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Como o dólar saltou de R$ 4,84 para R$ 6,18 em 2024, o pior ano desde a pandemia

O dólar subiu 27% em 2024, impulsionado por incerteza fiscal no Brasil e aversão a risco no exterior

Como o dólar saltou de R$ 4,84 para R$ 6,18 em 2024, o pior ano desde a pandemia
Notas de dólar. Foto: Envato Elements

Quando o dólar encerrou o ano de 2023 a R$ 4,84, com uma desvalorização acima de 7% frente o real, o mercado já esperava que a moeda americana poderia voltar a subir ao longo de 2024. A projeção para o câmbio ao final deste ano presente no Boletim Focus do dia 05 de janeiro era de R$ 5,00 e, como mostramos aqui, boa parte das casas de investimento previam números semelhantes. Mas a alta do dólar em 2024 deixou essas estimativas parecendo “otimistas” demais.

O dólar à vista encerrou esta segunda-feira (30), último pregão de 2024, cotado a R$ 6,18. Se considerarmos o dólar Ptax (cotação oficial do País), o preço sobe para R$ 6,19, o que representa uma valorização acumulada ante o real de 27,91%, o pior ano desde 2020, quando a eclosão da pandemia da covid-19 fez o câmbio subir 28,93%. Os dados foram levantados por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.

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A disparada do dólar se acentuou nos últimos meses, mas a cotação já vinha em tendência de alta desde meados do primeiro semestre do ano. Como mostramos aqui, até o final de julho, o dólar acumulava uma valorização de 16% contra o real, impulsionado, sobretudo, pela incerteza fiscal no Brasil após o governo alterar as metas de superávit primário para 2025.

A deterioração do ambiente doméstico aconteceu ao mesmo tempo em que, no cenário global, o otimismo da virada do ano deu lugar a maiores dúvidas em relação ao ritmo de cortes de juros nos Estados Unidos e a desaceleração econômica na China. Com tensões geopolíticas em diferentes partes do mundo, a moeda americana se consolidou como o principal ativo de proteção dos investidores. Um movimento global que também ganhou força após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de outubro nos EUA.

Foi um pacote que, somada à piora do sentimento em relação às contas públicas (política fiscal), derrubou o real em um contexto de dólar forte no mundo. É o que explica Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio. “A incapacidade do governo de avançar com a pauta fiscal e apresentar sinais concretos de disciplina orçamentária aumentou o prêmio de risco do País, desencorajando o apetite do investidor. Além disso, a comunicação inconsistente e a percepção de descompasso entre discurso e prática na gestão fiscal reforçaram a aversão ao risco por parte dos investidores”, diz.

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E a tendência para 2025 parece ser de continuidade do dólar elevado. Na avaliação de Joseph Belardo, especialista em câmbio e sócio fundador da corretora Duo Digital, existem poucos motivos que poderiam atrair o investidor estrangeiro de volta ao Brasil e, assim, dar alívio à cotação. Para ele, por mais que a Selic esteja alta e atrativa, outros países emergentes oferecem menos risco e melhor rendimento. “Os bancos americanos estão com frequência assinalando o mercado mexicano”, destaca. “Em 2025, a chegada do novo presidente nos EUA irá fortalecer a moeda americana, algo que não depende de uma politica interna do Brasil e sim o mundo se protegendo em dólar.”

Recorde histórico e leilões do BC

O dólar bateu em dezembro o maior valor da história, chegando a ser negociado na casa de R$ 6,30 na semana em que o Congresso discutia as medidas propostas pelo Executivo para o ajuste fiscal. A disparada do câmbio em dezembro levou o Banco Central a intervir no mercado cambial via leilões de dólares, operações em que a autoridade monetária oferece a moeda americana diretamente aos participantes do mercado de forma a regular a liquidez e dar suporte à estabilidade cambial.

O Banco Central faz intervenções no câmbio quando existe alguma pressão extraordinária que afeta a cotação, ajudando a reduzir incertezas e a diminuir a volatilidade do mercado – por isso, costumam ser utilizadas em momento de disparada do preço.

Nesta segunda-feira (30), o BC vendeu US$ 1,815 bilhão em um leilão à vista de dólares. Com a nova intervenção, a autoridade monetária já injetou US$ 21,575 bilhões; é a maior injeção de recursos em um único mês da história do regime flutuante de câmbio, acima dos US$ 12,054 bilhões vendidos em março de 2020, durante a pandemia de covid-19.

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, a venda de dólares não será suficiente para conter a alta do câmbio enquanto o governo não apresentar medidas que joguem a favor da credibilidade fiscal. Sem isso, ainda que o BC tenha uma posição “confortável” de reserva cambial e possa fazer novas intervenções, os leilões à vista não devem ser efetivos.

“Os preços de mercado hoje refletem a probabilidade de menor crescimento da economia e maior inflação, causada pela combinação de alta nos gastos públicos e aceleração da dívida”, destaca Vitória. “Já vimos esse filme antes. A principal intervenção no câmbio será dada por um ajuste fiscal crível.”

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