Fundos da Reag investigados na Carbono Oculto movimentaram mais de R$ 1,2 bi em títulos do Banco Master
Especialistas ouvidos pelo Broadcast/E-Investidor dizem que as transações sugerem um movimento do banco para se financiar; a gestora alega que agiu de forma regular e o Master diz que é apenas um entre centenas de clientes da Reag
Operação Carbono Oculto investiga Reag Investimentos, na Faria Lima (Foto: Werther Santana/Estadão)
Um conjunto de operações feitas por dois fundos de investimentos da Reag – Hans 95, Reag Growth 95 – ajudou a dar um fôlego extra de ao menos R$ 1,2 bilhão ao Banco Master no ano passado, num momento em que a instituição financeira já começava a enfrentar problemas de liquidez. A Reag e os dois fundos apareceram na lista de alvos da operação Carbono Oculto, que investiga suspeitas de ocultação de patrimônio e relações com o crime organizado.
As transações dos fundos envolveram aplicações em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) do grupo. Naquele momento, o Master buscava novas alternativas de financiamento no mercado, depois de um aperto nas regras promovido pelo Banco Central (BC) para limitar a captação por meio de CDBs, até então a principal fonte de crescimento do banco de Daniel Vorcaro.
Procurado, o Master afirmou que a Reag é uma prestadora de serviços do banco e tem como atividades a gestão e a administração de fundos. “É uma entre outras entidades financeiras que prestam serviços nesta atividade. O Master é apenas um entre centenas de clientes da Reag”, diz. Em comunicado à imprensa, a Reag alega que “agiu de forma regular e diligente” nos fundos em que atuou como prestadora de serviços e disse estar colaborando com as autoridades. “A Reag permanece em estrita conformidade com as normas e exigências da lei e dos reguladores do sistema financeiro.”
O fundo que contabilizava o maior volume de recursos nas operações com o Master era o Reag Growth 95. No pico, registrado, em novembro de 2024, chegou a contabilizar R$ 1,28 bilhão em CDBs do Master na carteira de investimentos. Criado em 2020, o material de apresentação do fundo diz que seu objetivo é a aplicação em títulos emitidos por empresas controladas pelos fundadores do Will Bank. O Will Bank pertence ao Master.
Já o outro fundo sob gestão da Reag, também passou a investir nos CDBs do Master na mesma época. Em outubro de 2024, o Hans 25 chegou a deter R$ 123 milhões. Os dados foram levantados pela Elos Ayta Consultoria, a pedido da reportagem. Procurada, a Reag não comentou sobre os papéis do Master.
Especialistas ouvidos pelo Broadcast/E-Investidor dizem que as transações sugerem um movimento do banco para se financiar. “O Master deve ter buscado alternativas e procurado parceiros no mercado capazes de ajudá-lo”, afirma Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da PUC São Paulo.
Alexandre Ripamonti, professor de finanças e CO-Ceo da ARPC Forensic, que realiza perícia contábil em empresas, as operações estão fora das práticas comuns de mercado. “Uma participação superior a 10% do patrimônio de um fundo em títulos de um banco que passa por dificuldade financeira é estranho.”
CDBs acima do limite do FGC expõem fundos de pensão a perdas
A distribuição de CDBs com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi o que sustentou o crescimento acelerado do banco. Com promessas de ganhos acima do mercado e a garantia de que o FGC cobre eventuais perdas de até R$ 250 mil por CPF de investidor, o grupo atraiu milhares de investidores e levantou mais de R$ 40 bilhões em cinco anos.
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O rápido crescimento do banco, com um modelo baseado em ativos de risco e baixa liquidez, acendeu um alerta no regulador e motivou as mudanças no modelo de captação. As restrições forçaram o Master a buscar novos bolsos para se financiar.
Somente em 2024, o banco recorreu a fundos de pensão de servidores de Estados e municípios para levantar cerca de R$ 2 bilhões. Como mostrou a Broadcast/Estadão, a maior parte dessas operações com os títulos do banco viraram alvo de auditorias.
Assim como os títulos comprados pelos fundos de pensão (letras financeiras), os CDBs adquiridos pelos dois fundos de investimentos ficavam quase inteiramente fora da proteção do FGC, limitada a R$ 250 mil por aplicação e, portanto, não esbarravam nas restrições instituídas pelo Banco Central.
Isso significa que as aplicações detidas por esses fundos estavam expostas ao risco do banco num eventual cenário de dificuldades. Ou seja, numa eventual liquidação do banco, hipótese que chegou a entrar no radar das autoridades neste ano, as operações contratadas em 2024 gerariam perdas bilionárias aos fundos que aceitaram correr o risco de deter o papel numa época já delicada do banco.
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As dificuldades que o Master enfrentava para honrar os compromissos ficaram mais evidentes depois que o Banco de Brasília (BRB) anunciou, em março, a intenção de comprar uma fatia do banco de Daniel Vorcaro. Enquanto o processo de aprovação se arrasta e enfrenta resistências, o Master precisou recorrer a linhas emergenciais bilionárias do FGC para fazer frente aos vencimentos.
No desenho feito para facilitar a aprovação do negócio entre BRB e Master, a previsão é que a fatia dos CDBs acima de R$ 250 mil, sem garantia do FGC, devam ser honrados pelo Banco de Brasília.