

Desde que a compra do Banco Master pelo BRB foi barrada pelo Banco Central (BC) em setembro, os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) da instituição dispararam no mercado secundário, ambiente em que investidores negociam ativos entre si.
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Desde que a compra do Banco Master pelo BRB foi barrada pelo Banco Central (BC) em setembro, os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) da instituição dispararam no mercado secundário, ambiente em que investidores negociam ativos entre si.
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Na quarta-feira (17), por exemplo, os CDBs com prazo de vencimento para junho do ano que vem pagavam prêmios de 181,5% do CDI na plataforma da XP Investimentos. Já os prefixados com vencimento para outubro de 2026 ofereciam juros de 23% ao ano.
Esse nível de rentabilidade indica aumento da percepção de risco dos investidores em relação aos títulos. Procurado, o Master não respondeu aos questionamentos da reportagem.
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A estratégia agressiva de captação do Banco Master chama a atenção do mercado há meses. Segundo dados do BC, em março deste ano o banco tinha R$ 58,4 bilhões em depósitos bancários a prazo.
A dívida é alta para uma instituição financeira de médio porte, principalmente considerando as taxas de até 140% do CDI. Para efeito de comparação, a XP tem um volume de emissão menor, de R$ 57,3 bilhões nessa modalidade, assim como o Inter (R$ 42,1 bilhões) e o BRB (R$ 37,6 bilhões).
Além disso, o montante de CDBs do Master equivale a metade da liquidez do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), órgão que garante o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF em cada instituição, em caso de falência dos emissores dos produtos financeiros.
Essa situação fez com que a proposta de compra de uma fatia do Master pelo estatal BRB – Banco de Brasília – fosse encarada pelo mercado como uma operação de salvamento. A perspectiva era de que, se aprovada a transação, o BRB ficasse responsável por pagar os CDBs acima do limite do FGC.
Contudo, a negativa do BC jogou água fria nessa perspectiva e alimentou os temores de que seria necessária uma liquidação extrajudicial da instituição ou intervenção pelo Banco Central.
“Como consequência, houve uma pressão vendedora massiva de CDBs do Master no mercado secundário, criando uma distorção onde papéis já emitidos passaram a oferecer taxas superiores às de novas emissões do próprio banco”, afirma Milene Dellatore, especialista em investimentos e diretora da MIDE Mesa Proprietária.
Em outras palavras, uma parcela dos investidores que está com esses CDBs no portfólio tem buscado vender os títulos antes do vencimento. Contudo, o risco é considerado alto e, para comprar, o mercado exige um prêmio maior e um desconto no preço.
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“Muitos investidores querem abandonar o barco e vender os seus CDBs do Master no mercado secundário, o que aumenta a oferta desses papéis e força o preço para baixo, elevando a taxa exigida para atrair compradores”, diz Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, é preciso ter cautela porque os riscos relacionados aos CDBs do Master não são desprezíveis, mesmo para quem pretende investir dentro do limite de cobertura do FGC.
“Essa alta dos juros é, na verdade, um sinal de desconfiança”, pontua Gustavo Moreira, planejador financeiro e MBA em Finanças pela Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças (FBNF).
Em um cenário de intervenção ou liquidação do Master, por exemplo, parte do retorno prometido pode não ser pago. Pela regra, o FGC paga o montante investido e os rendimentos até a data da intervenção ou liquidação, desde que sejam inferiores a R$ 250 mil.
Também pode ser difícil se desfazer dos CDBs antes do vencimento, a não ser que o investidor aceite perder parte do capital em deságio.
Para Patzlaff, só vale investir em CDBs do Master se o investidor não vai precisar do dinheiro no curto prazo, se o capital aportado está dentro do limite de cobertura do FGC, incluindo rendimentos, e se o valor não vai comprometer a estabilidade financeira. “Se qualquer um desses pontos estiver fora, talvez seja melhor optar por alternativas menos arriscadas, mesmo que rendam menos”, afirma.
Para quem já tem esses CDBs na carteira, vale a análise sobre a melhor rota a seguir. De acordo com Dellatore, da MIDE Mesa Proprietária, se o investidor está acima do limite do FGC, vender os títulos, mesmo com deságio, pode ser o melhor caminho para preservar uma parte maior do capital.
“Este episódio serve como um forte lembrete da importância da diversificação. Distribuir os investimentos por diferentes emissores (bancos de portes e ratings variados), indexadores e classes de ativos é a principal ferramenta para mitigar riscos idiossincráticos como o que afeta o Banco Master atualmente”, afirma Dellatore.
Desde setembro, quando o BC vetou a operação BRB-Master, o banco de Daniel Vorcaro não registra emissão primária de CDBs, segundo levantamento feito pela ComDinheiro a pedido do E-Investidor. A última emissão ocorreu em agosto, com CDBs com prazo de vencimento em 24 meses e taxas de 105,71% do CDI.
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No acumulado do ano, há poucos registros de emissões primárias. Isso indica que poucos players institucionais (que exigem esse tipo de registro em base pública) têm comprado novas emissões do Banco Master.
“É interessante notar a ausência de novos registros durante o mês de setembro. Muito provavelmente a rejeição do BC à venda do banco ao BRB eleva a percepção de risco dos institucionais, que estão evitando novos investimentos no banco”, afirma Gustavo Gukovas, diretor de Operações da ComDinheiro/Nelogica.
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