H&M chega ao Brasil neste sábado (23) (Foto: Adobe Stock)
A varejista de moda sueca H&M desembarca no Brasil oficialmente neste sábado (23), após uma longa espera dos fãs da marca. A chegada foi anunciada há dois anos, em julho de 2023, e, apesar da movimentação e expectativa em relação à companhia, ainda não se sabe exatamente os efeitos que uma nova varejista pode causar nas empresas já atuantes no País, como a Lojas Renner (LREN3) e a C&A (CEAB3), embora especialistas já tenham suas apostas.
Essa primeira inauguração acontece no Shopping Iguatemi, no bairro Jardins, em São Paulo. A entrada da companhia no e-commmerce brasileiro será na mesma data. Ainda, uma segunda loja já está prevista para inaugurar no dia 4 de setembro no Shopping Anália Franco, na zona leste da capital paulista.
A loja do Iguatemi terá cerca de mil metros quadrados e contará com moda feminina, acessórios e underwear (roupas íntimas), enquanto a unidade do Anália Franco terá quase 2 mil metros quadrados e trará itens de moda feminina, masculina e infantil.
Expansão da super varejista no mercado brasileiro
Além das duas primeiras inaugurações, a marca também anunciou mais dois endereços: um no Morumbi Shopping, também em São Paulo, e o outro no Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas (SP). A data de estreia dessas duas lojas ainda não foi divulgada.
A varejista, para dar início às operações no País, firmou parceria com o Dorben Group, empresa que opera 70 lojas de luxo em 10 países por meio de joint ventures, franquias e acordos de distribuição na América Latina.
“Esse é um passo fundamental na nossa jornada para oferecer moda acessível e com estilo a ainda mais clientes na América Latina”, diz Joaquim Pereira, gerente de vendas da H&M Brasil, em comunicado divulgado pela empresa. “Estamos muito empolgados em finalmente abrir nossas portas no Brasil
um país repleto de criatividade, cultura e estilo”, conclui.
Atualmente, a H&M tem operações em 11 países da América Latina: México; Peru; Uruguai; Chile; Colômbia; República Dominicana; Equador; Guatemala; Panamá; Costa Rica; e agora também no Brasil.
Como ficam as ações de Renner e C&A com a chegada na H&M no Brasil?
Na avaliação do analista Ruben Couto, do Santander, o momento é de cautela para a Renner com a entrada da H&M no Brasil. Apesar disso, Couto avalia que o modelo de negócios da empresa de moda brasileira segue robusto. Ele lembra que as vendas de vestuário têm características defensivas, como baixo tíquete médio, relevância de datas comemorativas e menor dependência do crédito, o que deve ajudar a companhia a atravessar um cenário de consumo mais enfraquecido.
“Mesmo admitindo um terceiro trimestre mais brando, não acreditamos em uma deterioração adicional das condições”, disse, reforçando que veem a Renner como uma das histórias mais atraentes na cobertura de varejo no Brasil.
Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, avalia que a sueca vai desembarcar no Brasil em um momento um tanto complexo: de juros nas alturas, comprometimento da renda das famílias e indicadores de inadimplência altos.
Para Sant’Anna, a chegada da varejista internacional não deve impactar as tradicionais marcas. “Pelo menos por enquanto”, acrescenta. Isso porque, apesar da tentativa dos suecos de experimentar o mercado brasileiro, muito ligado à moda, a chegada da varejista ainda é tímida, com apenas quatro lojas confirmadas.
“Além disso, o público brasileiro tem muitas peculiaridades, principalmente na questão trabalhista e tributária. Certamente encontrará dificuldades em encontrar seu público, pois o brasileiro gosta de preço, marca e qualidade, e os três pontos são complicados de equilibrar na mesma loja”, comenta.
Além disso, Arthur Horta, sócio da The Link Investimentos, afirma que a marca pretende lançar as mesmas coleções que lançam na Europa, no Brasil, o que pode ser uma questão delicada e prejudicial para a sueca. “O clima interfere muito na coleção que está sendo vendida nas lojas, e a gente está falando de uma marca de uns países mais frios do mundo entrando num país tropical. Por isso eu acho que no momento elas não vão ser nem um pouco, não vai ser considerado nenhum tipo de ameaça ou uma competição acirrada”, diz.
A marca porém, parece ter estudado o público brasileiro. “A chegada aparenta ser um movimento global da marca, que vem apostando fortemente em mercados emergentes, como é o caso do Brasil. A estreia veio acompanhada com uma campanha robusta, mostrando aí que eles querem se conectar com o consumo brasileiro, com o estilo, com a diversidade”, avalia Caroline Sanchez analista da Levante Inside Corp.
A campanha, comentada por Sanchez, foi postada pela H&M nas redes sociais, e contou com a presença de artistas de peso. Anitta, Gilberto Gil, Agnes Nunes e Caroline Trentini são só alguns deles.
“Falando de preços, quando a gente olha os números do tíquete médio em relação aos players já consolidados aqui nacionais, a gente vê, por exemplo, que Renner tem um tíquete médio total de vendas ali na faixa dos R$ 227. A C&A não divulga, mas nas nossas estimativas, o tíquete médio deles fica em torno de 210, 220, e Riachuelo na mesma linha. Isso tem um impacto competitivo muito forte, além das marcas nacionais, já serem muito enraizadas”.
Por conta do tíquete médio baixo das competidoras da H&M, a analista vê que o impacto nas ações e resultados das varejistas, devido a entrada da sueca no País, vêm apenas ao longo prazo, com a abertura de mais e mais lojas ao longo dos anos e conforme a marca ganhe popularidade entre os brasileiros. “Desse modo, na minha visão, a chegada da H&M aqui não é uma ameaça, principalmente considerando todos esses pontos”.
Jonas Carvalho, CEO da Hike Capital, concorda. Para ele, o posicionamento de marca da H&M está mais próximo à espanhola Zara do que às varejistas brasileiras. “Embora existam alguns produtos que possam competir com Renner, Riachuelo e C&A, essas redes têm um público mais amplo”, diz o analista, e reforça os preços mais acessíveis como forte fator de decisão de compra do público nacional.
“Além disso, a escolha da H&M por inaugurar lojas em shoppings de maior renda reforça seu foco em consumidores que buscam tendência internacional e valor agregado, mas ainda em uma faixa de preço abaixo do luxo. Por isso, o impacto sobre as grandes varejistas nacionais tende a ser mínimo, sem escala ou direcionamento de público suficientes para alterar a dinâmica do setor”, complementa.
Para o mercado acionário, de acordo com Carvalho, não deve haver pressão relevante nas ações de Renner, Riachuelo ou C&A. Considerando todos os apontamentos, a chegada da H&M apenas é um sinal de que o Brasil continua atraente para marcas globais de moda, sem efeito material no curto prazo sobre a performance das companhias locais. Horta tem a mesma percepção:
“Os investidores da Renner e da C&A têm que ver com bons olhos essa chegada da H&M, porque mostra que uma grande empresa respeitada globalmente vê, no Brasil, um terreno fértil”, afirma.
O analista complementa ainda que, se existe uma marca desse porte entrando no País, é porque o setor ainda pode dar lucro e ter possibilidades de expansão, crescimento e geração de caixa o que, inclusive, deve ser motivo do comemoração para os investidores de varejistas brasileiras, e não receio.
Veja quanto vai custar comprar na H&M
Com a inauguração da primeira loja da H&M no Brasil prevista para sábado, ainda não foram divulgados os preços oficiais em reais. No entanto, os valores praticados no site internacional da rede ajudam a ter uma noção de quanto poderão custar as peças por aqui.
Na seção feminina, os preços variam bastante. Entre as calças, por exemplo, há desde shorts por 7,99 € (cerca de R$ 50,86 na cotação atual) até modelos que chegam a 390 € (R$ 2.482,50). No caso das jaquetas, os valores começam em 17,99 € (R$ 114,51), podendo ultrapassar a marca de 1.149 € (R$ 7.313,83) em peças premium, como um sobretudo de couro com efeito de crocodilo.
As camisas e camisetas custam entre 12,99 € (R$ 82,69) e 150 € (R$ 954,81), enquanto cardigans e pullovers variam de 9,99 € (R$ 63,59) a 179 € (R$ 1139,40). Já os vestidos aparecem tanto como a peça mais acessível da coleção feminina — 4,99 € (R$ 31,76) — quanto entre as mais caras, com modelos de até 450 € (R$ 2864,42).
Na seção masculina, a variação também é grande. As calças e bermudas vão de 19,99 (R$ 127,24) a 299 € (R$ 1.903,25), os moletons custam entre 14,99 € (R$ 95,42) e 99 € (R$ 630,17), e as camisetas aparecem como opção mais barata, a partir de 6,99 € (R$ 44,49). Por outro lado, peças mais estruturadas, como camisas, podem chegar a 129 € (R$ 820,50).
A linha infantil, que atende desde recém-nascidos até adolescentes de 14 anos, também oferece opções em diferentes faixas de preço. Um body simples pode ser encontrado por 3,99 € (R$ 25,40), enquanto a peça mais cara é um sobretudo para crianças de até 8 anos, por 129 € (R$ 820,50).