O que este conteúdo fez por você?
- Segundo dados da Anbima, a captação das ofertas de debêntures, notas comerciais e FIDCs dobrou em um ano e alcançou o volume de R$ 254,3 bilhões
- Os títulos atrelados a projetos de infraestrutura oferecem as melhores oportunidades de investimento em meio às expectativas de alta da Selic
- Apesar do bom momento, a classe de ativos oferece riscos que os investidores precisam estar cientes de antes de realizar qualquer aporte
A segunda semana de setembro inicia com os investidores à espera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), sobre a taxa Selic. A expectativa é de que a autoridade retome o ciclo de alta de juros no Brasil, diante das projeções de crescimento da inflação acima da meta de 3%. O movimento pode penalizar os ativos de Bolsa, mas amplia os ganhos no mercado de renda fixa, especialmente o de crédito privado, que vivencia uma das suas melhores fases de oferta e de oportunidades para os investidores.
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A percepção se baseia nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) referentes ao volume de captação desses instrumentos. No primeiro semestre deste ano, as ofertas de debêntures, notas comerciais e de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) captaram R$ 254,3 bilhões. O volume é mais do que o dobro dos recursos arrecadados durante os seis primeiros meses de 2023, quando esse mercado conseguiu levantar cerca de R$ 101,7 bilhões com a oferta de novos títulos.
Veja o volume de captação em ofertas de ativos de crédito privado
Período | Debêntures | Notas comerciais | FIDIC |
1º semestre de 2023 | R$ 78,1 bilhões | R$ 10,9 bilhões | R$ 12,5 bilhões |
2º semestre de 2023 | R$ 158,3 bilhões | R$ 16,9 bilhões | R$ 35 bilhões |
1º semestre de 2024 | R$ 206,7 bilhões | R$ 12,9 bilhões | R$ 31,4 bilhões |
2º semestre de 2024* | R$ 50 bilhões | R$ 11,5 bilhões | R$ 3,2 bilhões |
Fonte: Anbima/*Dados até julho de 2024 |
Os números do volume de crédito privado mostram um mercado aquecido. Há uma demanda das empresas por recursos para financiar suas operações e um interesse das instituições financeiras em conceder esse empréstimo. Samer Serhan, sócio e CIO da estratégia de crédito privado e infraestrutura da JiveMauá, avalia que o frenesi desse mercado surge por dois motivos: bons resultados operacionais das empresas e atividade econômica aquecida. Segundo ele, após a crise da pandemia de covid-19, as empresas se tornaram mais disciplinadas do ponto de vista operacional e, hoje, demonstram um controle mais rigoroso de seus custos e despesas.
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Já do lado macroeconômico, o cenário se mostra favorável para que as companhias busquem crédito no mercado diante de uma economia em ritmo de expansão. A combinação desses dois fatores fez com que o braço de crédito privado da JiveMauá desembolsasse cerca de R$ 400 milhões em concessão de crédito entre os meses de janeiro a junho deste ano. Para esta segunda metade do ano, há pretensão de abrir ainda mais a carteira com a pretensão de disponibilizar cerca de R$ 600 milhões até dezembro. “Pela primeira vez em três anos, estamos vendo uma aceleração na concessão de crédito e desaceleração da inadimplência das empresas”, justifica Serhan.
Todas essas operações são concentradas na carteira dos produtos da casa, como o Jive BossaNova. O fundo destinado para os investidores qualificados possui uma estratégia voltada para o crédito privado estruturado e de baixo risco. Para atender a esse perfil, o portfólio do fundo prioriza ativos atrelados a crédito de infraestrutura ligados ao setor de energia, títulos soberanos e serviços financeiros que juntos correspondem por 51% do portfólio.
“Geração de valor em torno da cadeia de infraestrutura e na parte de financeirização da parte de bens e serviços (com a antecipação de pagamentos) são os dois setores que temos apostado bastante”, acrescenta o gestor. Com essa estratégia, o fundo mantém uma rentabilidade no acumulado de janeiro a agosto deste ano de 8,62%, percentual equivalente a CDI +2,12% ao ano.
A SPX Capital também enxerga boas oportunidades de investimento nesse perfil de ativo, especialmente sobre as debêntures incentivadas, que são títulos de dívidas voltados para projetos de infraestrutura e ainda possuem o benefício de isenção de imposto de renda (IR). Para captalizar essa janela de oportunidade, a gestora lançou em dezembro do ano passado o fundo Seahawk Debêntures Incentivadas que busca investir em títulos de dívidas de empresas do setor de infraestrutura.
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Desde o início da sua operação até hoje, a rentabilidade acumulada do produto chega a 9,87%, enquanto o CDI entregou um retorno de 7,41%. “O Brasil precisa de infraestrutura. Existe uma carência e nós precisamos de dinheiro para fazer investimentos básicos. Não somos um país de primeiro mundo”, afirma Albano Franco, sócio e head de crédito privado da SPX Capital.
Vale a pena investir em crédito privado com a alta da Selic?
Desde o mês passado, o mercado projeta uma retomada do ciclo de aperto monetário no país com uma projeção de 12% para a Selic até o fim do ano. Os reajustes tendem a valorizar o mercado de renda fixa, que acompanha a trajetória dos juros, em detrimento da bolsa de valores. Para os investidores pessoa física, os títulos públicos, como o Tesouro Selic, são os mais seguros na classe de renda fixa, enquanto os de crédito privado oferecem um risco mais elevado além de não possuir a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
No entanto, isso não significa que não ofereçam boas oportunidades de investimentos. Albano reforça que, as debêntures incentivadas, por exemplo, estão concentradas em setores mais resilientes da economia e com previsibilidade de receita de longo prazo. “O mercado de crédito privado brasileiro é muito conservador quando olhamos para a diversidade de setores. Metade da oferta vem de utilities, especialmente do setor elétrico que é um setor bastante previsível”, reforça o head de crédito privado da SPX Capital.
Ao olhar para os níveis de risco, os ativos de crédito privado podem oferecer ainda mais segurança para os investidores em casos de default (calote) do emissor da dívida em comparação ao risco quando se é acionista da empresa. “Na estrutura de capital, se o investidor é o credor de uma empresa, você deveria receber os pagamentos primeiro do que um acionista. Logo, você está mais protegido”, acrescenta Albano. Apesar do otimismo, o bom momento para se investir no crédito privado pode enfrentar alguns desafios com a alta da Selic.
Embora os juros sejam os responsáveis por elevar a remuneração de alguns ativos, o impacto dessa política na economia do país pode elevar as taxas de inadimplência nos próximos meses, quando os primeiros sinais dos reajustes serão sentidos na economia real. Por isso, Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, sugere analisar a qualidade do portfólio dos fundos, como os ratings (classificação de risco dos papéis) e os setores econômicos dos emissores das dívidas. Segundo ele, os fundos com maior exposição ao varejo e construção civil, por exemplo, são os mais arriscados para os investidores e devem ficar de roda da carteira. “Os juros ainda estão altos e complicam a saúde financeira dessas empresas”, diz Belitardo.
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A duração do vencimento dos títulos também é outra característica que não pode deixar de ser avaliada. Isso porque há o risco do investidor enfrentar problemas de liquidez caso decida vender o papel antes do vencimento a um preço justo, especialmente em momentos de alta volatilidade no mercado. “Outro risco que muitos investidores não percebem é o risco de mercado, já que variações na taxa de juros podem impactar a marcação a mercado dos papéis, causando oscilações nos preços”, afirma Joaquim Gomes, especialista em Renda Fixa da RJ+Investimentos.
E assim como ocorre com os fundos imobiliários, os investidores precisam avaliar a qualidade da gestão por trás dos fundos de crédito privado. Escolher um produto apenas pela sua rentabilidade pode expor o seu patrimônio a um prejuízo futuro que não foi precificado. “Nunca escolher um fundo apenas por rentabilidade, pois não existe retorno sem risco. A relação de retorno ajustado ao risco incorrido é a melhor métrica a ser considerada”, diz Marcelo Peixoto, gestor de crédito privado da Trígono Capital.
Dado esses alertas, os fundos de debêntures incentivadas são classificados como uma das melhores opções de investimentos diante da isenção do IR e por financiar projetos de infraestrutura no país. Segundo Belitardo, os fundos com portfólio com emissões de risco baixo (ou seja, ratings entre A e AAA) e com uma volatilidade anual inferior a 2% devem ser priorizados pelos investidores.
“Destacamos ainda os fundos de multimercado em crédito privado que mesclam Bonds (títulos de crédito privado dos EUA) e debêntures com baixo risco de crédito. A queda dos juros nos EUA irá valorizar os bonds inseridos nesses fundos”, acrescenta o gestor da Hike Capital. Os ativos indexados à Selic também devem ser priorizados diante das projeções de alta da taxa de juros nos próximos anos. Já os ativos indexados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) devem ficar em segundo plano diante das projeções de queda da inflação no curto prazo.
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