder de Jinping para mais um mandato, trouxe reações negativas para o mercado. Na segunda-feira (24), o índice Hang Seng, principal indicador de ações de Hong Kong, caiu 6,36%. A desvalorização foi a maior derrocada intraday desde 2008, quando ocorreu a grave Crise do Subprime e a falência do banco Lehman Brothers.
A concentração de poder nas mãos de Jinping também pode elevar as tensões geopolíticas no continente asiático. Durante o congresso do PCCh, as declarações do presidente da China defenderam a necessidade de priorizar a segurança nacional e de se ter forças armadas mais “fortes” além de não reconhecer a ilha de Taiwan como um território independente.
“Esses fatores podem pesar no sentimento de investimento em ativos chineses e limitar as perspectivas de crescimento de curto prazo”, afirma Andres Castro, portfólio manager da Global X ETFs Brasil.
O que fazer?
As perspectivas para o curto prazo são negativas para a economia da China e trazem alertas aos investidores com exposição ao mercado chinês. No entanto, na avaliação de analistas, embora haja um aumento dos riscos, ter uma parcela do portfólio posicionado neste mercado é importante devido à forte influência do gigante asiático na economia mundial.
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“O primeiro passo é entender se essa exposição faz sentido para o seu portfólio. Mesmo assim deve ser bem gerenciada em termos de dimensão e em eventuais cenários mais adversos”, afirma Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest.
A opção de se desfazer totalmente dos ativos é a última alternativa que deve ser considerada para o investidor. Essa medida só deve ser realizada caso os fundamentos que conduziram à decisão de investimento não estejam mais presentes. “Se porventura os fundamentos ainda continuem presentes, talvez essa não seja a medida mais recomendável (vender os ativos), mas isso deve ser analisado caso a caso”, acrescenta.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, também não recomenda se desfazer por completo da exposição ao mercado chinês, mas sugere ao investidor reduzir a exposição, enquanto as incertezas predominaram no cenário econômico. Isso porque, na avaliação dele, não estar exposto à segunda maior economia do mundo pode fazer com que o investidor perca boas oportunidades.
Por esse motivo, o “olhar” deve estar mais “aguçado” para os setores que podem ser mais estratégicos para o governo chinês e com perspectivas de retorno no longo prazo. “Setores com apoio político do governo, como o consumo doméstico, inovação tecnológica empresarial e transição energética, podem se valorizar de acordo com as medidas adotadas pelo governo”, diz Gonçalvez.
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