A Tesla tem sofrido com a participação de Elon Musk em polêmicas do governo dos EUA. (Foto: Adobe Stokc)
A lua de mel entre o presidente americano, Donald Trump, e o CEO da Tesla, Elon Musk, chegou ao fim. A relação mal completou as bodas de papel e já azedou de vez, praticamente um divórcio, em vez de uma reconciliação. Na tarde da última terça-feira (1º), durante uma coletiva na Flórida, Trump afirmou que estuda a possibilidade de deportar seu ex-braço-direito, que nasceu na África do Sul, mas possui cidadania americana.
Esse não é o primeiro desentendimento entre os dois, mas as falas de Trump em relação a Musk afetaram negativamente a empresa do bilionário no pregão de ontem. Pela manhã, durante o pré-mercado de Nova York, as ações da Tesla chegaram a tombar 6% — uma alerta para os investidores fiéis da empresa.
O que diz o mercado?
Arthur Horta, analista e sócio da The Link Investimentos, explica essa reação imediata do mercado. “Isso se deve porque polêmicas negativas ou escândalos podem mexer com a imagem da empresa. O mercado fica mais cético e isso pode sim afetar os preços dela no curto prazo. É um risco a mais a ser considerado”, diz.
Horta diz que, apesar da repercussão, o cenário de deportação do CEO da Tesla é improvável — mas não impossível — e, caso venha acontecer, pode afetar ainda mais as ações da empresa. Esse efeito, de acordo com o analista, tem uma razão: “Musk é visto como um bom CEO, um cara inovador e que tem um conhecimento a fundo da sua companhia, isso está comprovado no histórico das ações. Portanto, o fato dele estar fora dos Estados Unidos [local sede] pode sim afetar a empresa, por afastá-lo de grandes executivos ativos e de outras lideranças de dentro da companhia”.
O analista menciona, novamente, que um fator muito relevante é o risco da imagem da empresa, que pode desenvolver um efeito cascata nas ações. “O embate público contra o homem mais poderoso do mundo, o presidente dos Estados Unidos, é negativo, porque pode trazer consequências mais graves posteriormente”, explica.
Além disso, Horta acredita que o mercado ainda não precificou completamente os riscos envolvendo o conflito Trump-Musk. “Não se sabe qual é o limite do Trump, se ele poderia, por exemplo, sancionar as empresas Musk, incluindo a Tesla. Isso seria péssimo para a companhia“, avalia.
Embora o episódio sirva de alerta, Horta destaca que, historicamente, declarações polêmicas de Elon Musk costumam impactar negativamente as ações da Tesla apenas no curto prazo. Segundo ele, no longo prazo, os papéis da companhia tendem a refletir os resultados operacionais e a capacidade de entrega da empresa.
Por exemplo, mesmo com a queda de 13,5% nas vendas da Tesla no segundo semestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, o resultado superou o desempenho do primeiro semestre deste ano. Nesta quarta-feira (2), as ações da Tesla subiam 4,67% às 14h (de Brasília), a US$ 314,76, devolvendo parte das perdas de ontem.
Horta ressalta ainda que, embora Donald Trump ocupe a presidência dos Estados Unidos, suas ações têm limites — especialmente quando esbarram em questões inconstitucionais. Para o analista, uma eventual deportação de Elon Musk carece de base legal e jurisprudencial. Além disso, como Musk tem sócios e acionistas ao redor do mundo, qualquer sanção contra suas empresas poderia gerar efeitos econômicos negativos para os próprios Estados Unidos.
Está na hora de vender ou comprar as ações?
Para investidores que já têm papéis da Tesla, esse tipo de ruído político deve ser encarado, de acordo com o analista, como uma oportunidade. “A figura do Elon Musk é polêmica, mas quando a gente faz uma análise de Trump vs. Musk, o CEO é um cara muito mais influente nas mídias, que tem muito mais poder econômico contra o Trump, e que está em uma posição mais forte temporariamente”.
Horta acrescenta que os níveis de aprovação de Donald Trump estão muito baixos nos Estados Unidos e que, nessa briga, Elon Musk é o elo mais forte. “Ele está só no lado econômico, pode se movimentar e se direcionar mais para qualquer espectro político. Trump tem um tempo contado de brigas enquanto ele tá nessa posição de poder”. Diante disso, cabe ao investidor avaliar o contexto e decidir se mantém, vende ou compra ações da Tesla em um momento tenso, mas que, na visão do analista, é passageiro.