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- Gestora especializada em ESG, a FAMA lançou um fundo focado em empresas grandes emissoras de carbono.
- A ideia, segundo o fundador, Fabio Alperowitch, é levar o ativismo climático para dentro dessas companhias.
- Para ele, o investidor brasileiro é "dinheirista", e os conselhos de administração são as "piores instâncias" para falar de sustentabilidade.
A discussão sobre sustentabilidade nas companhias de capital aberto de setores como petróleo, mineração e agronegócio precisa passar pelos riscos financeiros que as empresas correm ao não adotar medidas de descarbonização, afirma Fabio Alperowitch, fundador da FAMA Investimentos, agora chamada de FAMA re.capital.
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Um dos principais nomes do mercado financeiro brasileiro em investimentos de impacto, com três décadas de experiência, Alperowitch diz que a demanda por fundos ESG ainda não chegou ao Brasil.
A casa lançou na última semana um novo fundo ativista ambiental, o LatAm Climate Turnaround FIA. Gerido por ativistas, financistas, advogados e cientistas do clima, o produto tem o objetivo de investir em ações de empresas com os maiores níveis de emissão de carbono e que ainda não investem o suficiente em políticas climáticas.
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Na sequência, a ideia é que já na condição de acionista seja possível apontar soluções de descarbonização, com base em dados científicos, para reduzir os gases de efeito estufa. Um dos diferenciais do produto é a presença do climatologista Carlos Nobre no projeto, o único brasileiro membro da Royal Society [a academia de ciência mais antiga do mundo] e integrante da equipe vencedora do Nobel da Paz em 2007.
A ideia, segundo Alperowitch, é levar o ativismo para dentro dessas companhias e mostrar que a falta de ações de sustentabilidade climática pode levar muitos negócios à bancarrota. “Queremos mostrar para a empresa o tamanho do risco que ela corre e já trazer a solução empacotada de uma maneira financeira “, diz.
E-Investidor – Qual a diferença do Climate Turnaround para o primeiro fundo lançado pela FAMA, também voltado para sustentabilidade?
Fabio Alperowitch – Os produtos são quase opostos. No primeiro eu invisto em empresas éticas, responsáveis e com cultura adequada. Ou seja, posso fechar os olhos por 10 anos e as empresas estarão melhores ao acordar. Esse outro fundo faz exatamente o oposto. São empresas poluentes, atrasadas ou paradas na questão da descarbonização. Portanto, se eu fechar os olhos e acordar em 10 anos, provavelmente haveria uma destruição de valor gigantesca. O novo fundo é um turnaround de verdade, já que a empresa precisa de uma intervenção ou ela vai destruir o seu valor.
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O fundo é voltado para brasileiros, mas considerando essa demanda mais forte no exterior, não faz sentido abrir para estrangeiros?
Vamos buscar investidores no exterior no primeiro semestre de 2024. Neste momento estou buscando só investidor brasileiro. O plano inicial era buscar só estrangeiros, mas faz uns 10 anos que só critico o fato de o investidor brasileiro não se importar com a pauta do clima. E justamente na hora de abrir um fundo que ia resolver esse problema, se tirasse do brasileiro, estaria perpetuando algo que eu critico. Então decidimos abrir primeiro para os brasileiros. Acho que teremos uma demanda maior por famílias no Brasil do que por investidores institucionais.
Uma das condições do fundo é a empresa estar disposta a melhorar sua performance em relação aos impactos climáticos. Nesse caso, por que elas não antecipam esse movimento?
Primeiro porque elas não têm essa intenção. Se as empresas tivessem, de fato, já teriam feito alguma coisa. Segundo porque as soluções não são óbvias. São soluções científicas e existe uma distância muito grande entre o mundo corporativo e o científico. Queremos mostrar para a empresa o tamanho do risco que ela corre e trazer a solução empacotada de uma maneira financeira. O nosso eixo de conversa é muito mais empresarial do que voltado para a sustentabilidade. Queremos falar com o CFO e não com o diretor de ESG. Eu não vou chegar para empresa e falar: olha, por favor, descarboniza suas operações porque o planeta precisa. Isso é fracasso na certa. A linguagem que funciona é a linguagem do dinheiro.
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Como o Conselho de Administração das empresas pode ajudar nas estratégias de negócios voltadas para a agenda ESG?
A nossa opinião é de que a participação no Conselho mais atrapalha do que ajuda. Eu já participei do Conselho de umas 12 empresas de capital aberto e é a pior instância para desenvolver questões de sustentabilidade. Dentro de uma sala com 11 homens brancos preocupados só com estratégia financeira, você é a única voz que traz um assunto diferente. Esse assunto nunca é para as reuniões e quando é pauta tem uma atenção muito reduzida e qualquer votação é 10 contra um.
Qual é o maior desafio para a adesão das empresas com metas de redução de emissões de carbono? Ainda é mais lucrativo não ser uma empresa verde?
Essas empresas precisam entender o tamanho do risco que estão correndo. No momento em que elas entenderem, talvez se tornem interessadas. As empresas estão completamente desconectadas da agenda porque focam somente no curto prazo. Existem 70 casos de litigância [denúncias] climática nas cortes brasileiras, mas isso é pouco falado. O CEO de uma empresa não está pensando em clima e corre um risco gigantesco. Por exemplo, uma empresa completamente desconhecida, há três semanas atrás, foi alvo de uma ação da AGU. Era um pecuarista de cinco mil hectares que recebeu uma autuação de R$ 292 milhões por desmatamento na Amazônia. É muito dinheiro. A ideia é mostrar para as companhias: olha, uma empresa dez vezes menor do que a sua recebeu uma ação de R$ 292 milhões. Você pode amanhã acordar com uma ação de R$ 3 bilhões. Vamos fazer alguma coisa para mitigar esse problema?
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Existe um aumento de demanda por fundos de investimento ESG?
Isso ainda não aconteceu no Brasil. Vemos um movimento no exterior muito forte, como nos Estados Unidos e Europa. O brasileiro infelizmente é “dinheirista” e despreocupado com essas questões.
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