Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, Renato Nobile, gestor da Buena Vista, afirmou que mais 5 ETFs de dividendos já estão prontos e no radar de estreia para 2026. Recentemente, a gestora lançou na B3 o ETHY11, que vai oferecer exposição a criptomoeda Ethereum, com pagamento de dividendos mensais de 2,5% e retorno com proventos que pode chegar até 30% ao ano.
O primeiro produto deste tipo da gestora, o SPYI11, completou dois anos em 14 de novembro, alcançando 19.363 cotistas. Desde o início, quando tinha 352 investidores, o salto foi de 5.401% desde o lançamento.
O destaque, porém, é o COIN11, que mistura bitcoin com proventos mensais acima de 2% ao mês por meio de opções de compra. Lançado em 13 de dezembro de 2024, tornou-se o maior ETF pagador de dividendos da B3 em número de cotistas, hoje com 20.512 investidores, um avanço de 89.083% desde os 23 cotistas iniciais.
Em conversa com o E-Investidor, Nobile detalhou a evolução da indústria e os planos da gestora para se firmar no segmento em 2026.
E-Investidor – Com a tributação de 10% sobre dividendos de ações acima de R$ 50 mil por mês, os ETFs que já pagam proventos e são taxados em 15% ganham competitividade? Podemos esperar migração de investidores e um destravamento da indústria?
Renato Nobile – O Brasil é um caos tributário e, por isso, essa mudança não altera tanto a dinâmica. Há incentivos diferentes no crédito privado, dividendos de ações que eram isentos, fundos imobiliários que favorecem pessoa física e não jurídica. São distorções que confundem mais do que ajudam. A taxação de dividendos acima de R$ 50 mil não traz grande vantagem para os ETFs e até deixa o mercado mais bagunçado. O ideal seria um equilíbrio, em que ações, ETFs e FIIs tivessem regras alinhadas. Também é contraditório o governo falar em estimular investimento na economia enquanto o ambiente empurra o investidor para a renda fixa.
Mas a tributação dos dividendos de ações não deve atrair mais cotistas para os ETFs que pagam proventos em 2026?
Eu não vejo 2026 como um ano de atração maior de investidores por causa da tributação, e sim pelo próprio produto. A indústria de ETFs começou 2025 com R$ 50 bilhões sob gestão e fechou outubro perto de R$ 72 bilhões, um avanço forte mesmo com juros altos. O fluxo já está acontecendo e tende a ganhar equilíbrio quando os juros caírem. Os ETFs que pagam dividendos ainda são poucos, mas o investidor começa a entender que pode gerar renda não só com ações e FIIs, como também com bitcoin, ouro e ETFs globais. Por isso enxergo 2026 como um ano favorável para a indústria.
Vocês ainda não têm um ETF de ações brasileiras. Por isso a tributação dos dividendos não é uma preocupação para a gestora?
Ainda não há comparação direta por não termos ETF de ações brasileiras, mas com a alíquota de 15% já existente, o investidor mantém vantagens. Ao montar carteira própria e trocar ações, ele paga também ganho de capital, então o ETF continua sendo mais eficiente. O governo quer arrecadar mais e isso pesa principalmente em quem era isento, não nos ETFs que já pagam 15%.
E a recente mudança na alíquota do juro sobre capital próprio (JCP) de 15% para 17,5% muda o jogo ou contribui com atratividade dos ETFs de renda?
Do ponto de vista dos ETFs de dividendos da Buena Vista, a proposta não muda a lógica de tributação: esses produtos já operam com alíquota de 15%, então, na prática, o tratamento tributário permanece o mesmo para o investidor.
Contudo, há um simbolismo maior. No comparativo com outras formas de renda, o efeito tende a ser positivo. Com a previsão de imposto de 10% sobre dividendos acima de R$ 50 mil por mês e a elevação da tributação do JCP para 17,5%, os ETFs de dividendos passam a ficar ainda mais competitivos como veículo de geração de renda, o que pode favorecer a migração de fluxo para esses produtos.
Mesmo com ano eleitoral, tributação e juros ainda altos, 2026 pode ser um ano de forte expansão para os ETFs?
Acredito que veremos novas gestoras, inclusive algumas das mais renomadas, entrando no mercado de ETFs em 2026. O volume deve crescer de forma relevante. Minha projeção é que a indústria feche 2025 com cerca de R$ 80 bilhões e consiga dobrar para perto de R$ 200 bilhões em 2026. Nos ETFs que pagam dividendos, mesmo com um mercado mais complexo, o interesse vem aumentando. Com a queda dos juros, esse movimento tende a acelerar e atrair ainda mais cotistas.
O que explica o salto de 5.401% no número de investidores do SPYI11, primeiro ETF da Buena Vista, nesses dois anos?
O crescimento do SPYI11 superou nossas expectativas, mas hoje ele não é o maior produto da casa. O COIN11, que completa um ano em dezembro, já soma 20.512 investidores, alta de 89.083% nos cotistas desde o lançamento, refletindo o forte apetite do brasileiro por cripto. Três fatores sustentam o favoritismo do SPYI11: exposição ao S&P 500, diversificação em dólar e um dividendo estável perto de 1% ao mês, independentemente da taxa de juros.
Quantos ETFs a Buena Vista pretende lançar em 2026 e quais segmentos devem se destacar?
Hoje temos 12 ETFs no mercado, dos quais 8 pagam dividendos. Para 2026, já temos 7 novos ETFs prontos para lançamento, sendo 5 deles focados em proventos. As grandes apostas para 2026 estão em cripto, com ETFs de um único ativo e de múltiplos ativos. O ETHY11, ETF de Ethereum que paga dividendos, foi lançado agora em dezembro, e estudamos modelos híbridos de cripto, inclusive em possível parceria com a Hashdex. Vemos também espaço para ETFs multimercados, combinando renda fixa e variável em estratégias locais e globais. Estamos desenvolvendo produtos nesse formato e também avançando em um ETF de ações brasileiras, que está praticamente pronto.