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“Faça chuva ou sol, continue investindo na Bolsa”, diz Tito Gusmão

CEO da Warren destaca a importância de investir mesmo em momentos de forte turbulência e incertezas

“Faça chuva ou sol, continue investindo na Bolsa”, diz Tito Gusmão
Para Tito Gusmão, o investidor precisa pensar no longo prazo quando investe na bolsa de valores (Foto: Warren)
  • Mesmo com a Bolsa em queda, o CEO da Warren afirma que os aportes financeiros na renda variável devem ser contínuos, porque o investidor precisa manter o seu foco nos retornos de longo prazo
  • “Quando a gente vai ao shopping, por exemplo, as pessoas ficam felizes com as lojas em promoção. No caso da Bolsa, é o contrário. As pessoas querem comprar quando as ações estão em alta, o que deveria ser o oposto”, avalia Gusmão
  • Ele também ressalta que os investidores com um patrimônio mais arrojado (acima de R$ 300 mil) aumentaram suas aplicações em renda fixa, mas mantém posição em ativos de renda variável mesmo com a volatilidade do mercado

Os ciclos de aperto monetário no Brasil e nos Estados Unidos trouxeram maior aversão ao risco para os investimentos. O atual cenário estimula a saída de capital da renda variável em direção aos ativos de renda fixa devido ao maior retorno financeiro em comparação com a Bolsa.

No entanto, para Tito Gusmão, CEO da Warren, essa visão de curto prazo não deveria perdurar. Mesmo com a Bolsa em queda, os aportes financeiros na renda variável devem ser contínuos, porque o investidor precisa manter o seu foco nos retornos de longo prazo.

“Faça chuva ou faça sol, continue investindo. Os momentos em que a Bolsa estiver caindo serão os de maior felicidade para investir porque será possível comprar mais ações com o mesmo dinheiro”, destaca.

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O problema é que esse pensamento não é um consenso, principalmente entre os investidores que entraram há pouco tempo no mercado acionário. De acordo com ele, em vez de aproveitar as ações de boas companhias com preços descontados (quando o valor da ação está abaixo da média do setor a que a empresa pertence ou da sua média histórica), os investidores costumam reduzir suas posições na bolsa ao ver a depreciação dos ativos.

“Quando a gente vai ao shopping, por exemplo, as pessoas ficam felizes com as lojas em promoção. No caso da Bolsa, é o contrário. As pessoas querem comprar quando as ações estão em alta, o que deveria ser o oposto”, avalia.

Ele também ressalta que os investidores com um patrimônio mais arrojado (acima de R$ 300 mil) aumentaram suas aplicações em renda fixa, mas mantém posição em ativos de renda variável mesmo com a volatilidade do mercado.

E-Investidor – O número de investidores pessoa física cresceu 44% na B3 em um ano (1T21 a 1T22). Devemos ter a entrada de novos investidores mesmo com um cenário pessimista para os ativos de renda variável?

Tito Gusmão – Acho que não. E é uma pena porque a decisão do investidor (pessoa física) é de curtíssimo prazo. O investidor vai para a Bolsa porque está nas ‘capas dos jornais’ a informação de que ela não para de subir. Então, será um movimento normal termos um fluxo menor de brasileiros investindo em Bolsa, mas digo isso com muito pesar.

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Para entender esse pensamento de curto prazo, basta ver os resultados de fundos de multimercados e fundos de ações. Nos últimos meses, esses ativos tiveram um recorde de resgates porque o valor da cota está caindo. Daqui a pouco, o que vai acontecer será o seguinte: a cota não vai parar de subir e aí o investidor vai comprar.

Então, infelizmente, o investidor de pessoa física atua tomando as decisões erradas. Pensamento de Bolsa é de longo prazo porque não você não compra uma empresa na segunda, por exemplo, e vende na terça porque houve uma variação, seja para cima ou para baixo. Você investe em boas companhias no longo prazo.

Sempre houve esse movimento que está acontecendo agora no Brasil e também nos Estados Unidos. A economia é cíclica e esses movimentos são caracterizados por duas palavras que são muito fortes: euforia e pânico.

Em um ano, tivemos um crescimento de 19% no número de investidores no mercado financeiro. O que motivou esse salto? O brasileiro está mais interessado em investir?

Gusmão – Todo esse ‘boom’ aconteceu em um momento que a Bolsa estava subindo. Há alguns anos, estávamos com 500 mil CPFs na B3. Hoje, temos mais de quatro milhões. Mas, sem dúvida, temos uma quantidade muito maior de conteúdos sobre mercado financeiro com diversos influencers falando sobre Bolsa, finanças pessoais e renda fixa.

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Houve também um crescimento do número de plataformas mais acessíveis para os investidores de pessoa física. Então, o cenário de investimento mudou radicalmente nos últimos anos.

Mas acho que teremos uma freada no crescimento de novos investidores. E assim que a Bolsa voltar a subir, as atenções devem voltar a ela.

O Ibovespa fechou o mês de junho em queda de 11,5%. Há mais espaço para mais quedas ou o índice pode manter o patamar dos 100 mil pontos mesmo com a aproximação do ano eleitoral?

Gusmão – É claro que estamos em um momento turbulento para a renda variável. O cenário de inflação em todo o mundo e os bancos centrais subindo a taxa de juros trazem mais incertezas para os investimentos. E há um competidor forte para a Bolsa, que é a renda fixa.

A Bolsa pode sofrer ainda mais nos próximos meses. Não tenho dúvida. Mas ninguém vai acertar a variação de Bolsa no curto prazo. As empresas sempre passam por momentos de turbulência e voltam a vender mais.

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Por isso, o investidor não deve se preocupar se a Bolsa está em queda ou está em alta. Faça chuva ou faça sol, continue investindo. Os momentos em que a Bolsa estiver caindo serão os de maior felicidade para investir porque será possível comprar mais ações com o mesmo dinheiro. Quando a gente vai ao shopping, por exemplo, as pessoas ficam felizes com as lojas em promoção. No caso da Bolsa é o contrário. As pessoas querem comprar quando as ações estão em alta. Deveria ser o oposto.

Como o investidor pessoa física pode se blindar desse cenário difícil para a renda variável?

Gusmão – A minha sugestão é investir em fundos, principalmente os que você conhece, gosta ou aqueles em que você pode se informar por meio de um profissional de investimentos. A grande vantagem de investir em um fundo é que, do outro lado da mesa, vai ter um time de gestão que estará fazendo a seleção das melhores empresas.

Se você está começando agora, a minha sugestão é a indústria de fundos. Outra sugestão é investir em ETFs (Exchange Traded Fund), porque são cestas de ações negociadas em Bolsa e aí você investe de forma diversificada.

O avanço do ciclo de aperto monetário nos EUA trouxe um alerta para uma possível recessão. O mercado europeu segue em uma realidade semelhante. Há espaço para bons investimentos nesse cenário hostil?

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Gusmão – Se você vai investir fora em ações ou ETFs tem que ter o pensamento de longo prazo. O mercado de capitais do Brasil representa 1% do mercado de capitais do mundo. Ao chegar ao mercado de capitais dos Estados Unidos, você acessa a grande indústria. A indústria de ETFs, inclusive, captou mais do que a indústria de fundos nos EUA.

A Warren foca mais em cliente com patrimônio acima de R$ 300 mil. Com esse movimento de queda na Bolsa, quais foram as principais mudanças realizadas por esse público? Estão indo para a renda fixa?

Gusmão – Sem dúvida. A renda fixa virou novamente o produto mais procurado entre os investidores, mas mesmo com toda a turbulência na Bolsa não estamos vendo investidores na Warren resgatando as posições de Bolsa para mandar para a renda fixa.

Claro que ver o patrimônio investido em Bolsa encolher não é uma experiência agradável, mas temos uma métrica que chamamos de “churn do dinheiro” (que mede a diferença entre depósitos e resgates) e ela está no menor patamar histórico. Talvez seja o reflexo da quantidade de conteúdo que entregamos sobre Bolsa e também do time de especialistas que tem ficado cada vez mais próximo dos investidores nestes momentos de turbulência, explicando que o atual momento é normal e passageiro.

A maior parte do dinheiro novo tem ido para renda fixa e a outra parte tem aproveitado para comprar ativos de Bolsa a preços mais baixos.

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O que investidores iniciantes podem aprender com os médios e grandes investidores?

Gusmão – Quando uma empresa lista suas ações em Bolsa, ela dá oportunidade para que qualquer pessoa possa ser sua sócia e isso é muito positivo. No longo prazo, o preço da ação reflete o resultado da companhia. Se a empresa cresce, vende cada vez mais seus produtos e serviços, o preço da ação sobe e os investidores participam da valorização, assim como da distribuição de dividendos.

Porém, a possibilidade de uma ação ser negociada a todo momento traz consigo bastante ‘ruído’ no curto prazo. O que os investidores precisam entender é, como diria Warren Buffett, ‘o mercado de ações transfere dinheiro dos impacientes para os pacientes’.

Quem investe em boas empresas, com pensamento de longo prazo, aproveita os tais ruídos quando as empresas estão a preços descontados, para investir mais. O que importa é acumular a maior quantidade de ações ou de cotas de fundos de investimento.

Se o investidor vai investir R$ 1.000 por mês e o preço da ação está R$ 10, ele vai conseguir comprar 100 ações no mês. Agora, se o preço da ação cair para R$ 8, com os mesmos R$ 1.000 o investidor vai conseguir comprar 125 ações.

Se com o mesmo valor investido dá para comprar mais ações quando o preço da ação cai, então o momento de felicidade para o investidor de longo prazo não é quando a Bolsa sobe e, sim, quando a Bolsa cai.

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