

Os fundos de índice, também conhecidos como ETFs (Exchange Traded Funds, na sigla em inglês), poderão ser os grandes beneficiados de um novo fenômeno do mercado financeiro. Desde fevereiro, investidores brasileiros começaram a receber relatórios trimestrais detalhando os custos de seus investimentos, conforme exigido pela Resolução CVM 179.
Pela primeira vez, corretoras foram obrigadas a expor as taxas de distribuição, comissões pagas a assessores e a divisão dessa receita com a própria plataforma e fundos de investimento.
Uma despesa que pode chegar a milhares de reais para clientes que nunca souberam exatamente o quanto estavam pagando pela indústria que está por trás do simpático sorriso do assessor de investimentos. Um choque de realidade similar ao que aconteceu com os investidores americanos há mais de 20 anos.
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“Nos Estados Unidos, um movimento semelhante de transparência regulatória no início dos anos 2000 expôs os altos custos dos fundos e impulsionou a indústria de ETFs, hoje uma das maiores do mundo”, comenta o analista Eduardo Mira, colunista do E-investidor. Diante da transparência, argumenta, os investidores tendem a optar por veículos de menor custo e maior retorno líquido.
“Muita gente já tem me perguntado o que é isso. As pessoas começam a se questionar sobre as taxas que as corretoras acabam levando, ou quando os assessores vendem COE (Certificado de Operações Estruturadas), ou empurram fundo ruim”, afirma.
Tempo é dinheiro
O gestor de multimercado Eduardo Grübler, da Asset Management Warren (AMW), argumenta que o custo de um fundo não significa falta de rentabilidade para o cliente, porém, o custo tem o potencial de tirar retorno. “Quanto menor o custo, melhor a rentabilidade para o cliente”, ressalta.
No longo prazo, as taxas têm o poder de corroer os retornos. Um fundo que cobra 2% ao ano precisa superar o mercado em pelo menos 2,5% para valer a pena, compara Eric Balchunas, analista sênior de ETFs da Bloomberg Intelligence nesta entrevista. Um investimento de US$ 10 mil a 8% ao ano vira US$ 350 mil em 50 anos, mas cai para US$ 150 mil se o retorno for reduzido para 6%. Ou seja, o investidor pode perder até 60% do potencial ganho.
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E o custo não se resume apenas às taxas, mas também à possibilidade de acessar diferentes estratégias com investimentos muito menores. É nesse contexto que os ETFs vêm ganhando força. Um exemplo é a estratégia de menor volatilidade, amplamente reconhecida por gestores como uma das mais eficientes para obter retornos consistentes no longo prazo e que foi “traduzida” no fundo LVOL11, que segue as empresas de menor volatilidade do Ibovespa.
“Antes o cliente final teria de ir ao mercado, reservar boa parte do seu capital para comprar dezenas de empresas para ter esse tipo de estratégia. Hoje, com poucos reais o investidor pode ficar exposto a essa estratégia”, diz o gestor.
Resolução CVM dá uma força
Mesmo com uma tendência já consolidada, Grübler argumenta que a Resolução CVM 179 poderá acelerar esse processo de popularização dos ETFs. Patrimônio de fundos de índice chega a R$ 58 bilhões em janeiro, alta de 7,4% em relação a dezembro.
Com os custos dos investimentos ficando mais transparentes, se reduzem incentivos que antes favoreciam produtos com taxas embutidas e repasses de comissões a assessores. Diferentemente de fundos tradicionais, os ETFs não geram rebates para intermediários, o que pode mudar a lógica de recomendação de investimentos.
“Teria de acontecer alguma coisa muito diferente para a gente não seguir o caminho da Europa e EUA, onde já vemos uma grande adoção (de ETFs)”, comenta Grübler. Nesses mercados, o modelo de remuneração fixa, atrelado ao patrimônio sob gestão, se tornou dominante, favorecendo produtos mais eficientes e baratos.
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Christopher Galvão, analista de fundos da Nord Investimentos, prefere não avaliar qual será o efeito da Resolução 179 sobre os fundos de índice, “até porque seu objetivo não é tratar dos ETFs especificamente”.
Para ele, o crescimento dos fundos passivos no Brasil tem sido impulsionado pela diversidade de estratégias. Novos ETFs com diferentes propostas têm surgido, como os primeiros fundos pagadores de dividendos lançados pela Nubank (NDIV11) e o FOMO11 da Hasdex, que procura capturar as tendências do mercado cripto, trazendo uma referência clara ao “Fear of Missing Out”, medo de perder oportunidades.
Um longo caminho de crescimento
Galvão enxerga um longo crescimento para o segmento. “Os ETFs ainda representam apenas 0,5% do mercado de fundos no Brasil, um percentual muito inferior ao dos Estados Unidos, onde ultrapassam 20%”, comenta. Para ele, essa presença mais maciça dos ETFs na indústria americana se dá pelas dificuldades dos gestores de baterem consistentemente índices como S&P 500 e Nasdaq. Melhor simplesmente investir num fundo que segue esses indicadores. Mas é claro que isso nem sempre é verdade. O Fundo XP Investor FIA, usado no gráfico acima, bate o Ibovespa, sua referência, em mais de três vezes desde seu início há quase 20 anos.
No geral, os ETFs são mais baratos que os fundos ativos porque sua estrutura exige menos recursos. Enquanto a gestão ativa demanda uma equipe maior, com economistas e analistas para definir estratégias e tomar decisões constantes, um ETF segue uma metodologia pré-definida, exigindo uma estrutura mais enxuta. Isso reduz custos operacionais e resulta em taxas menores para o investidor.