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- A Cannabis compõe um mercado bilionário que cresce rapidamente, mas fatores políticos impedem a liberação plena dos usos industriais e atrasam o desenvolvimento do setor.
- No Brasil, há apenas dois fundos ligados a esse mercado e disponíveis para o grande público investir.
Falar de cannabis exige cuidado. O tema desperta opiniões “calorosas”, quase sempre oriundas do uso recreativo. A polarização é tão grande que o estigma atinge até outros usos possíveis da planta, como o farmacêutico, o cosmético e o têxtil.
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Há países em que a carga moral sobre o assunto existe, mas não paralisa o setor. Dessa forma, o Estado regula e recolhe impostos, dando estímulos e segurança para o desenvolvimento de um mercado bilionário cuja expansão anima também investidores, seja em fundos ou empresas com capital aberto na bolsa de valores.
Mas e no Brasil, qual é a situação atual? É possível investir em Cannabis? Faz sentido optar por esse setor em um país marcado pela lentidão de pautas mais conservadoras?
Conheça o mercado da Cannabis
A cannabis está entre os pontos mais controversos do debate social: o peso que se dá à palavra “maconha” é suficiente para apresentar o lugar que ela ocupa no imaginário da população. Mas por que isso ocorre, já que existem bons motivos para levar a planta a sério, a exemplo das propriedades medicinais que oferece?
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Para Thiago Ermano, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (ABICANN), a dificuldade engloba um arranjo delicado: política, preconceito e baixo interesse científico, econômico e social. Ocorre que, por trás dessas camadas, há um mercado bilionário. Ermano diz ainda que, caso se legalize o uso industrial do cânhamo e o uso farmacêutico da cannabis, sem entrar no impacto da liberação para uso recreativo, já se abre um nicho de mercado significativo.
“O Brasil pode atingir a marca de US$ 30 bilhões por ano, com a implementação de parques agrícolas e industriais, orientações e benefícios governamentais”, avalia. A fatia é tão alta quanto os usos possíveis da cannabis: medicamentos, cosméticos e construção civil. É por isso que já há dezenas de países que permitem o cultivo controlado, como Estados Unidos, Canadá, México, Colômbia, Uruguai, França, Israel, Suíça, Dinamarca e Austrália.
E o Brasil?
Para se ter ideia do tamanho desse mercado, a estruturação dele representaria cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, que vem trabalhando na casa do trilhão desde o início da década. O País, porém, avança a passos lentos, perdendo mercado e desidratando uma cadeia de investimentos.
Hoje, farmácias já são autorizadas a vender remédios à base de cannabis. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, em 2019 e por tempo determinado, que empresas certificadas em Boas Práticas de Fabricação pudessem fazer a produção e vendê-la no varejo.
Ermano acrescenta que, até o terceiro semestre deste ano, outros itens podem ter fabricação e venda liberadas pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ainda que se trate de uma tendência definitiva, a incerteza em relação à governança no setor e a falta de investimentos público em pesquisa atrasam o País.
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A título de comparação, os 37 governadores dos Estados Unidos que permitiram o uso de cannabis para fim medicinal poderão movimentar cerca de US$ 33 bilhões, de acordo com o diretor da VerdeMed, Fabio Lampugnani. Até o fim do ano, o setor deve contar com mais de 400 mil vagas de trabalho apenas no país norte-americano.
Leia também: Por que a pandemia cravou uma revelação para a indústria da cannabis
Rodrigo Knudsen, gestor de fundos da Vitreo, acredita que há um custo na lentidão, mas a sociedade brasileira levará algum tempo até se ambientar com esse novo fenômeno. “A resistência ocorre porque a planta ainda é vista como uma droga psicotrópica e recreativa, mesmo que o canabidiol, que integra a cannabis, não tenha essa propriedade. Mas as novas gerações chegam com mais informação, então a longo prazo há boas perspectivas”, diz.
Saiba como investir em Cannabis no Brasil
Quem quer investir em cannabis no Brasil deve recorrer aos fundos de investimento. Knudsen explica que a Vitreo tem dois tipos de serviço: o Vitreo Canabidiol, apenas para investidores qualificados, e o Vitreo Cannabis Ativo, aberto para investidores mais leigos. Cerca de 40% do portfólio dos fundos estão nas maiores empresas estadunidenses do setor canábico.
A XP também oferece um fundo do gênero. Segundo a corretora, o Trend Cannabis investe em um fundo estadunidense chamado ETFMG Alternative Harvest, o maior e mais líquido entre os negociados na bolsa do País. O ativo financia processos de cultivo legal, produção, marketing ou distribuição de produtos de Cannabis, tanto para fins medicinais quanto não medicinais.
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O cenário é bastante diferente de mercados mais maduros. Na “terra do Tio Sam” é possível investir diretamente em empresas consolidadas no setor, como Curaleaf e Trulieve. Além disso, há fundos sólidos, como o AdvisorShares Pure US Cannabis ETF e o AdvisorShares Pure Cannabis ETF.
Enzo Pacheco, analista de investimentos da Empiricus, avalia que investir em cannabis em um ambiente dinâmico como ocorre nos Estados Unidos é algo que “salta aos olhos” dos brasileiros: algumas empresas somam crescimento de 100% em dois anos. Para participar da tendência, o investidor daqui precisa ter uma conta em uma corretora no exterior que tenha acesso ao mercado de balcão estadunidense.
Ainda assim, Knudsen avalia que os brasileiros devem ter paciência: “Não sabemos quando as coisas serão liberadas. O grande gatilho deve ser a liberação federal nos Estados Unidos. Imaginávamos que isso estava mais próximo, então é preciso avaliar com cautela, pois pode demorar um pouco.”
Por conta disso, Pacheco acredita que mesmo um investidor arrojado não pode ter mais de 10% da carteira no setor de cannabis. “Uma posição entre 3% e 5% é um bom percentual para grande parte dos investidores, já que se trata de ativos de alto risco. Se uma ação de um setor comum leva de um ano a três anos para maturar, esse intervalo no setor de cannabis passa de três anos a cinco anos“, afirma.
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