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- A cada ano, nota-se um esforço maior na consolidação da oferta de serviços e produtos ligados às boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa que formam a sigla ESG
- Os players que já desbravam o terreno ESG na previdência estão satisfeitos com o cenário atual. Mas a perspectiva é de reforçar os portfólios existentes, com mais presença fora do País, e criar produtos mais acessíveis
- Na avaliação do Bradesco, em até 24 meses seria possível ver o segmento ESG concentrando de R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões no mercado de previdência
A ideia de um mundo mais sustentável continua ganhando tração nos mercados globais, efeito que também se reflete nos investimentos. A cada ano, nota-se um esforço maior na consolidação da oferta de serviços e produtos ligados às boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa que formam a sigla ESG.
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A urgência da pauta é tão expressiva que o assunto foi o cerne da tradicional carta de Larry Fink, presidente e CEO da BlackRock, endereçada a CEOs de todo o mundo no começo deste ano. “Quanto mais a sua empresa demonstrar seu propósito em entregar valor aos seus clientes, seus colaboradores e suas comunidades, melhor será sua capacidade de competir e entregar lucros duradouros, de longo prazo, para os acionistas”, escreveu Fink.
Na prática, esse compromisso se traduz em investimentos direcionados em ativos, ações ou títulos de dívidas de empresas reconhecidas e comprometidas com os princípios ESG. Na carta, Fink também afirmou que, em 2020, as empresas com propósito registraram um desempenho superior do que seus pares e que US$ 288 bilhões foram direcionados pelos gestores em ativos sustentáveis – um salto de 96% em relação a 2019.
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Nessa toada, a indústria brasileira de previdência começa a avançar e ganhou dois novos produtos na última semana. O Bradesco (BBDC3) lançou dois fundos previdenciários ESG, sendo um concentrado em ativos de renda fixa e o outro em ativos de renda variável. Ambos são exclusivos para investidores qualificados, para quem possui certificação ou pelo menos R$ 1 milhão investidos.
“Temos a responsabilidade, enquanto sociedade, de estimular a causa. Foi com isso na cabeça que pensamos nesses produtos, que não só fazem sentido comercialmente, mas que fazem as pessoas pensarem mais”, afirma Estevão Scripilliti, superintendente do departamento financeiro e de investimentos da Bradesco Seguros. “Se ganharem escala, poderemos ajudar as empresas a se engajarem mais. Não só nas palavras, mas também nas boas práticas.”
O diferencial dos fundos está na exposição internacional, com 40% de aportes no exterior. Segundo Scripilliti, a agenda ESG está mais madura e com mais alternativas em outros países, se comparados ao estágio atual do Brasil. Já os 60% restantes das alocações devem seguir os critérios de avaliação da BRAM, a asset do Bradesco.
Agenda importante, mas ainda sofisticada
O lançamento do Bradesco sinaliza que ainda há muito terreno a ser explorado pela indústria previdenciária brasileira na criação de produtos ligados às boas práticas ESG. A oferta de fundos com essas características, contudo, ainda é direcionada para investidores de alta renda.
Isso acontece, entre outros fatores, porque os gestores preferem buscar melhores performances com ativos internacionais até o máximo de alocação permitida para esse perfil (40%). Para o investidor comum, o limite é de até 20% de alocação internacional.
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Se a oferta de produtos mais acessíveis vai se concretizar, é necessário acompanhar o desenvolvimento da indústria. A expectativa é que os produtos continuem buscando oportunidades fora do Brasil.
A pesquisa “Tendências de Investimentos 2021”, realizada pela consultoria Mercer com 53 entidades de Previdência Complementar, mostrou que 64% delas possuem R$ 3,5 bilhões em investimentos no exterior. Entre os fundos com patrimônio acima de R$ 2 bilhões, há a intenção de expandir a presença fora do Brasil, de modo que 88% dos fundos consultados com esse perfil projetam incrementar em 73% sua alocação internacional ainda em 2021.
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De acordo com o estudo, o aumento de alocação fora do País é resultado da expectativa de menor retorno ou maior risco no mercado brasileiro, permanência da taxa Selic em patamares baixos e melhores produtos e fundos de investimentos globais.
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Quanto ao foco na agenda ESG, a pesquisa mostra ainda que 64% dos maiores fundos consultados indicaram que possuem uma política para investimento responsável. Ainda assim, 41% afirmam que pretendem melhorá-la.
Roberto Teixeira, diretor estatutário da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), reconhece que o segmento ESG ainda se concentra em produtos para um público de maior poder aquisitivo, mas ele está otimista para a expansão da oferta entre grupos de outras faixas.
“O movimento ESG começa no segmento de alta renda porque ainda é uma questão mais sofisticada. Mas já observamos uma tendência evidente de aumento de demanda para os demais segmentos, até chegar no público geral”, diz Teixeira.
Indústria animada
Os players que já desbravavam o terreno ESG na previdência estão satisfeitos com o cenário atual. Com números robustos, as perspectivas são de reforçar o portfólio existente e criar produtos mais acessíveis.
“Nossa estratégia é fomentar um portfólio mais amplo, buscando alocações internacionais”, diz Roberto Teixeira, head da XP Seguros. “Esse planejamento tem um apelo para a alta renda, mas nós planejamos desenvolver isso para o público geral ainda em 2021”, diz Teixeira.
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A XP possui atualmente dois produtos associados às boas práticas ESG. O VRB foi primeiro lançado pela empresa, em dezembro de 2019, e tangencia a sigla apenas no aspecto social. O fundo conta com R$ 70 milhões em volume de aporte e 160 investidores qualificados. Já o segundo, o JGP Ações ESG, foi para o mercado em junho de 2020 e possui R$ 20 milhões de patrimônio, com 522 cotistas do público geral.
No caso da Brasilprev, líder de mercado, a leitura é de que há espaço para produtos ESG “puros”, mas também há intenção de criar soluções mistas, que atendam metodologias de avaliação baseada nas boas práticas ambientais, sociais e de governança.
“Além da alta renda, notamos uma tendência de maior aceitação entre investidores mais jovens, com mais conhecimento do mercado financeiro e que já diversificam seus investimentos na Bolsa, por exemplo”, diz Jorge Ricca, diretor financeiro da Brasilprev. “Esse grupo já está de olho em opções que consideram os pilares ESG em sua modelagem e gestão.”
Atualmente, a carteira de fundos e letras financeiras verdes (LFVs) da empresa acumula R$ 1,1 bilhão em ativos sob gestão. Entre os principais fundos e alocações, Ricca destaca o TOP ASG, lançado no primeiro semestre de 2019, com R$ 290 milhões em ativos sob gestão e o Private Brasilprev ASG FIC , com R$ 130 milhões em ativos geridos.
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Sem metas definidas, o Bradesco também espera aumentar sua atuação nessa nova frente de mercado. Com os dois fundos lançados, Scripilliti torce para ver os fundos chegarem a R$ 1 bilhão em um ano.
“Preferimos fazer a abertura para o investidor qualificado no primeiro momento, para ter maior exposição ao investimento no exterior. O segundo passo é ter um veículo para o investidor não qualificado, com 20% de alocação fora do Brasil. Nos próximos meses podemos ter essas alternativas”, afirma o superintendente da Bradesco Seguros.
Em uma estimativa conservadora, Scripilliti avalia que o segmento ESG pode atingir um patamar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões no mercado de previdência em até 24 meses. Hoje, o valor não passa de R$ 1 bilhão. Segundo o superintendente, o banco poderia disputar de 20% a 30% desse mercado.