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- Segundo a Economatica, o Merval, principal índice acionário da Argentina, apresenta uma valorização em dólar de 56,2% em 2023
- Já os títulos públicos do governo têm retornos superiores a 300% no acumulado do ano, de acordo com o levantamento
- Os altos rendimentos refletem o risco elevado de se investir no país diante da profunda crise financeira que a Argentina enfrenta
Neste domingo (19), os argentinos foram às urnas e elegeram Javier Milei, libertário e oposicionista do atual governo, o novo presidente da república. Responsável por enfrentar a atual crise econômica do país, a dúvida também reflete no mercado financeiro e traz ainda mais volatilidade para a bolsa argentina.
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A indefinição de soluções para a hiperinflação, câmbio desvalorizado e escassez de dólar é um dos principais responsáveis por colocar os índices acionários argentinos entre os mais rentáveis do mundo. Segundo dados da Economatica, o Merval, principal índice acionário do país, acumula um retorno em dólar de 56,26%, o maior entre todos os índices globais analisados no levantamento. A título de comparação, a rentabilidade foi 27 pontos porcentuais acima do Nasdaq, dos Estados Unidos.
João Romar, head de Internacional na InvestSmart, atribui a alta no acumulado de 2023 em relação aos outros índices globais a falta de liquidez do Merval, o que aumenta a volatilidade do índice. O movimento de valorização também reflete o comportamento dos argentinos em proteger o seu patrimônio contra a hiperinflação que pode chegar a 180% no fim deste ano, segundo dados do Banco Central da Argentina. “O único recurso que o argentino tem para se proteger do cenário caótico é investir na bolsa, principalmente em empresas capazes de repassar a alta da inflação aos consumidores”, afirma Romar.
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Os ganhos também refletem a expectativa dos investidores com a mudança de cenário com o resultado das eleições presidenciais. Há uma expectativa do mercado de que uma mudança na gestão seja capaz de mudar a direção da política econômica.
“Milei é um “outsider” com ideias extremamente radicais e que, se realmente forem colocadas em prática, têm capacidade de quebrar de vez o país”, afirma Romar.
As falas de Milei, porém, são interpretadas pelo mercado como apenas um discurso eleitoral e que suas propostas mais “radicais” não teriam espaço para serem adotadas. “ O mercado está mais otimista para um novo governo mais de direita e que não adote políticas econômicas de subsídios”, diz Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research.
Os títulos soberanos do governo também acompanharam o movimento de valorização dos ativos de renda variável e entregaram durante o mesmo período retornos bem elevados. Ainda de acordo com a Economatica, os ganhos dos títulos públicos em dólar entregaram retornos de até 344% em 2023. No entanto, a hiperinflação do país põe em risco o ganho real desses investimentos. “O investidor pode até ganhar dinheiro muito rápido com renda fixa, mas a inflação rouba o seu ganho completamente”, acrescenta Lopes.
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Há oportunidades de investimento?
A crise na economia da Argentina e a volatilidade no mercado abrem janelas de oportunidades para os investidores dispostos em aproveitar os preços descontados (preço negociado abaixo do valor considerado ideal). No entanto, João Victor Simões, sócio e especialista de Operações Internacionais da Blue3 Investimentos, afirma que há uma série de cuidados para observar antes de investir.
A situação financeira das companhias argentinas, como as margens e a dívida, é o principal ponto de atenção. “Trata-se de um investimento que vai além dos ganhos. O investidor precisa ver a geração de caixa da empresa, qual o seu nível de receita e como está estruturado o capital”, diz Simões. A cautela deve ser redobrada com as companhias com dívidas emitidas em dólar. Devido à crise na taxa de câmbio, a disparidade do peso argentino em relação à moeda norte-americana pode complicar ainda mais as contas da empresa.
“Quando se trata de mercado emergente, precisamos entender o porquê o mundo inteiro não está na Argentina se os retornos são tão interessantes assim”, acrescenta o sócio da Blue3 Investimentos.
Uma das respostas para a pergunta é a aversão ao risco nos mercados globais diante dos conflitos dos últimos anos, com as guerras entre Rússia e Ucrânia e Israel e Palestina, além do aumento da taxa de juros dos Estados Unidos. Com esse cenário, os investidores estrangeiros e gestoras internacionais têm buscado ativos de maior qualidade para estarem posicionados em cenário cheio de incertezas.
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