Com as tarifas de Donald Trump em vigor, carteiras defensivas de agosto de 2025 buscam empresas menos expostas ao mercado externo, com foco em demanda interna previsível e baixo grau de importação. (Foto: Adobe Stock)
Com tarifas de até 50% sobre exportações brasileiras para os Estados Unidos, juros mantidos em 15% ao ano e um dólar que insiste em operar com volatilidade, o investidor brasileiro se vê pressionado por todos os lados. A busca por proteção ganha fôlego em agosto, mês que para os analistas já carrega a fama de instabilidade, e reposiciona os olhos do mercado para a carteira defensiva, que dá prioridade em 2025 a setores menos expostos às turbulências externas e à demanda internacional.
As novas tarifas sobre exportações brasileiras impostas por Donald Trump, que voltou à presidência dos EUA com uma agenda de forte protecionismo, afetam 35,9% das exportações brasileiras ao país, incluindo café, frutas e carnes. Ficaram de fora commodities energéticas, minérios, celulose e aeronaves civis, que continuam isentas de sobretaxas e devem manter vantagem competitiva.
A decisão do governo Trump – que alega retaliação a medidas desfavoráveis às grandes empresas norte-americanas de tecnologia (big techs) e ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – impacta diretamente empresas exportadoras brasileiras, sobretudo as listadas na Bolsa de Valores. Com parte dos produtos ficando mais caros para os consumidores americanos, setores como agropecuária, frigoríficos e maquinário pesado já sentem os primeiros efeitos nos preços das ações.
O ambiente local também não contribui para a tranquilidade. No fim do mês passado, o Banco Central (BC) optou por manter a taxa Selic em 15% ao ano, justificando a decisão com base no risco fiscale na trajetória incerta da inflação. O dólar, por sua vez, continua a oscilar, refletindo tanto a aversão ao risco nos mercados emergentes quanto a deterioração das relações comerciais com os EUA.
Nesse contexto, o investidor começa a olhar com mais atenção para empresas menos expostas ao mercado externo e que geram receitas em reais, com foco em demanda interna previsível e baixo grau de importação. A principal vitrine desse movimento são os setores de energia elétrica, saneamento básico e o financeiro, segundo especialistas.
Setores e empresas para carteiras defensivas em agosto
Ações de utilities(serviços essenciais) como fornecedoras de energia e companhias de saneamento básico ganham destaque por dependerem quase exclusivamente do mercado interno, observa Felipe Paletta, estrategista da EQI Research. Além de operarem com receitas reguladas e previsíveis, essas companhias tendem a ser menos impactadas por choques cambiais e por efeitos indiretos da inflação, o que aumenta seu apelo em momentos de incerteza externa, como o atual.
Setores de serviços essenciais, como o de energia elétrica, ganham relevância em carteiras de ações defensivas pela previsibilidade de receita. (Foto: Usina hidrelétrica Barra Bonita / Adobe Stock)
Isso vale, especialmente, após o alívio proporcionado pela revisão das tarifas americanas, que acabaram excluindo setores-chave da economia brasileira da cobrança adicional, como siderúrgicas, mineradoras e até de aeronaves, que inicialmente apareciam entre os produtos mais prejudicados.
“O que a gente viu nas semanas seguintes ao anúncio foi uma lista de isenções, que poupou setores relevantes da Bolsa. Isso acabou reduzindo o impacto inicial sobre empresas como Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4) e Embraer (EMBR3), que agora estão mais protegidas”, diz Paletta.
Mesmo assim, o especialista alerta que nem todas escaparam. No caso da JBS (JBSS3), que segue dentro da lista de setores atingidos, a presença consolidada da empresa nos Estados Unidos pode, paradoxalmente, servir de escudo. “A operação já estruturada lá fora permite à companhia absorver melhor o impacto tarifário. Por isso, JBS continua sendo uma alternativa defensiva em comparação com pares nacionais mais expostos”, destaca.
Já os bancos, com forte exposição doméstica, enfrentam riscos específicos. Isso porque, de acordo com Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos, a ampliação da chamada Lei Magnitsky, que permite sanções a empresas envolvidas com violações de direitos humanos e corrupção, pode criar entraves para instituições financeiras com operação no exterior, principalmente se forem obrigadas a rever parcerias internacionais em função de pressões do governo americano.
“Praticamente todos os grandes bancos brasileiros têm operações no exterior. Se forem pressionados por sanções mais amplas lá fora, podem ser obrigados a adotar restrições também no Brasil, o que poderia gerar dificuldades para essas instituições no curto prazo e, consequentemente, para o investidor”, diz Coelho.
Varejo brasileiro pede cautela do investidor
Outro setor que desperta atenção moderada é o de alimentos básicos e bens de consumo essencial. Empresas de farináceos, biscoitos e itens de mercearia, com produção e distribuição concentradas no Brasil, podem se beneficiar de uma população ainda com consumo forte, mesmo diante dos juros altos. A ressalva, no entanto, está na possível pressão de custos caso o dólar se mantenha elevado, já que muitos insumos são precificados em moeda estrangeira.
“O varejo interno também está no radar, mas inspira mais cautela. Grandes redes que importam parte do portfólio, como eletrodomésticos e produtos eletrônicos, devem ser penalizadas nos próximos meses por um real mais fraco, além da já conhecida sensibilidade do setor ao crédito caro e ao consumo reprimido”, diz o economista e especialista em mercado internacional, Paulo Godoi Filho.
Riscos e recomendações para investir com proteção
Coelho observa que alguns investidores têm escolhido empresas potencialmente tarifadas como uma aposta de que, se Trump voltar atrás ou a situação arrefecer, haverá um ganho relevante. Para o economista, esse método não serve para todos: trata-se de uma tomada de risco alinhada ao perfil mais agressivo.
“O investidor que quer tomar mais risco pode fazer essa aposta. O investidor que quer algo mais defensivo, mais estável, deveria ficar longe nesse momento de empresas que estão muito expostas a um custo alto em dólar e não a uma receita alta em dólar, e, principalmente, exposição de forma direta aos Estados Unidos por meio das suas exportações”, explica.
Antes das isenções, havia a percepção de que empresas com atuação internacional ganhariam espaço relativo na Bolsa em detrimento das mais dependentes do mercado interno, sobretudo aquelas afetadas pelo dólar alto e pelo consumo pressionado pelos juros elevados. Agora, com o recuo da tarifa para parte dos setores, especialistas explicam que esse efeito tende a se diluir parcialmente.
Para Paletta, a leitura que fica é a de que o investidor precisa observar os movimentos de curto prazo provocados pelo câmbio ou por medidas comerciais, mas também entender os fundamentos de longo prazo dos ativos. “O tarifaço virou manchete, mas o pano de fundo é mais amplo: ele acentua a busca por proteção de carteiras e previsibilidade em um ambiente de juros altos e inflação ainda sensível. E quem conseguir enxergar valor nos setores menos expostos a essa turbulência pode sair na frente”, explica.
O que ter na carteira de investimentos em agosto
Carteiras defensivas buscam também proteção contra a volatilidade do dólar após as tarifas dos EUA contra o Brasil entrarem em vigor. (Foto: Adobe Stock)
Com tarifas sobre exportações, juros elevados e dólar volátil, a EQI Research montou uma carteira defensiva para o mês de agosto, focada na proteção do investidor. A seleção dá prioridade a empresas com receitas estáveis, exposição limitada ao mercado externo e boa geração de caixa. Setores como energia, saneamento, consumo essencial e bancosganham destaque na composição.
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A ideia é reduzir os impactos das incertezas econômicas sem abrir mão de bons retornos. Entre os principais nomes estão Eletrobras(ELET3; ELET6) , Itaúsa(ITSA4) e JBS, com potencial de valorização acima de 40%. É uma estratégia de defesa com oportunidade.