Investimentos

Mercado fala em paridade entre dólar e euro. Como isso afeta o investidor?

Especialistas explicam as consequências da crise no Oriente Médio para o câmbio e os investimentos

Mercado fala em paridade entre dólar e euro. Como isso afeta o investidor?
Paridade entre dólar e euro: Europa vem pressionada pela inflação de energia. Foto: Envato Elements
  • JPMorgan reduziu sua previsão para o euro a um dólar até o final do ano
  • Ativos na Europa poderiam ficar mais baratos, mas sob um maior risco
  • Euro mais fraco pode resultar em menos crescimento econômico no continente

A guerra de Israel contra os terroristas do Hamas trouxe de volta a discussão sobre a paridade entre dólar e euro. Com uma Europa já pressionada pela inflação de energia, por causa da invasão da Rússia na Ucrânia, os analistas começam a apontar para uma possível perda no valor da moeda comum europeia com a escalada do conflito no Oriente Médio.

Entre os grandes bancos de Wall Street, o JPMorgan reduziu sua previsão para o euro a um dólar até o final do ano. O Citibank trabalha com um prazo de seis meses para esse valor na moeda da UE, dada a sua visão de que a recessão europeia ocorrerá primeiro que nos Estados Unidos.

Nesta quarta-feira (18) o euro era negociado a US$ 1,05, mesmo preço de dezembro de 2022. De agosto a novembro de 2022, o dólar bateu o euro, que chegou a ser negociado a US$ 0,97 em outubro do ano passado.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

“A guerra pode colocar mais pressão sobre os preços de energia, na Europa principalmente, fazendo o euro se desvalorizar até chegar à paridade com o dólar”, explica o professor da FIA Business School, Alex Nery. Na avaliação dele, esse é um cenário possível para os próximos meses caso haja um recrudescimento do conflito Médio Oriente.

Euro fraco aprofunda crise no continente

A paridade representa riscos significativos para a economia europeia na visão de Diego Costa, head de Câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio. Com a divisa do bloco europeu mais fraca, as exportações do velho continente se tornam mais caras para os Estados Unidos, o que pode resultar em uma queda nas vendas e menos crescimento econômico na região.

A paridade entre o euro e o dólar tem sido observada desde o ano passado, “mas suas raízes são mais profundas”, lembra Diego Costa.

Em 2022, o dólar superou o euro pela primeira vez em 20 anos. “Desde 2002 isso não acontecia”, diz Chen. A situação ocorreu em um cenário em que as principais potências econômicas do mundo lutavam para equilibrar a inflação e as taxas de juros, tentando controlar o aumento dos preços sem prejudicar o crescimento econômico.

Acontece que a pandemia em 2020 os estímulos dos bancos centrais injetaram recursos nas economias para evitar a recessão. Isso terminou culminando com um mundo mais inflacionário, inclusive em países desenvolvidos. Na Zona do Euro, essa situação piorou devido aos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia e, agora, deve sofrer com o conflito no Oriente Médio, região grande produtora de petróleo e balizadora dos preços da commodity no mundo.

E o investidor brasileiro, como fica?

Para o investidor brasileiro, o resultado da equação se torna um pouco mais difícil de prever. É possível que, no caso de o euro se desvalorizar frente à moeda americana, haja também uma perda dela em relação às outras divisas. Neste caso, o cenário abriria oportunidades de investimentos em ativos europeus e, no ambiente doméstico, empresas que dependem de importação se beneficiaram de um real mais forte. E mais, circunstâncias favoráveis para o turismo e para negociações no mercado de imóveis europeu também surgem a reboque.

Mas como não existe almoço grátis, a promoção viria acompanhada de incertezas. “Todos esses ativos podem ficar mais baratos em relação à nossa moeda, mas guerras geram riscos que precisam ser considerados quando se fala de investimentos”, diz Nery.

Publicidade

É preciso levar em conta também que, além da possibilidade de ganho do real, pode haver também o resultado contrário. As moedas mais valorizadas têm o papel de porto seguro e, no caso de um conflito de maior escala, muitos recursos que iriam para o euro poderiam fluir para outras moedas, como o dólar e mesmo o iene do Japão e o franco suíço. “Neste caso, o real também tenderia à desvalorização, impactando as importações, inflação e fluxo de capital”, lembra Jonas Chen, gerente de carteira da B.Side Investimentos.

Há também o cenário neutro dentro da perspectiva brasileira. Para Bruno Perottoni, diretor de Tesouraria do Braza Bank, um patamar de paridade entre dólar e euro não traria mudanças para o investidor local. “Quem está querendo investir dificilmente olha a paridade. Um dólar a uma vez e meia ficaria interessante, mas a 1,0 dá na mesma, fica o mesmo valor ir para Disney ou para a EuroDisney”, ironiza.

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos