- As eleições de 2022 são vistas com cautela pelo mercado, que prevê um cenário de polarização entre o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o atual chefe do executivo, Jair Bolsonaro (PL), caso um único nome da chamada “terceira via” não se firme. Entre estes, despontam alguns nomes, como o de Ciro Gomes (PDT), João Dória (PSDB) e Sergio Moro (Podemos)
- Para Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, o pleito poderá trazer impactos para o desempenho tanto da renda fixa como da variável, considerando-se o que aconteceu no final de 2021, quando o mercado reagiu de forma bastante negativa e com muita volatilidade, em sua leitura, ao descompromisso fiscal por parte do governo Bolsonaro, com o aumento dos gastos públicos
- Diversificar onde aportar o dinheiro para aguardar lucro pode não ser tão simples como se recomenda no mercado, na opinião de Leandro Vasconcellos, CFP, sócio e chefe da área de alta renda da BRA. Isso porque, segundo ele, diversificação não tem necessariamente a ver com a quantidade de investimentos
Começar uma atividade física, aprender um instrumento musical, estudar outra língua. É quase infinita a lista de promessas e desejos para a qual se voltam as atenções quando um novo ano se aproxima. E é provável que, para concretizar esses planos, seja necessário ter um planejamento financeiro. A depender do objetivo, os investimentos podem ser uma alternativa. Mas como escolher os melhores produtos para aplicar o dinheiro?
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Especialistas ouvidos pelo E-Investidor citam algumas possibilidades de como as pessoas, a depender do perfil de investidor, podem montar uma carteira de investimentos. Seja na renda fixa ou na renda variável, existe uma gama de produtos que podem variar de acordo com a tolerância a risco nas aplicações.
Mas antes de lançar suas apostas sobre o quanto conservadores, moderados e arrojados podem dividir os investimentos, as fontes consultadas pela reportagem falam sobre o efeito do do cenário político em 2022, e comentam também sobre detalhes que não deveriam, mas podem gerar confusão na cabeça do investidor, como diversificação e perfil de risco.
Riscos aumentam em ano de eleição?
As eleições de 2022 são vistas com cautela pelo mercado, que prevê um cenário de polarização entre o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o atual chefe do executivo, Jair Bolsonaro (PL), caso um único nome da chamada “terceira via” não se firme. Entre estes, despontam alguns nomes, como o de Ciro Gomes (PDT), João Dória (PSDB) e Sergio Moro (Podemos).
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Para Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, o pleito poderá trazer impactos para o desempenho tanto da renda fixa como da variável, considerando-se o que aconteceu neste ano, quando o mercado reagiu de forma bastante negativa e com muita volatilidade ao descompromisso fiscal por parte do governo Bolsonaro, que aumentou os gastos públicos.
“Ao mesmo tempo, se em algum momento o mercado interpretar que existe uma chance maior de um candidato pró-mercado ganhar as eleições, esses ativos podem ter uma excepcional performance”, pondera Villegas.
Diversificação é a melhor alternativa?
Diversificar os investimentos para aguardar lucro pode não ser tão simples como se recomenda no mercado, na opinião de Leandro Vasconcellos, CFP, sócio e chefe da área de alta renda da BRA. Isso porque, segundo ele, diversificação não tem necessariamente a ver com a quantidade de aplicações.
“É muito comum encontrarmos investidores com um número enorme de fundos de investimentos, ações e títulos, mas que não necessariamente estão diversificados. Não adianta você ter 20 fundos de investimentos diferentes se eles investem de forma parecida e nas mesmas classes de ativos”, diz Vasconcellos.
“O grande benefício da diversificação é ter ativos que possam compensar uns aos outros em momentos de queda. Se todos caem ao mesmo tempo e na mesma proporção, não há diversificação”, completa.
Existe ativo proibido para um perfil de investidor?
Conservador, moderado e arrojado. Essas três concepções clássicas de perfil de investidor, que variam de acordo com a capacidade de se expor a risco de prejuízo ao aplicar o dinheiro em algum produto financeiro.
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Para o sócio da BRA, essas definições de perfil mais clássicas não deveriam limitar o acesso dos investidores “a nenhuma classe de ativos”, além do mais “não existe um percentual mágico de alocação em cada tipo de investimento que funcione como uma receita de bolo”.
“Não é porque o cliente é conservador que ele não possa ou que não deva ter ações, por exemplo. Um investidor conservador pode ter ações e ativos mais arriscados na carteira, só que em proporção muito menor do que o investidor arrojado”, diz.
Segundo Vasconcellos, o ponto chave para decidir se uma carteira deve ou não contar com ativos mais arriscados é a tolerância do investidor à perda. “Se um investidor conservador não se importa em arriscar 2% de seu patrimônio em busca de retornos maiores, faz sentido que ele tenha ativos mais voláteis mesmo sendo conservador”, afirma.
Afinal, como dividir os recursos?
Ao lançar o olhar para 2022, Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, sugere que um investidor conservador poderia alocar seu portifólio da seguinte forma: 100% em renda fixa, sendo cerca de 95% em títulos pós-fixados (CDB, LCI, LCA e Tesouro Selic) e 5% em títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA, crédito privado ou fundo que compra títulos IPCA).
Já o moderado poderia ter em torno de 30% em renda fixa pós-fixada, que é mais conservadora, 20% em títulos pré-fixados (atrelados à inflação), e os outros 50% divididos em renda variável do Brasil (10%), renda variável global (10%) e fundos multimercados (30%).
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Por fim, o perfil agressivo poderia aplicar cerca de 20% em renda fixa e dividir o restante entre renda variável do Brasil (50%) e renda variável global (30%). Por renda variável do Brasil, ele destaca os ETFs (fundos de índices, como o PIB ou o BOVA). Na renda variável internacional, além de ETFs, ele cita os fundos de BDRs.
Devido ao cenário de difícil previsão em 2022, o estrategista da Genial sugere alocação em ativos mais conservadores, seja na parte de renda fixa como também na renda variável.
Já na parte renda fixa, segundo Villegas, o investidor mais conservador deve focar em títulos pós-fixados, que vão acompanhar a subida da taxa de juros esperada para acontecer no próximo ano.
“Se esse investidor quiser fazer alguma alocação em ações, que essas ações sejam de grande liquidez, de empresas com receitas dolarizadas e que tenham independência do cenário macroeconômico do Brasil, bem como os papéis de baixa volatilidade, que são amplamente reconhecidos pelo mercado pela sua qualidade e capacidade de entrega de resultados, mesmo em um ambiente econômico desafiador”, diz Villegas.
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Em uma carteira aproximada, ele divide os perfis da seguinte forma:
- Conservador: cerca de 90% em renda fixa e entre 5% e 10% em renda variável;
- Moderado: 70% em renda fixa e 30% em renda variável;
- Arrojado: 60% em renda fixa e 40% em renda variável (ou até 50% em cada uma).
“Quem quiser colocar uma pitada de risco, olhando para a renda fixa, pode colocar ativos pré-fixados ou indexados à inflação. Na renda variável, essa pitada de risco poderia vir de ações que hoje estão com desempenhos bem abaixo da média”, diz o estrategista da Genial.
Outras possibilidades
Para Vasconcelos, da BRA, as carteiras poderiam se configurar próximas das seguintes configurações:
Conservadora
- Juros pós-fixados – 50% a 70%;
- Juros prefixados – 10% a 20%;
- Títulos atrelados à inflação – 10% a 20%;
- Fundos multimercados – 10% a 20%;
- Ações do Brasil – 0% a 5%
- Ativos alternativos* – 0% a 2%
- Ações internacionais – 0% a 5%
Moderada
- Juros pós-fixados – 30% a 40%;
- Juros prefixados – 20% a 30%;
- Títulos atrelados à inflação – 20 % a 30%;
- Fundos multimercados – 20% a 30%;
- Ações do Brasil – 10% a 30%;
- Ativos alternativos* – 0% a 5%;
- Fundos imobiliários – 0% a 10%;
- Ações internacionais – 10% a 30%;
Arrojada
- Juros pós-fixados – 10% a 30%;
- Juros prefixados – 20% a 30%;
- Títulos atrelados à inflação – 10 % a 40%;
- Fundos multimercados – 20% a 40%;
- Ações do Brasil – 15% a 60%;
- Ativos alternativos* – 5% a 10%;
- Fundos imobiliários – 0% a 15%;
- Ações internacionais – 15% a 60%;
*Por ativo alternativo, Vasconcellos se refere a criptomoedas, ouro e demais ativos internacionais menos difundidos no Brasil.