

A notícia de que o Banco de Brasília (BRB) anunciou a intenção comprar uma fatia do Banco Master chamou a atenção do mercado no final de março. Pouco mais de duas semanas depois, muitos questionamentos ainda cercam o negócio e a sua estrutura final. De lá para cá, as duas instituições divulgaram os seus balanços de 2024, intensificaram as conversas com entidades do setor financeiro e redobraram a atenção de investidores, especialmente em relação aos riscos dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) que cada banco oferece.
Na última sexta-feira (11), os presidentes do Master, Daniel Vorcaro, e do BRB, Paulo Henrique Costa, se reuniram com dois diretores do Banco Central: o de Fiscalização, Ailton Aquino, e o de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Gomes. O encontro – que não estava previsto na primeira versão da agenda do BC, divulgada na noite de quinta-feira (10) – ocorreu de 10h às 12h. Pouco antes, de 9h às 10h, Vorcaro também se reuniu com o presidente do BC, Gabriel Galípolo.
Anteriormente, no dia 5 de abril, Galípolo já havia se encontrado com representantes dos maiores bancos privados do País para para discutir as implicações da possível aquisição do Banco Master pelo BRB.
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Como mostrou o Estadão, está na mesa uma proposta que prevê o uso de uma linha emergencial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O instrumento daria ao comprador do Master o fôlego necessário para que a instituição conseguisse honrar suas obrigações de curto prazo. Vale lembrar que a operação de compra já foi aprovada por unanimidade pelo conselho do BRB, mas ainda precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do BC.
Master e BRB divulgam seus balanços
Em meio às negociações, os bancos divulgaram seus balanços de 2024. Na última quinta-feira (10), o BRB informou que encerrou o último ano com lucro líquido recorrente de R$ 282 milhões, representando um crescimento de 40,9% em relação a 2023. O resultado operacional do banco alcançou R$ 385 milhões no ano, aumento de 149,5%.
A carteira de crédito atingiu R$ 43,1 bilhões, um avanço de 20,2% ante 2023. No segmento pessoa física, a carteira registrou um aumento de 19%, impulsionada pelo crescimento do crédito consignado, que expandiu 27%. A carteira imobiliária, por sua vez, passou a representar 27,9% do total da carteira de crédito, um aumento de 2,1 pontos percentuais no período. Após a divulgação dos resultados, na quinta-feira, as ações do BRB (BSLI3) chegaram a saltar mais de 10%, mas depois encerraram em queda acima de 4%.
Dias antes, o Master também havia divulgado o seu balanço de 2024, quando reportou um lucro líquido de R$ 1,068 bilhão. O resultado representa um crescimento de 100,75% em relação ao lucro registrado em 2023, que havia sido de R$ 532 milhões. Os ativos de crédito somaram R$ 40,31 bilhões, comparados aos R$ 24,456 bilhões do ano anterior.
As principais fontes de captação do Master, os depósitos a prazo mais depósito interfinanceiros, somaram R$ 49,859 bilhões em 2024, enquanto o montante do ano anterior havia sido de R$ 30,5 bilhões. Como o último balanço do FGC mostra que o fundo tem R$ 107,8 bilhões para socorrer os correntistas e cobrir os depósitos garantidos, em caso de quebra, os produtos do Master consumiriam cerca de 46,25% do patrimônio líquido do FGC, cujo limite de cobertura é de R$ 250 mil por CPF por instituição financeira.
Risco do CDBs do BRB deve ficar maior?
Enquanto mais detalhes da operação ainda não forem revelados, para especialistas ouvidos pelo E-Investidor, a tendência é de que os CDBs do BRB permaneçam ofertando as mesmas taxas. “Cada uma das instituições financeiras tem uma estratégia de captação. Como bem sabido pelo público do mercado, o Master segue uma linha mais ‘agressiva’ do que a do BRB para captar recursos, remunerando o investidor de varejo com taxas extremamente atrativas quando comparadas aos bancos mais tradicionais”, afirma Lucas Ghilardi, sócio da The Hill Capital.
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Um levantamento da Quantum Finance revelou que, em 2025, os títulos emitidos pelo Master lideram o ranking de rentabilidade entre os CDBs atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Até março, os produtos ofereciam retorno de 120% do CDI. No começo de abril, porém, a instituição iniciou um movimento de redução nas taxas dos seus CDBs, como mostramos aqui.
No mercado secundário – ambiente onde investidores negociam os ativos entre si e não mais com a companhia emissora –, o cenário ainda é de altas taxas. Nesta matéria, revelamos como é possível encontrar um CDB do Master a 160% do CDI nesse mercado, em um movimento das plataformas para evitar que os ativos fiquem parados em caixa e atrair investidores com retornos mais altos.
Quanto aos riscos ao BRB, Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, avalia que o banco mantém uma posição sólida no mercado financeiro, sendo uma instituição controlada pelo governo do Distrito Federal. “Dessa forma, a aquisição dos ativos do Banco Master pode ser vista como uma estratégia para expandir sua base de clientes e fortalecer sua presença no setor bancário”, pontua.
No começo de abril, as agências de classificação de risco Fitch e S&P colocaram as notas de crédito (ratings) do BRB em observação, devido ao anúncio da compra do Master. Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno, acredita que as taxas oferecidas pelos produtos financeiros do Banco de Brasília devem seguir comportadas, mantendo o padrão que já é adotado atualmente pela instituição.
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“Ainda existe uma indefinição sobre qual será a estrutura final dessa possível incorporação do Master pelo BRB. Não sabemos, por exemplo, quais ativos de fato serão integralizados e se a carteira de crédito do BRB vai sofrer alguma alteração relevante. Diante disso, é difícil falar se o risco vai aumentar ou não. Ao que tudo indica, o BRB não tem a intenção de adquirir a parte problemática do Master e somente aqueles ativos considerados de qualidade”, afirma.
Como ficam os CDBs do Master?
Após o anúncio da proposta de compra pelo BRB, o Master já começou a reduzir as taxas dos CDBs emitidos pela instituição. Para os títulos prefixados, a diminuição foi de pelo menos 0,3 ponto percentual em todos os prazos de vencimento. Já os pós-fixados tiveram corte de até 3 pontos percentuais.
Na avaliação de Nayra Sombra, planejadora financeira CFP pela Planejar, com a aquisição pelo BRB, é esperado que o Master se beneficie da estrutura de captação mais estável do Banco de Brasília, possivelmente resultando em uma redução nas taxas oferecidas aos investidores. “Além disso, a associação com uma instituição pública pode conferir maior credibilidade e percepção de menor risco aos produtos do Master”, pontua.
Almeida, da Suno, concorda que as taxas oferecidas pelo Master devem convergir cada vez mais para aquelas observadas no BRB, se a operação de compra for aprovada. “O Banco de Brasília tem uma carteira de crédito mais conservadora e, estando no mesmo conglomerado, o Master acabará apresentando uma estrutura alinhada à estratégia que o BRB carrega. Porém, ainda existe uma grande incerteza de como essa operação vai se dar.”
Para Milton Rabelo, analista de investimentos da VG Research, a eventual concretização da compra do Master pelo BRB tem “problemas morais sérios” e incentiva expansões agressivas – e não necessariamente responsáveis – por parte de bancos de médio porte. “Do ponto de vista do Master, no entanto, existe uma possível descompressão de risco. Mesmo que a eventual compra seja moralmente controversa, ela pode diminuir a percepção do nível de insegurança do banco”, avalia.
Vale investir nos CDBs do Master e do BRB?
Em meio ao cenário de incertezas com o desenrolar das negociações, a recomendação principal é que os investidores aguardem maiores detalhes da operação antes de investirem nos CDBs das instituições. “O mais aconselhado, com certeza, devido à enxurrada de notícias negativas acerca da compra, seria aguardar as definições do Banco Central, que tem até 360 dias para aprovar a operação”, alerta Ghilardi, sócio da The Hill Capital.
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Durante o período de indefinições, Sombra, da Planejar, acredita que podem ocorrer mudanças nas estratégias de captação e nas taxas oferecidas por ambos os bancos. “Para investidores que buscam estabilidade e previsibilidade, pode ser prudente aguardar a conclusão do processo de aquisição e a definição das novas diretrizes operacionais antes de investir em CDBs dessas instituições.”
O mesmo conselho é dado por Almeida, da Suno. A casa já tinha uma visão mais cautelosa para o Master, mas observava com otimismo o BRB, devido à qualidade da sua carteira de crédito e à previsibilidade da sua receita. Agora o cenário mudou. “Diante das incertezas em relação à estrutura final da instituição que será formada, temos pedido cautela por parte dos investidores, até mesmo porque existem outras diversas alternativas no mercado com um risco mais controlado”, conclui.