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É preciso ter muita atenção com a reforma tributária em 2024, diz BGC

Daniel Leal é estrategista de renda fixa e foi funcionário licenciado do Tesouro Nacional durante 9 anos

Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez (Foto: Divulgação/BGC Liquidez)
  • Em entrevista ao E-Investidor, Daniel Leal, estrategista de Renda Fixa da BGC Liquidez e funcionário licenciado do Tesouro Nacional, disse que os juros no Brasil devem continuar em patamares elevados nos próximos anos.
  • Segundo ele, a Selic sofre a influência dos patamares de juros nos Estados Unidos, que apesar dos cortes esperados para 2024, ainda devem continuar acima dos níveis históricos.

O Banco Central realizou na última quarta-feira (13) um novo corte na taxa básica de juros, a Selic, que encerrará o ano a 11,75%, depois de passar oito meses no patamar de 13,75%. Em entrevista ao E-Investidor, Daniel Leal, que é estrategista de Renda Fixa da BGC Liquidez e foi analista licenciado do Tesouro Nacional durante 9 anos, afirmou que mesmo com as novas reduções esperadas para 2024 a Selic não voltará tão cedo ao nível pré-pandemia, quando estava na casa dos 4,5% a 5%.

Embora os juros altos favoreçam os investimentos em renda fixa, Leal também ressaltou que a Selic mais baixa estimula o crescimento da economia real, oferecendo oportunidades de maiores retornos para as aplicações na renda variável.

Para o estrategista, o investidor deve ficar atento ao comportamento dos juros nos Estados Unidos nos próximos meses, cuja movimentação ajudará a traçar os limites para a queda das taxas no Brasil.

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E-Investidor – Os cortes nas taxas de juros no Brasil e nos EUA podem levar a uma busca maior pela renda variável ano que vem?

Daniel Leal – O Brasil já vinha com uma onda de otimismo em razão do arcabouço fiscal, que se refletiu na bolsa de valores e se reverteu no ciclos de cortes, que vai continuar no Brasil. Nos Estados Unidos, existem apostas de que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, comece a cortar os juros logo no início do ano. O call da casa é que seja mais para o terceiro trimestre. Mas isso já é uma notícia positiva, tendo em vista que a sinalização é de que seriam taxas longas por mais tempo. E isso acaba impactando não só a velocidade do nosso ciclo de corte de juros, mas também até onde ele pode ir. Quando o BC começou a cortar os juros, o mercado estava bem otimista e se falava até em Selic abaixo de 9%. Hoje, você vê a mediana das expectativas em 9,5%. Alguns mais pessimistas veem a Selic terminal em 10%.

O que explica o otimismo atual do investidor na Bolsa?

Estamos saindo um pouco desse ciclo de aperto monetário que tirou muita gente da bolsa e jogou para a renda fixa, pois é difícil competir com taxas tão restritivas. Ano que vem é um ano de inflexão e muitas pessoas vão voltar para a bolsa. Mas eu teria muita atenção com a reforma tributária também. Em geral, ela será positiva para o País e para as empresas, ao descomplicar esse arcabouço tributário. Mas da forma como ela vai ser feita, vai haver um aumento da carga tributária para alguns setores. O mercado de renda fixa vai continuar robusto ainda para o ano que vem. Que pese essa redução de juros que a gente deve observar, você ainda está com retornos historicamente bons.

A taxa Selic pode voltar ao patamar de 2%?

Acredito que não vamos ter uma taxa baixa como vimos antes da pandemia. A Selic vai rondar ali perto dos 9,5% em um primeiro momento. Só quando o exterior voltar com taxas mais baixas é que vamos ter uma compreensão maior sobre a possibilidade de voltar a um patamar próximo de 8%. As questões lá fora são desafiadoras. Não só as geopolíticas que ainda impactam, como a guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio, mas também porque os Estados Unidos ainda vão iniciar um ciclo de corte de juros. Vamos ver a curva de treasuries um pouco mais inclinada do que observamos em um passado mais recente, até porque não está com uma demanda tão expressiva de tradicionais investidores que são Japão e China. E os treasuries deixaram de ter um dos maiores compradores de título longo, que era o Fed. Isso acaba impactando todas as economias do mundo.

Para o investidor, é melhor ter a Selic mais baixa? 

Um patamar de juros mais baixos e inflação controlada gera um ambiente de negócios mais favorável, com mais investimentos na indústria e na economia real. Isso significa mais empregos, mais demanda e um impacto positivo em termos de crescimento, reduzindo a necessidade de juros de longo prazo. Do lado do investidor, é confortável olhar para juros de 13% e não fazer mais nada. Mas quando olhamos para outras economias desenvolvidas, eles têm possibilidades de retornos muito acima do nosso quando têm a economia real crescendo. Há investimentos em bolsa muito mais representativos nas reservas das pessoas do que aqui no Brasil. Os juros altos, apesar de serem bons para a renda fixa, têm várias consequências negativas, como o endividamento do próprio governo.

E a dívida pública, qual a expectativa para este ano?

O investidor vai olhar muito menos o número nominal da dívida e muito mais a sustentabilidade dela no presente e no longo prazo. E isso está totalmente atrelado às políticas de governo, ao crescimento do PIB e uma economia para pagar a dívida que você tem atualmente. Ou seja, a responsabilidade fiscal. No início deste ano vimos muita incerteza com a âncora fiscal, mas uma vez divulgado o arcabouço, o mercado viu que existe algum comprometimento com as contas públicas. O Tesouro também vem fazendo um bom trabalho na gestão da dívida e conseguiu melhorar a composição da dívida. Além disso, ele também fez uma excelente emissão de pré-fixados, o que mostra que a qualidade da gestão foi positiva. Isso é o que o investidor tem que olhar. Quanto melhor a âncora fiscal, reforma tributária, políticas favoráveis ao crescimento sustentável da dívida, melhor será o momento de mercado.

O Tesouro lançou novas opções de títulos, como o Renda+ e o Educa+, além dos títulos sustentáveis, para o investidor internacional. Por que esse movimento faz sentido? 

O site do Tesouro Direto foi lançado há mais de uma década e o objetivo era democratizar o acesso a produtos que antes estavam disponíveis só para o investidor institucional. Houve sucesso e ajudou bastante a indústria. Mais recentemente, começou-se a pensar em outras coisas que poderiam ser feitas. Se a pessoa física quiser gerir a sua aposentadoria, como o Tesouro poderia ajudar? E foi aí que saiu o Renda+ e em seguida o Educa+, que são iguais, a diferença é o prazo de pagamento das amortizações. Não sei se existe mais algum no radar, mas acaba que todos os títulos do Tesouro já oferecem a possibilidade de a pessoa se planejar para os seus objetivos, seja uma casa ou uma viagem.