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- A economista-chefe da Claritas, Marcela Rocha, aponta que o cenário de inflação mundial é especialmente desafiador para os países emergentes
- A soma de inflação alta e crescimento fraco é um arcabouço perigoso, diz a economista
(Aramis Merki II) – O entusiasmo dos investidores com a América Latina está no menor patamar na série histórica levantada pelo JPMorgan, disse a economista-chefe da instituição no Brasil, Cassiana Fernandes, em evento promovido pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “E o Brasil de certa forma lidera a preocupação com a América Latina”, completa. Ela diz que a alta volatilidade no mercado doméstico espelha o quanto o interesse de investidores muda rapidamente.
Arcabouço perigoso
Nas últimas semanas, ao mesmo tempo em que os balanços das empresa americanas agradaram, o apetite para mercados emergentes diminuiu. “O investidor dos Estados Unidos e da Europa está mais dedicado aos seus países”, diz Fernandes. A executiva aponta que a exposição à América Latina entre os investidores também está em seu menor nível, de acordo com dados do JPMorgan.
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A economista-chefe da Claritas, Marcela Rocha, aponta que o cenário de inflação mundial é especialmente desafiador para os países emergentes. A soma de inflação alta e crescimento fraco é um arcabouço perigoso, diz a economista. “Os emergentes já não têm espaço para adotar políticas fiscais para reagir. As taxas de juros altas podem levar a uma piora da atividade econômica e deixar esses países na lanterna em termos de recuperação”.
Em “condições normais”, a precificação atual dos ativos brasileiros indicaria retornos elevados tanto na renda fixa quanto na renda variável, na visão de Cassiana Fernandes, que aponta que o real também está abaixo do valor justo da moeda, sob a ótica dos fundamentos. “A dúvida aqui é a análise sobre as condições normais. O retorno será elevado em renda fixa desde que você tenha garantia de que vai receber”.
Dúvida sobre solvência
As dúvidas subiram a um patamar muito mais sério nas últimas semanas. “Pela primeira vez desde 2016 precisamos responder novamente perguntas sobre a solvência do Brasil”, afirma Fernandes.
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Marcela Rocha aponta que os investidores estrangeiros são pragmáticos: querem confiança e previsibilidade. Ela diz que os investidores estão perguntando “qual é o novo regime fiscal do Brasil?” O gatilho para este investidor observar com interesse os ativos brasileiros, diz ela, será a postura do governo para apresentar um novo modelo fiscal.
Rocha ressalta ainda que outras dúvidas se sobrepõem, como o cenário de eleições do ano que vem. O estrangeiro já se pergunta sobre o que esperar da corrida eleitoral, que indicará o novo equilíbrio fiscal do Brasil em um segundo momento.
Mas até lá, a economista considera que o governo atual precisa de uma forma para conquistar confiança. “Não temos uma bala de prata para conseguir acalmar as expectativas, será preciso reconstruir”.