Investimentos

Serena Williams já investe pela filha. Você deveria fazer o mesmo

De forma complementar, os pais podem fazer investimentos mirando o futuro da criança

Serena Williams já investe pela filha. Você deveria fazer o mesmo
A tenista Serena Williams com o troféu do torneio de Wimbledon, e, 2012 (Foto: REUTERS//Reuters)
  • Alexis Olympia, filha de uma das maiores tenistas de todos os tempos, tem apenas 2 anos e já é sócia de uma empresa
  • A realidade de Serena Williams está, obviamente, muito distante da maioria esmagadora do restante dos pais ao redor do mundo
  • No Brasil não é comum que as crianças recebam uma educação com essa expectativa empreendedora

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Alexis Olympia Ohanian Jr. tem apenas 2 anos e já é sócia de uma empresa. Filha de ninguém menos que Serena Williams, uma das maiores tenistas de todos os tempos, a menina se tornou, em julho deste ano e ao lado de sua mãe e de outras mulheres famosas, uma das donas de uma nova equipe de futebol feminino dos Estados Unidos, com base em Los Angeles e chamada, por enquanto, de Angel City. O anúncio foi feito no perfil oficial  da menina no Twitter.

Segundo a Liga Nacional Feminina de Futebol (NWSL, na sigla em inglês), o empreendimento é liderado por Natalie Portman e tem como objetivo ser um “grupo majoritariamente formado por mulheres”. Outras famosas que integram o time de investidoras fundadoras são as atrizes Jessica Chastain, Jennifer Garner e Uzo Aduba. Alexis Olympia tem moral para estar ao lado desses nomes.

A realidade de Serena Williams está, obviamente, muito distante da maioria esmagadora do restante dos pais. Guardadas às devidas proporções, porém, o fato de ela ter feito um grande investimento em nome de Alexis Olympia enquanto a menina ainda tem tão pouca idade levanta algumas questões: vale a pena fazer investimentos para os filhos tão cedo? Que impacto isso pode ter no futuro deles?

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“Para um pai comum, o objetivo é formar uma poupança para seus filhos. O principal investimento que um pai deve fazer, antes de tudo, é o investimento na melhor educação e formação de seus filhos. Uma pessoa adulta bem educada e bem formada tem plenas condições de criar seu futuro. A boa formação é o único bem que ninguém tira dos seus filhos – e nem ele tem condições de jogar fora”, salienta João Zani, professor da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Ao mesmo tempo, de forma complementar, os pais podem fazer investimentos mirando o futuro da criança. Zani comenta que, no Brasil, ainda é muito forte a cultura de investimento em poupança, mas que se o objetivo for um retorno a longo prazo, é possível assumir um pouco mais de riscos para buscar  maiores retornos. Ele acredita, porém, que ainda falta educação financeira ao brasileiro para se arriscar nesse sentido e que muitos podem viver angustiados se aderirem ao mercado de risco.

Cuidados a serem tomados

Para a economista Ana Paula Iacovino Dávila, docente da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), a decisão de investir pelos filhos é bastante difícil, visto que não existe somente o capital, mas um amplo conhecimento sobre o setor no qual será realizado o investimento. Exige, também, um planejamento detalhado, com objetivos e metas que se deseja alcançar.

“Acredito que pode ser uma opção para os pais que já têm certa expertise, que são empresários, por exemplo. Para essas pessoas, essa deve ser uma opção considerada, pois o negócio pode crescer junto com a criança”, diz. “Quando ela chegar na fase adulta, o empreendimento também já estará maduro e pode trazer estabilidade e garantias. É preciso, portanto, ter um conhecimento que vai além de meramente possuir o capital”, pontua, complementando que os pais não devem se deixar pela “emoção” ao realizar um investimento, pois isso pode ser tornar um problema para toda a família.

Deve-se, ainda, ter cuidado para que esses investimentos não prejudiquem a criança na formação de sua personalidade. A economista da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Cristina Helena Pinto de Mello comenta que um investimento como o feito por Serena Williams em nome da filha pode ter reflexos no ego da criança e na forma com que ela encara o mundo.

“Tem uma consequência que vai além da questão econômica e impacta na formação da persona da criança, que vai crescer ouvindo que é dona de um time de futebol. Uma criança não aprende desde cedo a administrar recursos, a se conter, a descobrir as suas próprias potencialidades, desejos e vocações. Isso é algo que também acontece com herdeiros. Esse é um cuidado que tem que ser tomado”, alerta.

Existe um investimento ideal?

Para os pais que desejam investir pensando no futuro do filho, Ana Paula pontua que não existe um “modelo ideal único” de investimentos, sendo que o primeiro passo é se atentar ao perfil da pessoa que deseja realizar o investimento.

Já para aqueles que têm um perfil um pouco mais conservador, a professora da Faap diz que a tendência é recomendar o Tesouro Direto e as modalidades que existem dentro dessa categoria.

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Apesar de haver incidência no Imposto de Renda (IR), a economista diz que se trata de um investimento bastante seguro por envolver títulos públicos federais. Além disso, historicamente, as aplicações a longo prazo do Tesouro Direto tendem a trazer uma boa remuneração.

“Outras opções são as Letras de Crédito Imobiliário ou Agrícola. Elas também são pré-fixadas, então assim como ocorre com o Tesouro Direto, não há surpresas no resgate, com a diferença de que são investimentos em renda fixa isentos de IR”, afirma.

Por fim, para um perfil mais arrojado, a Bolsa de Valores é sempre uma opção, mas a economista reforça que aplicar na Bolsa requere conhecimento. “Ela é ideal também para o longo prazo, pois no curto prazo pode haver uma perda. Por outro lado, no longo prazo pode trazer retornos maiores do que as aplicações de perfis conservadores”, complementa.

Fomentando uma cultura empreendedora

É comum nos depararmos com casos da América do Norte de crianças empreendedoras. Um exemplo bastante citado em matérias jornalísticas sobre o assunto é a empresa Me & the Bees Lemonade, fundada por Mikaila Ulmer, que mora em Austin, no Texas. Quando a jovem ainda era criança, teve a ideia de comercializar uma receita de família de limonada.

Resultado: a empresa está há 10 anos no mercado e ainda cumpre uma importante função social, já que uma porcentagem dos lucros é destinada a projetos de proteção às abelhas.

Mas por que no Brasil não vemos histórias parecidas com a de Mikaila? Os especialistas entrevistados pela reportagem deixam muito claro que nada tem a ver com a criatividade das crianças brasileiras, visto que o povo brasileiro, em geral, é muito criativo.

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“Em contrapartida, no Brasil não é comum que as crianças recebam uma educação com essa expectativa empreendedora. Ao não educá-las com esse objetivo, também não ouvimos a criança com a seriedade necessária. Isso dificulta a percepção de que uma ideia ‘infantil’ possa resultar num empreendimento; os pais não estão preparados para isso. A semente precisa cair em terreno fértil. Nos Estados Unidos, esse é um aspecto bastante forte da cultura”, opina Ana Paula Iacovino Dávila, da Faap.

Nos Estados Unidos há uma cultura bem mais forte, em comparação com o Brasil, de educação empreendedora e financeira. Desde cedo as crianças aprendem a trabalhar com o dinheiro, cuidar e fazer escolhas inteligentes.

“O espírito empreendedor pode ser fomentado a partir da educação, do exemplo, da liberdade para experimentar e criar. É importante lembrar que ter ‘insucesso’ num negócio na cultura americana é aceito e até elogiado – faz parte do processo”, diz João Zani, da Unisinos. “No Brasil, ter insucesso é vergonhoso. Isso faz muita diferença e inibe o empreendedorismo. Sabemos o quão complicado e arriscado é empreender por aqui. Na maioria dos casos acontece por necessidade [falta de opção], e não por oportunidade. E se os pais não possuem a cultura, é difícil esperar que as crianças criadas por eles tenham.”

No mesmo sentido, Cristina Helena, da ESPM, complementa que ainda há muitos entraves para empreender no Brasil, independentemente da idade. Ela afirma que ainda não há no País uma cultura de inovação, instituições que apoiem iniciativas e facilidades para obtenção de crédito. Por aqui, reforça a economista, há custos elevados para dar o pontapé inicial em um novo negócio, o que explica a elevada informalidade.

Entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, por exemplo, a taxa de informalidade no mercado de trabalho brasileiro foi de 40,6%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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“Precisamos e podemos corrigir nossos impedimentos e criar uma cultura empreendedora. Isso envolve a formação dos nossos jovens. A escola tem um papel importante na criação desse ambiente, por meio do estímulo da autonomia, do pensamento crítico, do conhecimento de regras do ambiente econômico, habilidades de cálculo, entre outras”, finaliza Cristina.

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