

Com a proposta de unir retorno financeiro e transformação ambiental, o 8th Wave Fund, novo fundo global da X8 Investimentos, pretende investir em até 80 empresas ligadas à chamada economia azul – negócios de crescimento com potencial de impacto positivo em oceanos, rios e comunidades costeiras.
A intenção é buscar retorno anual de 35% a 40% com startups ligadas a essa temática. “Buscamos negócios que possam devolver, em média, de 4,5 a 5 vezes o capital investido”, diz Carlos Miranda, fundador da X8, que agora lança seu quarto fundo de investimentos, dessa vez em parceria com Pierre Schurmann, fundador da Bossa Nova Investimentos, e David Schurmann, cineasta, ativista ambiental e CEO da Voz dos Oceanos, ONG criada pela família Schurmann de velejadores.
Miranda conta que sua gestora, com 15 anos de vida, se especializou em investir em empresas de rápido crescimento, focadas em bons negócios, que entregam robustos resultados financeiros e são tocadas por empreendedores excepcionais. “Já teve negócio aqui que deu 15 vezes o capital investido.”
ESG traz impacto e retorno
Agora sob a égide do ESG, o novo fundo nasce com US$ 200 milhões sob gestão, mira setores como energia limpa, turismo sustentável e tecnologia, combinando inovação e preservação com resultados mensuráveis.
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“Quando o investidor entende que está colocando dinheiro em um bom negócio, ajudando a deixá-lo ainda melhor e, de quebra, aumentando a chance de retorno, ele vê que é um ganha-ganha”, diz Miranda sobre a temática do fundo. “Você não precisa explicar muito o ESG quando mostra que impacto positivo traz retorno. É para ganhar dinheiro, mas tem que gerar impacto. Esse sempre foi o nosso compromisso”, diz.
A intenção do executivo é ampliar o acesso ao fundo aos investidores pessoas físicas que compartilham do propósito de gerar impacto positivo. “A gente já trabalha com diferentes camadas de captação, desde investidores institucionais e fundos de fundos, até family offices e pessoas físicas de alta renda. Mas existe, sim, uma estrutura pensada para cheques menores”, diz. A expectativa é de que, em até um ano, o 8th Wave esteja preparado para receber aportes menores por meio de clubes de investimento ou estruturas dedicadas.
Enquanto isso não acontece, o foco da X8 está na montagem do portfólio, garimpando empresas com potencial de impacto e retorno. Miranda concedeu a entrevista de Paris, onde participa do ChangeNow. O evento é uma vitrine de soluções inovadoras, reunindo mais de 1.000 iniciativas selecionadas por seu impacto positivo e potencial de escala.
O 8th Wave Fund segue a lógica tradicional de private equity, com um ciclo estimado de dez anos: quatro anos para investir, quatro para desinvestir e até dois adicionais, caso necessário. “A média que trabalhamos é de sair completamente das posições por volta do nono ano”, explica Miranda.
As soluções que estão no radar
Entre as oportunidades mapeadas pela gestora, algumas soluções inovadoras chamam a atenção pela capacidade de aliar impacto ambiental positivo e viabilidade econômica. Uma delas é uma startup que transforma sargaço em biofertilizante.
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David Schurmann conta que essa alga marinha vem se acumulando em grandes volumes no Atlântico Norte, prejudicando o turismo em regiões como Cancún. “Estamos entendendo o impacto disso. Em vez de usar químicas para fertilizantes, temos uma alternativa natural. Esse é um exemplo de iniciativas que estamos buscando”, comenta o cineasta.
Outros segmentos em foco incluem startups de bioplástico – voltadas à substituição de plásticos descartáveis por materiais verdadeiramente degradáveis – e projetos internacionais, desenvolvidos no Chile, Noruega e Austrália, que testam escalabilidade sem comprometer os ecossistemas marinhos. Iniciativas no Brasil também estão no radar. “O desafio é encontrar soluções que possam ganhar escala industrial sem gerar novos impactos nos oceanos, que não têm fronteiras”, completa.
A geração de energia por ondas também integra o radar de investimentos. Países nórdicos, por exemplo, já testam boias inteligentes capazes de converter o movimento do mar em eletricidade. “Tem muita coisa acontecendo, muito mais do que há cinco anos atrás, quando a gente começou a Voz dos Oceanos.”
Investindo com propósito
David Schurmann afirma que os 40 anos de navegações de sua família os fizeram sentir o sofrimento dos oceanos, seja pelo lixo que recolheram, seja pela pesca descontrolada. Projetos relativos a aquicultura, aliás, estão fora do escopo de investimento do fundo. “Quando meu filho tinha 10 anos, percebi que ele talvez nunca veja o oceano que eu vi”, diz o ativista.
O ponto de virada que fez a família decidir agir aconteceu há 15 anos, quando passaram pelo Ponto Nemo, a região mais isolada do planeta, no meio do Oceano Pacífico. “A gente foi a umas ilhas dentro dessa região e, para o nosso choque, as praias estavam lotadas de resíduos. Aquilo mexeu conosco, vimos que precisávamos fazer alguma coisa.”
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