

O dólar à vista encerrou esta quinta-feira (6) cotado a R$ 5,75. Apesar de uma leve alta no pregão, a cotação ainda está bem abaixo da cotação de R$ 5,91 que a moeda americana encerrou o mês de fevereiro, há uma semana. Está mais distante ainda daqueles R$ 6,18 que iniciaram 2025.
Contrariando as projeções que indicavam uma tendência de dólar forte, o real vem conseguindo se valorizar. Entre janeiro e fevereiro, a moeda americana caiu 4,36% ante a brasileira. Mas o primeiro pregão de março, nesta quarta-feira (5), volta do feriado de carnaval, estendeu esse movimento: o dólar caiu 2,71%, a maior desvalorização diária desde o início do terceiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Especialistas explicam que o movimento do dia refletiu o movimento no exterior: depois de dias de turbulência causada pela guerra comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, investidores conseguiram vislumbrar algum alívio. Explicamos com detalhes aqui. “O mercado entende que essa guerra tarifária pode acarretar prejuízos adicionais aos EUA, como o aumento do custo de vida dos norte-americanos, gerando mais incertezas quanto à inflação e impactando o planejamento do Federal Reserve em relação à taxa de juros”, explica Lucas Tavares, especialista em câmbio na WIT Exchange.
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Além da questão das tarifas, lá fora, há uma mudança na percepção em relação à condução de política monetária nos EUA. Para Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, enquanto o mercado no Brasil ficou fechado por três dias, no exterior houve um movimento de alta volatilidade dada a preocupação com a desaceleração da atividade econômica dos EUA, refletida nos dados divulgados ao longo da semana.
“Os dados fracos vindos das pesquisas de confiança do consumidor americano – que responde por cerca de dois terços do PIB dos EUA – somados à baixa criação de vagas no setor privado (relatório ADP), divulgado na quarta-feira, reforçaram temores de um cenário de recessão nos EUA, um tema que o mercado já considerava superado”, destaca Shahini. “Houve uma grande mudança na precificação da política monetária este ano, com os juros de curto prazo apresentando quedas nos rendimentos e o mercado projetando cortes de até 100 bps para o final do ano. Esses fatores diminuem a atratividade do dólar e contribuíram para sua queda em nível global.”
E não é só contra o real. O índice DXY, que mede a performance do dólar ante seis divisas fortes, também sofreu quedas expressivas e é cotado no menor valor desde novembro de 2024.
O dólar vai cair mais?
O câmbio é uma variável difícil de se prever, especialmente em um cenário em que fatores internos e externos podem influenciar a cotação do dólar nos próximos dias e semanas. Nesta sexta-feira (7), a divulgação de um dos principais indicadores da economia americana, o payroll, que mede a quantidade de empregos gerados no país, deve ditar o ritmo do mercado de câmbio.
“Na nossa visão, a tendência de curto prazo do dólar depende dos dados do payroll“, diz Marcos Moreira, sócio da WMS Capital. Ele explica que se houver sinais mais claros de desaceleração econômica nos EUA, como os dados que indicam queda na criação de vagas de emprego mostrados pela ADP (Relatório Nacional de Emprego) em fevereiro, o mercado entende que haveria mais espaço para o Fed retomar o ciclo de cortes de juros ainda em 2025 – uma possibilidade que favorece ativos de risco e enfraquece o dólar globalmente.
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As medidas tarifárias de Trump tendem a pressionar a inflação, o que consequentemente devem manter os juros em níveis mais elevados. Por outro lado, se o mercado de trabalho mostrar um forte sinal de desaquecimento, podemos ver o Fed refletindo isso nas decisões de juros”, explica Moreira. “Se o payroll mostrar uma criação abaixo das expectativas de novas vagas de trabalho, isso pode fazer o ual um pouco contra outras moedas.”
Para o médio e longo prazo, no entanto, as expectativas do mercado ainda não mudaram de forma relevante, mesmo após o bom início de ano do real. Uma das poucas instituições que reduziram a sua estimativa para o dólar ao final de 2025 foi o Banco Inter, que diminuiu sua projeção de R$ 6 para R$ 5,90. O Boletim Focus também mostrou uma queda na projeção para o dólar de R$ 6 para R$ 5,99 ao final de 2025 há uma semana, mas outras casas do mercado veem a moeda americana variando entre R$ 5,70 e R$ 6,30; veja detalhes aqui.
Para Bruno Shahini, da Nomad, o movimento recente mais positivo para o real tem a ver com a dissipação de riscos vindos do exterior. Mas, para que o dólar continue a trajetória de queda e possa se firmar nos patamares atuais nos próximos meses, os fatores internos é que serão determinantes. “O Congresso volta do recesso, e o encaminhamento da agenda fiscal será o grande tema para o desempenho dos ativos locais, especialmente o dólar”, destaca. “No atual momento, o Brasil beneficia-se de um cenário externo benigno – porém, a permanência e continuidade desse movimento dependerão largamente do endereçamento das reformas.”