Nord vê que o "trade Tarcísio" perdeu força nos últimos meses. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A um ano das eleições presidenciais de 2026, a Nord Investimentos vê que as expectativas para a vitória do candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) pioraram ao longo de 2025, mas ainda persistem e continuam sendo o cenário preferido da Faria Lima.
Para Renato Breia, sócio-fundador da Nord, Tarcísio está próximo do empresariado. “Seria o desejo da Faria Lima como um todo ter Tarcísio como presidente, um político que entende o que precisa ser feito no País e que tem o perfil técnico de prestar contas”, afirma.
Breia enxerga que o próximo ano pode reservar surpresas tanto para a direita quanto para a esquerda. Ele observa ainda que o “trade Tarcísio” — ou seja, a definição de posições com base na vitória do político — não está muito claro.
Na avaliação da Nord, de um lado, falta coesão à direita para consolidar o apoio a Tarcísio. De outro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda tem “cartas na manga” para impulsionar sua popularidade na corrida eleitoral – entre elas, a proposta em tramitação no Congresso que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
“O sentimento em relação ao ‘trade Tarcísio’ é pior agora do que nos últimos meses. Foi como colocar ‘água no chope’, mas as expectativas ainda estão vivas”, afirma Breia.
A Pesquisa Genial/Quaest, divulgada no começo de outubro, mostra que o presidente Lula leva vantagem sobre todos os possíveis adversários na eleição de 2026. O petista lidera em todos os cenários de 1º turno, pontuando entre 35% e 43% das intenções a depender da lista de candidatos.
A pesquisa aponta que o atual presidente ampliou a vantagem sobre Tarcísio. O governador de São Paulo vinha diminuindo a vantagem de Lula até maio, quando o resultado foi empate técnico de 41% a 40%, com o presidente numericamente à frente. Porém, desde então, a tendência se inverteu e Lula ganhou terreno até chegar aos atuais 45% de intenção de voto contra 33% de Tarcísio. A vantagem de 12 pontos percentuais (p.p.) do presidente sobre o governador é a maior registrada neste ano.
Para Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord, o mercado aguarda a definição de uma nova âncora fiscal, enquanto outros temas, como a reforma tributária, ficam em segundo plano. “Se não existir essa âncora, vamos entrar em uma trajetória de dívida pública explosiva”, avalia.
Quando se trata de investimentos, a Nord entende que o desempenho positivo da Bolsa brasileira e do real, em 2025, não ocorreu pela expectativa de uma mudança de governo. A própria casa não fez mudanças em seu portfólio baseadas na vitória de um candidato ou de outro.
“Não montamos posição dependente dos resultados das eleições em 2026. Evitamos montar aplicação em eventos binários. Olhamos os preços dos ativos”, diz Caio Zylbersztajn, sócio da Nord.
O que está na carteira da Nord às vésperas das eleições?
No Brasil, a casa entende que o ciclo de corte de juros será curto no próximo ano, preservando a atratividade da renda fixa. O País deve seguir um modelo no qual o Banco Central (BC) atua com o “pé no freio”, mantendo a Selic elevada, enquanto a política fiscal segue com o “pé no acelerador”.
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A casa tem privilegiado títulos indexados à inflação, que oferecem retornos interessantes antes do ano eleitoral, e mantém posições em pós-fixados, por proporcionarem maior flexibilidade e servirem melhor a portfólios mais defensivos.
Em relação à Bolsa, a Nord vê potencial de valorização, independentemente do resultado das eleições, sustentado pelos preços comprimidos dos ativos. “Se o mercado já tivesse subido muito, nossa leitura seria diferente”, pontua Breia.
A casa também considera arriscado entrar em 2026 sem exposição internacional. A Nord Wealth — braço focado em consultoria e gestão de patrimônio — mantém hoje cerca de 18% do portfólio investido no exterior, participação que tende a crescer, segundo seus sócios.
O otimismo está voltado especialmente para o setor de tecnologia nos Estados Unidos e para as oportunidades proporcionadas pela inteligência artificial (IA), que deve impulsionar ganhos de produtividade. Ainda assim, a alocação no segmento é menor do que no passado, por conta do nível elevado dos preços das big techs.
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Enquanto reduz parte da exposição à Bolsa americana, a Nord volta seus olhos para a China, com foco também em empresas de tecnologia, por meio de ETFs (fundos de índice).
No caso dos ativos alternativos, a casa acredita que o bitcoin tende a ganhar força em um contexto de avanço tecnológico, desvalorização de moedas globais e expansão fiscal nas principais economias. Já o ouro, que vem renovando recordes, pode passar por correções, a depender de como o mercado reagir aos riscos geopolíticos.