O que este conteúdo fez por você?
- A QR Asset Management lançou o primeiro ETF 100% focado em Bitcoin, a maior criptomoeda do mundo
- O ativo segue o índice CME CF Bitcoin Reference Rate, referência dos contratos futuros da criptomoeda negociado na maior bolsa de derivativos do mundo, a Chicago Mercantile Exchange Group
- Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, é embaixador do Global Blockchain Business Council no Brasil e fundador da QR Capital. Veja os principais trechos da entrevista
Em junho, os investidores brasileiros ganharam uma nova opção para investir em Bitcoin diretamente na bolsa de valores. O primeiro ETF 100% focado na maior criptomoeda do mundo, o QBTC11, foi lançado no último dia 23 pela QR Asset Management, gestora de recursos da holding QR Capital.
Leia também
Com uma taxa de administração de 0,75% ao ano e um ticket de entrada de cerca de R$ 10, o ETF fechou o pregão de sexta-feira (2) a R$ 10,78, com alta de 0,75%. Desde a listagem do fundo, o patrimônio líquido do produto alcançou a marca de R$ 118,74 milhões.
Diferente dos ETFs (Exchange Traded Funds) – fundos de investimentos negociados em Bolsa -, o QBTC11 replica o preço do Bitcoin. Na prática, o ativo segue o índice CME CF Bitcoin Reference Rate, referência dos contratos futuros da criptomoeda negociado na maior bolsa de derivativos do mundo, a Chicago Mercantile Exchange Group.
Publicidade
Apesar da presença dos ETFs de criptomoedas na bolsa de valores do Brasil e Canadá, nos Estados Unidos este tipo de ativo ainda não está disponível para os investidores. A SEC (Securities and Exchange Commission), considerada a CVM americana, ainda não aprovou nenhum produto.
Conversamos com Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, holding responsável pela gestora QR Asset Management, sobre o mercado de ETFs de criptos e a popularização do bitcoin. O executivo é administrador de empresas com 18 anos de experiência em multinacionais, além de ser embaixador do Global Blockchain Business Council no Brasil e fundador da QR Capital.
Confira os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – O que motivou a criação do produto QBTC11?
Publicidade
Fernando Carvalho – A ideia surgiu em agosto do ano passado, quando entendemos que havia uma situação regulatória favorável para os criptoativos. Houveram muitas evoluções em relação à estrutura de mercado para os ativos digitais. Ano passado foi um período de muito crescimento dos fundos multimercado no Brasil, que estão sendo distribuídos por diversas plataformas de investimentos.
Entendemos que o tamanho do mercado e a evolução natural seria migrar e evoluir para produtos listados. Neste momento, começamos a mapear os principais provedores de índice de criptoativos do mundo e acabamos optando pela CF Benchmarks, que é o provedor do QBTC11. É uma empresa regulada na Europa especializada na produção de índices de ativos digitais. Inclusive, são eles que fazem o índice de referência que a bolsa de Chicago usa para referenciar as liquidações do mercado futuro de Bitcoin.
Essa inovação é mais um passo para a formalização do mercado cripto no Brasil. Entendemos que o produto de bolsa talvez seja o último nível de segurança para o investidor e conseguimos dar acesso à compra de cotas do fundo para pequenos investidores. Além disso, consegue garantir um ambiente regulado, protegido com custódia institucional.
E-Investidor – Quais foram os maiores desafios para a montagem do ETF?
Publicidade
Carvalho – O principal desafio foi ser um dos primeiros. Tivemos que explicar para o órgão regulador que o ativo tem liquidez, índices confiáveis e uma infraestrutura de custódia eficiente. O principal desafio, talvez tenha sido mostrar para toda a base de reguladores e para a própria B3, por meio da diretoria de listagem, que já existe no mercado cripto uma infraestrutura suficientemente segura
É um mercado que está evoluindo muito rápido. A qualidade dos custodiantes, dos administradores e das corretoras vem evoluindo rapidamente. E conseguimos, por meio da seleção dos principais parceiros, mostrar que a infraestrutura já era adequada, dando segurança tanto para a bolsa quanto para o regulador.
E-Investidor – O produto investe somente em Bitcoin. Por que adotar essa estratégia em vez de diversificar com outros ativos digitais?
Carvalho – Entendemos que o Bitcoin é o principal ativo do mercado e está em um grau de maturidade diferenciado. Em termos de liquidez e segurança, é uma rede que já se provou.
Publicidade
No entanto, entendemos que a maturidade do mercado cripto ainda não é suficientemente boa para índice. Temos observado que os índices de criptoativos globais carregam ativos que nem sempre têm os melhores fundamentos e qualidades.
O melhor exemplo que eu uso para ilustrar isso é a Dogecoin. Esse é um ativo que não tem nenhum tipo de fundamento, mas chegou a ser um dos 10 maiores criptoativos do mercado e quase chegou a integrar índices relevantes de ativos digitais.
E-Investidor – Nos EUA, os ETFs de criptomoedas ainda não foram aprovados. Como você avalia o atraso da maior economia do mundo neste segmento?
Carvalho – A SEC tem um nível de conservadorismo importante. Existe uma preocupação da entidade com relação à proteção de pequenos investidores. O principal argumento da autarquia é que o tamanho do mercado de cripto é de uma magnitude que talvez sujeite os preços dos principais criptoativos a variações especulativas.
Publicidade
Realmente, o Bitcoin é um ativo altamente volátil. É uma abordagem conservadora, mas há um erro nessa posição da SEC. Na verdade, o mercado que compra em paralelo nas exchanges e corretoras especializadas em criptoativos já é gigante, inclusive nos EUA. Cerca de 15% da população norte-americana declara ter algum investimento em criptoativos.
Ou seja, não é o veículo que vai garantir a proteção do investidor. Ele já consegue comprar os ativos, sejam eles Bitcoin ou mesmo ações de empresas que estão relacionadas ao mercado.
E-Investidor – A gestora americana Grayscale, a maior custodiante de Bitcoins do mundo, possui uma cesta de produtos focada em fundos monocriptoativos. O que vocês acham dessa abordagem e pretendem seguir pelo mesmo caminho?
Carvalho – Acho essa abordagem inteligente. Primeiro porque permite que o investidor aloque o tamanho da posição que deseja em cada ativo. No final, você tem a possibilidade de escolher a sua posição.
Publicidade
Segundo, a maturidade do produto. Em nosso approach na QR, a exposição passiva eu dou no monoativo para permitir que o investidor tenha uma exposição no ativo que ele considera mais promissor. Por isso concordo com a estratégia da Grayscale,
Já na exposição ativa, fazemos a seleção dos ativos por meio da gestão dos fundos. Temos na QR o segundo fundo deste tipo mais antigo do Brasil, que é o QR Blockchain Assets. Ali, nós selecionamos os ativos com base em fundamentos.
E-Investidor – Até o lançamento do QBTC11, a QR Asset só trabalhava com fundos de investimentos voltados para investidores qualificados. Por que lançar um produto para o investidor de varejo?
Carvalho – Esse foi o nosso primeiro produto voltado para o investidor geral. Quando olhamos para os fundos multimercado, existe uma limitação regulatória. Os fundos para o varejo de varejo estão limitados a um teto percentual do patrimônio. Ou seja, se decidíssemos lançar um fundo voltado para esta categoria, ele não seria um produto 100% cripto.
Em função dessa limitação, é mais complicado abrir esse tipo de veículo. Temos um segundo caminho, que é fazer esse tipo de fundo para investidor comum limitado, mas entendemos que acaba perdendo bastante o potencial de ser um fundo 100% alocado.
E-Investidor – Quais são os próximos planos da Casa?
Carvalho – A QR Capital é uma holding e seu principal negócio é a gestora QR Asset Management. Temos um pipeline de lançamento muito robusto para esse ano. Vamos lançar novos produtos, novos fundos e comunicar tudo isso oportunamente.
Também temos investimentos em negócios de tecnologia e outros projetos em fase de aprovação. A QR Capital tem a Rispar, uma plataforma de empréstimo com garantia em criptoativos. Além disso, temos participação na BBPR, uma fintech que está em fase pré-operacional para fazer a tokenização de recebíveis judiciais, o, e também outros projetos em fase de aprovação.
Os investidores podem esperar muita notícia da QR este ano, não só na parte de fundos, mas também na parte de tecnologia e tokenização.
E-Investidor – Recentemente, o mundo foi surpreendido com a notícia de que El Salvador adotou o Bitcoin como moeda de curso legal do país. O Sr. acredita que esse é realmente o futuro?
Carvalho – Quando olhamos o caso de El Salvador, temos que analisar de uma certa perspectiva. O país é uma nação pequena, onde a economia já era dolarizada, ou seja, não havia uma moeda nacional soberana, e onde uma parte bastante relevante da economia do PIB depende de remessas internacionais.
De certa forma, o país entendeu que isso já era uma realidade. Pessoas físicas entenderam que era mais barato fazer a transferência de valores do parente que morava em outros países para o seu parente em El Salvador, por exemplo. De maneira geral, já era uma realidade porque os habitantes já vinham utilizando a moeda dessa forma.
O fato de ser moeda de curso legal vai permitir que ela circule em transações mercantis no dia a dia. O Bitcoin não é uma moeda para micropagamento, mas é para transações de mais materialidade em função das taxas de transação da rede. Ou seja, é muito caro fazer um pagamento pequeno, mas é muito barato fazer um pagamento grande. No final, vai ser um aprendizado para o mundo inteiro.
E-Investidor – A volatilidade do mercado de criptomoedas ainda preocupa os investidores mais conservadores. Como a QR está lidando com isso e como trazer novos entrantes para o mercado?
Carvalho – Essa é uma classe de ativos nova. Entendemos que ainda existe, em grande parte dos investidores, um nível de conhecimento limitado. O risco do Bitcoin nem sempre é fundamentado por um conhecimento do que é a criptomoeda. Compreendemos que esse processo de educação vai ser gradual e a maturidade dessa classe de ativo também será.
O que vemos, no curto prazo, é que já há movimentação de grandes gestores no mundo fazendo alocações em Bitcoin. Há alguns casos mais icônicos, como Paul Tudor Jones, Renaissance, que é um grande fundo também. Os bancos norte-americanos também estão oferecendo serviços de custódia, a Fidelity, maior gestora de recursos do mundo, oferecendo serviços de negociação e custódia. De forma geral, existe um nível bastante acelerado de expansão da tese, mas estamos nos primeiros passos.
E-Investidor – A entrada de investidores institucionais no mercado é vista como um passo importante passo para a popularização e adoção do Bitcoin. Qual é o peso desses novos entrantes?
Carvalho – Há alguns catalisadores que permitem que a adoção acelere. Um deles é a CBDC (Central Bank Digital Currencies), moedas emitidas pelos bancos centrais. Há mais de 60 países no mundo anunciando publicamente a criação de projetos, inclusive o Brasil, de emissão de moedas soberanas utilizando tecnologia de redes descentralizadas.
Acreditamos que isso vai trazer a adoção do criptoativo no celular do cidadão comum. Quando você coloca uma moeda estável emitida pelo governo, acaba gerando uma segurança de adoção maior e acho que isso é um catalisador muito importante para os demais criptoativos.
De forma geral, a maturidade da tecnologia e a praticidade do uso, vai ser algo que vai acontecer. Gosto muito de fazer um paralelo com a própria internet, que no início era praticamente inacessível, algo de entusiasta e de pessoas que tinham o conhecimento em tecnologia. Ela passa a ser massiva no momento em que temos um nível de maturidade da tecnologia, o mesmo está acontecendo com o blockchain.
E-Investidor – Em maio, o Bitcoin registrou um dos piores momentos de sua história, encerrando o mês com queda acumulada de 39%. Mas ao contrário do mercado acionário, onde é possível encontrar justificativas para as altas e baixas, nas criptomoedas não é tão fácil compreender as oscilações de preço. Quais fatores impactam o preço da criptomoeda em si?
Carvalho – Sempre que eu falo de movimentação de preço, gosto de ter uma perspectiva mais longa. Há pouquíssimo tempo, estávamos comemorando que o Bitcoin tinha atingido US$ 30 mil, que é o preço que estamos agora. O principal fator que impulsionou essa queda em maio foi o fato que houve uma valorização muito grande, com o BTC saindo de US$ 6 mil em abril/maio do ano passado para US$ 65 mil neste ano.
É normal que aqueles investidores que estão carregando posições e têm ganhos de 10x e múltiplos muito relevantes comecem a realizar seus lucros. Parte dessa realização de maio foi de pessoas saindo em posições de lucro.
O segundo ponto importante é a questão da migração da mineração na China. Houve um processo relevante de regulação no mercado chinês, no qual se proibiu a mineração de Bitcoin. Ocorreu um movimento de alguns mineradores, que são participantes da rede com uma quantidade grande de ativos para vender. Houve uma pressão vendedora dos mineradores e vimos nos dados públicos da rede uma movimentação muito grande em carteiras dessas pessoas.
A soma desses dois fatores gerou essa correção em maio. Esses ajustes são super normais no mercado de cripto. É um ativo de alta volatilidade. A duração e o tamanho da posição é muito importante para investimento em cripto. Quando abrimos uma perspectiva de mais longo prazo, qualquer análise de preço do Bitcoin em um tempo de três anos vem se mostrando, ao longo dos 12 anos de história, um excelente investimento.
E-Investidor – Por que as pessoas deveriam investir no QBTC11?
Carvalho – Primeiro porque é a forma mais segura, barata e prática de comprar Bitcoin no Brasil neste momento. O fundo é um produto extremamente barato com taxa de administração de 0,75% ao ano e que utiliza custódia institucional. Isso significa que as chaves privadas ficam guardadas por custodiantes que utilizam as melhores tecnologias de guarda dos ativos
Além disso, é um fundo listado e tem alta liquidez. No final, o investidor que quer realizar sua posição no mercado de bolsa consegue fazer isso cinco dias por semana de forma instantânea.