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O bitcoin e o ouro são bem distintos. Enquanto o BTC entra na categoria investimento de alto risco, o metal precioso é considerado pelo mercado como ativo de reserva, ideal para momentos de alta volatilidade ou de incertezas macroeconômicas. Apesar das diferenças conceituais, ambos têm apresentado algo em comum nos últimos dias: renovaram as suas máximas históricas em menos de um mês.
O desempenho recente em um período de alta volatilidade nos mercados em função das incertezas macroeconômicas torna os Certificados de Operações Estruturados (COEs), que unem os dois investimentos em uma mesma estratégia, atrativos para o portfólio. Desde o início de outubro, corretoras e bancos de investimentos disponibilizaram aos seus clientes a possibilidade de incluir COEs de bitcoin + ouro na carteira, com aportes iniciais de R$ 1 mil.
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Os prazos de investimento para os produtos variam de acordo com o emissor. Na XP, as alocações encerram às 9h desta terça-feira (28), com previsão de vencimento para novembro de 2030. Já a oferta do BTG Pactual acabou no último dia 14 às 14h, enquanto o seu vencimento está previsto para outubro de 2028.
Segundo a lâmina (documento que reúne as principais informações do investimento) dos COEs, a exposição aos dois ativos acontece da seguinte proporção: 70% da cesta estarão expostas ao iShares Bitcoin Trust ETF, fundo índice da gestora BlackRock que acompanha o desempenho do BTC, e 30% ao ETF SPDR Gold Shares (Ouro), que replica o desempenho do preço do ouro em barras.
O produto ainda oferece ganho ilimitado – ou seja, não há teto para rentabilidades positivas – e capital protegido para cenários de retornos negativos. Em tese, esta última condição garante aos investidores a devolução do valor nominal do investimento na data de vencimento do título.
A combinação de todos esses elementos ajudam a apresentar o produto como ativo ideal para o investidor que deseja incluir bitcoin na carteira, mas teme a volatilidade do mercado cripto.
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Teoricamente, se existe um proteção do capital alocado, não há risco de sair no prejuízo caso o bitcoin enfrente ciclo de baixa até a data do resgate. Afinal, além dessa condição, o COE conta com a “escudo” do ouro para amenizar os solavancos do BTC.
Como mostramos nesta reportagem, em apenas 13 sessões de outubro, o ouro registrou recordes em oito delas. O último recorde aconteceu no dia 17 de outubro, quando a commodity atingiu um novo patamar histórico a US$ 4.392 a onça troy.
Esta linha de raciocínio, no entanto, deixa de fazer sentido quando se consideram as outras variáveis presentes nas ‘letras miúdas’ do certificado. Essas informações são essenciais para proteger os investidores de surpresas inesperadas, semelhantes aos COEs da Ambipar (AMBP3) que sofreram uma liquidação de 93%. Por isso, o E-Investidor consultou especialistas para entender cada detalhe desta oferta para esclarecer aos investidores se o COE bitcoin + ouro merece espaço no portfólio. Confira.
A condição de capital protegido oferece a premissa de que o investidor não terá prejuízo caso o bitcoin sofra desvalorizações relevantes ao longo do período de duração do COE. No entanto, as ‘letras miúdas’ desses produtos destacam que, em caso de retornos negativos, o investidor recebe o seu valor investido na data de vencimento do título, mas sem correção monetária. Em outras palavras, terá ganho sem o mesmo poder de compra no dia da alocação.
Esse detalhe pode fazer uma diferença significativa no bolso do investidor. No caso da oferta XP, o COE bitcoin + ouro exige uma aplicação mínima de R$ 1.000, com uma previsão de resgate em novembro de 2030. Caso os ativos atrelados ao produto tenham uma performance negativa, o valor inicial do investimento na data do resgate terá um valor real de aproximadamente R$ 802,45. Ou seja, o investidor sofre um “prejuízo” de R$ 197,55.
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Os cálculos de Henrique Soares, planejador financeiro CFP pela Planejar, consideraram uma inflação média anual de 4,5%. O percentual, segundo ele, está alinhado às metas do Banco Central (BC) e às projeções atuais do mercado. “Esse é um ponto central dos COEs com capital protegido. Embora o nome “capital garantido” transmita uma sensação de segurança, é fundamental entender que não há garantia de rentabilidade real”, acrescenta o planejador.
O resultado, no entanto, seria bem diferente se a mesma aplicação estivesse em um ativo que acompanhasse os rendimentos do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), referência de retorno mínimo exigido pelos investidores para qualquer investimento. Ainda de acordo com a simulação de Soares, o retorno final seria de aproximadamente R$ 1.648,72. Se considerarmos a inflação, o valor real desse retorno chega a R$ 1.323,02. “Ou seja, mesmo com efeito inflacionário, o investidor teria um ganho real de mais de 32% sobre o valor inicialmente aplicado”, ressalta.
Uma vez na carteira, resta ao investidor aguardar a data de vencimento do COE para ter o seu dinheiro de volta. O Documento de Informações Essenciais (DIE) das ofertas da XP e BTG Pactual esclarece que não há possibilidade de resgate antecipado, a não ser que haja um acordo entre os investidores e o emissor do COE.
Nesta situação, caberá ao emissor determinar o valor de resgate ou recompra, mas sem se limitar ao valor de mercado, à performance dos ativos que são lastro do COE e às taxas de juros viventes. “Nenhuma das partes se comprometem a promover o resgate ou a recompra do COE e, ainda que ocorra, não há garantia de que o investidor receba o montante nominal investido ou a rentabilidade estabelecida neste DIE”, destaca o DIE da oferta da XP.
Já no DIE do COE do BTG Pactual, o vencimento ocorrerá caso os ETFs iShares Bitcoin Trust ETF e ETF SPDR Gold Shares sejam descontinuados pelo mercado. Nessas situações, o banco não garante aos investidores que o cálculo efetuado para a liquidação resultará no mesmo valor do investimento inicial.
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Apesar do risco, Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, avalia que as chances dos fundos de índice serem descontinuados no mercado são baixas. Isso porque o iShares Bitcoin Trust ETF, principal lastro do certificado, é gerido pela BlackRock, maior gestora de ativos do mundo.
É improvável que o fundo deixe de existir ou perca cotação, a menos que o mercado global de criptomoedas sofra uma mudança regulatória extrema, diz Patzlaff.
A decisão de incluir os COEs de bitcoin + ouro no portfólio vai depender do apetite a risco de cada investidor. Para Patzlaff, esses produtos são mais adequados a investidores com perfil mais arrojado. Ou seja, que estão dispostos a correr risco elevado em troca de rentabilidades elevadas no longo prazo. “A mistura (bitcoin e ouro) cria um uma estrutura diferenciada, na minha visão, porque o bitcoin traz a chance de alta expressiva e o ouro ajuda a suavizar as quedas”, avalia o especialista.
Vale destacar que, embora seja um ativo bastante volátil, o BTC permanece em um ciclo de alta nos últimos 18 meses. Em janeiro do ano passado, quando os ETFs de bitcoin à vista foram lançados nos Estados Unidos, o ativo digital renovou a sua máxima histórica antes da realização do halving, evento sazonal que reduz a oferta da criptomoeda no mercado. Os produtos se tornaram a principal porta de entrada dos investidores institucionais no mercado cripto e, desde o seu lançamento, já atraíram mais de US$ 50 bilhões.
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos também trouxe ventos favoráveis à criptomoeda. Desde a sua campanha, o republicano promete flexibilizar a regulação do setor. Ações recentes comprovaram o seu compromisso com a indústria. Em dezembro do ano passado, antes de tomar posse, o republicano indicou Paul Atkins ao cargo de presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (U.S. Securities and Exchange Commission, ou SEC, na sigla em inglês). O anúncio, na época, ajudou o BTC a romper, pela primeira vez, a marca dos US$ 100 mil.
Já em março, Trump determinou a criação de uma reserva de bitcoins que foram detidos pelo governo americano em processos legais. Para analistas, o decreto mostrou que a maior economia do mundo reconhece o BTC como ativo estratégico. A sucessão desses eventos permitiu à moeda digital renovar as máximas históricas sucessivas vezes ao longo de 2025. O salto mais relevante ocorreu no início de outubro, quando o BTC alcançou a cotação dos US$ 125 mil em meio às expectativas dos investidores com o ciclo de queda de juros nos Estados Unidos.
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Mesmo com o histórico e proteção do ouro, Patzlaff não recomenda uma exposição elevada neste tipo de produto por dois motivos: o alto risco do BTC que ainda está em fase de consolidação e pela incapacidade do investidor de reduzir ou liquidar a sua posição em ciclos oportunos.
Se o investidor quiser arriscar, prefira um percentual de valor que não fará falta, de 1% a 2% do seu capital total investido. Não faça loucuras com valores que não pode perder, acrescenta o especialista.
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