O dólar hoje enfrentou um dia de forte queda no mercado doméstico de câmbio e encerrou em baixa de 1,4% a R$ 5,9465. Pela primeira vez em 2025, a moeda americana fechou o pregão abaixo de R$ 6. Neste ano, a divisa só havia perdido esse patamar em 16 de janeiro. Naquela sessão, no entanto, o dólar conseguiu reverter a tendência de baixa e finalizar em alta, cotado a R$ 6,0533, com a sabatina de Scott Bessent, indicado pelo presidente eleito Donald Trump para comandar o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
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Nesta quarta-feira (22), o caminho foi um pouco diferente. Em queda desde a abertura, a moeda americana atingiu mínima a R$ 5,9165 – menor valor registrado em uma sessão desde o dia 12 de dezembro de 2024, quando alcançou o preço mínimo de R$ 5,8681, mas conseguiu fechar a R$ 6,0072.
Considerando apenas o valor de fechamento, a divisa encerrou hoje na menor cotação desde o dia 27 de novembro, quando terminou o dia sendo negociada a R$ 5,9135. Na data, o governo federal apresentou o aguardado pacote fiscal, ao lado da proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. As medidas decepcionaram os investidores e colaboraram para uma forte valorização do dólar nos dias seguintes.
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Agora a moeda parece passar por uma “calibração”, nas palavras de Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. “Eu não diria nem que a moeda enfrenta uma desvalorização, mas sim uma calibração, porque a gente veio de aumentos exponenciais na taxa do dólar. Acho que a divisa recua agora exatamente para dar uma equilibrada também no mercado. Isso é natural de acontecer”, afirma.
A correção, embora esperada, surpreendeu em relação à sua magnitude. “Foi uma surpresa, porque esperávamos que o dólar ficasse próximo a R$ 6, mas hoje ele acabou rompendo. Esse movimento é bem positivo. Acredito que é o momento realmente de avisar os clientes, até para o pessoal se atentar e aproveitar essa queda também, que eu acredito que seja de curto prazo”, destaca Freitas.
Efeito Trump no dólar?
Além de passar por uma correção natural, um outro fator contribui para a queda do dólar nesta quarta-feira. Nos Estados Unidos, Donald Trump afirmou na terça-feira (21) que está discutindo a imposição de uma tarifa de 10% sobre os produtos importados da China em 1º de fevereiro. Em coletiva na Casa Branca, o republicano ainda ressaltou que já havia imposto grandes tarifas ao país asiático durante seu primeiro mandato.
“Estamos falando de uma tarifa de 10% sobre a China com base no fato de que eles estão enviando fentanil para o México e o Canadá”, disse o presidente a repórteres. O chamado fentanil é um opioide potente usado como analgésico ou sedativo.
A tarifa planejada, no entanto, é mais branda do que a anteriormente prometida durante a campanha, quando Trump chegou a dizer que a taxação seria de 60%. “Agora no início de seu mandato, o republicano está mais suave, falando em tarifas muito menores. Essa questão das taxas de importação trazia um medo comercial no mundo, com a expectativa de uma valorização mais forte do dólar e desvalorização das moedas concorrentes. Esse cenário de ‘guerra comercial’, porém, não veio”, explica Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
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Para o especialista, a falta de notícias domésticas também tem sido uma “boa notícia”. Com o recesso parlamentar, que se estende até fevereiro, a agenda tem sido mais tranquila por aqui. “Temos de lembrar o seguinte: para o Brasil não mudou nada, continua tudo na mesma. Nesses dias a gente tem o Congresso em recesso, o Supremo em recesso, então não tem notícias. Tudo fica muito mais leve, mas a gente ainda enfrenta o problema interno das contas públicas”, ressalta Bresciani.
Para Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, em dia de otimismo para os ativos de risco, o real conseguiu se valorizar também em função de uma questão técnica. “Quando o dólar cai abaixo de R$ 6, ele perde uma espécie de barreira psicológica e muitos investidores já se preparam para suas operações. Por isso existe essa queda rápida, depois que perde esse patamar”, destaca.
A trajetória de disparada do dólar ao final de 2024
O dólar passou por uma forte valorização que se estende desde o final de 2024. A decepção com as medidas do pacote fiscal aumentou o receio de que o governo não estivesse totalmente comprometido com o controle das contas públicas. A proposta de mudança no IR também gerou preocupação, porque pode representar perda de receita, a depender de como for desenhada.
O E-Investidor compilou, com dados do Broadcast, todos os fechamentos do dólar comercial desde o dia 27 de novembro, data da apresentação do pacote. Nesse intervalo, a moeda americana encerrou abaixo de R$ 6 apenas em quatro ocasiões: no próprio dia 27, em 28 de novembro, em 11 de dezembro e, agora, nesta quarta-feira.
Por outro lado, a moeda americana atingiu o seu recorde histórico nominal em 18 de dezembro, quanto fechou a R$ 6,2657 e atingiu máxima a R$ 6,2707, o maior valor observado na história do real. Confira abaixo:
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Para tentar conter a escalada da divisa, o Banco Central (BC) passou a realizar leilões de câmbio. Nessas operações, a autoridade monetária oferece dólares diretamente aos participantes do mercado, como bancos e instituições financeiras, como forma de regular a liquidez e dar suporte à estabilidade cambial.
Intervenções desse tipo sinalizam o compromisso do BC com o equilíbrio do câmbio, ajudando a reduzir incertezas e a diminuir a volatilidade do mercado. Os leilões ajudam a autarquia conter a alta do dólar ao aumentar a oferta de moeda estrangeira no mercado, reduzindo a pressão causada por movimentos especulativos ou desequilíbrios momentâneos entre oferta e demanda.
Em 2025, a primeira interferência do BC no mercado de câmbio ocorreu na última segunda-feira (20). A autoridade realizou dois leilões de venda de dólar com compromisso de recompra, os chamados “leilões de linha”, no valor total de US$ 2 bilhão na modalidade pós-fixado Selic. Na data, a moeda americana fechou em queda de 0,39% a R$ 6,0421.
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