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Quem é a Ideal, a corretora que conquistou os grandes investidores

O Itaú Unibanco anunciou a compra da corretora digital, criada em 2019, em duas etapas

Quem é a Ideal, a corretora que conquistou os grandes investidores
Investidor caminha pela Bolsa de Valores de São Paulo, onde investem em small caps e blue chips (Foto: Werther Santana/Estadão)
  • A Ideal decidiu, desde o seu início, transformar esse custo fixo de dezenas de milhões de reais para construir um datacenter em variável, ao montar um parque virtual na nuvem
  • A corretora não detém tesouraria ou gestora, algo que pode criar algum tipo de conflito com os clientes.

Os investidores institucionais movimentam grandes números na Bolsa de Valores. No mercado futuro, que utiliza um instrumento financeiro chamado derivativo, eles respondem por cerca de 70% dos negócios. No primeiro semestre de 2020, momento em que a covid-19 derrubou os mercados, o volume total de contratos negociados atingiu 4,04 bilhões. Por isso, é natural que grandes investidores, como fundos, seguradoras, bancos, family offices entre outros sejam atendidos, também, por uma grande corretora do mercado, seja ela nacional ou internacional, certo? Errado.

No primeiro ano bagunçado pelo coronavírus, uma novata desbancou casas tradicionais e assumiu a liderança desse segmento, com 15,8% de participação. Trata-se da Ideal Corretora, que foi criada em fevereiro de 2019 e, desde então, tem provocado o imaginário do setor financeiro: quem está por trás dessa misteriosa instituição?

Itaú Unibanco enxergou o diferencial e fez sua aposta. No dia 13 de janeiro de 2022, fez um acordo para comprar a corretora Ideal no primeiro movimento do conglomerado no setor desde que vendeu participação na XP.  O contrato de compra por até 100% do capital social ocorre em duas etapas. O Itaú pagará cerca de R$ 650 milhões por uma participação de 50,1% na Ideal e terá o direito de adquirir os 49,9% restantes após cinco anos.

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Muitas dúvidas nasceram pelo modelo escolhido pela Ideal para trabalhar com os grandes investidores. Em vez da costumeira ordem de compra e venda por telefone, a neófita apostou na digitalização desse processo. Pode parecer um contrassenso, mas as maiores transações do mercado financeiro ainda ocorrem pelo meio analógico, como no século XX, através de uma ligação telefônica. O gestor precisa “discar” o número da corretora e falar para o intermediário qual é a operação que ele quer fazer.

É bom lembrar que para o cliente de varejo essa desintermediação acabou há mais de uma década, quando as plataformas eletrônicas de negociação (home broker) foram criadas. “As corretoras de varejo evoluíram muito nos últimos 7 anos, algo que ficou estagnado no mercado institucional”, diz o CEO Nilson Monteiro. “É uma falácia das mesas tradicionais de voz dizer que os clientes operam pelo telefone para mitigar o risco de execução. Em um ano e meio, a conta erro do nosso lado como corretora ou do cliente é zero.”

Se a corretora tem pouco tempo de vida, os sócios são velhos conhecidos do mercado financeiro brasileiro. Monteiro, por exemplo, durante muitos anos ele foi uma das principais cabeças da Link, a corretora que liderou por mais de 10 anos, justamente, esse mercado de derivativos. Em 2013, o UBS adquiriu o controle da Link, por R$ 195 milhões, e Monteiro virou executivo.

Permaneceu no grupo suíço até o início de 2019, quando se reuniu novamente com os ex-sócios para montar a Ideal. “Esse mercado tem poucos prestadores de serviço e todos se conhecem”, diz o sócio de uma gestora, que pediu para não ser identificado. “É um mercado que evoluiu pouco por falta de competição e a Ideal recupera 10 anos no tempo, não apenas em velocidade, mas em transparência e competição.”

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Dois pontos levantados merecem destaque. A competição que esse profissional do mercado financeiro se refere é com fundos ou bancos. A Ideal não detém tesouraria ou gestora, algo que pode criar algum tipo de conflito com os clientes. “Tem casas que ganham dinheiro operando ao mesmo tempo que os clientes. E não há nada de errado nisso”, afirma o diretor de operações Lucas Cury, “Mas não queremos distração.”

O segundo é a rapidez para a corretora se ajustar ao aumento da demanda. Nos seis primeiros meses de 2020, o volume financeiro médio diário da Bolsa foi de R$ 25,98 bilhões, ou seja, 70,6% maior do que o registrado em todo o ano de 2019. Para uma corretora, é preciso ter uma infraestrutura operacional capaz de absorver esse aumento de demanda. A Ideal decidiu, desde o seu início, transformar esse custo fixo de dezenas de milhões de reais para construir um datacenter em variável, ao montar um parque virtual na nuvem.

Isso permite aumentar ou diminuir o processamento com base no uso e não na projeção de crescimento. Com isso, a corretora já ocupa a quinta posição entre as maiores no mercado de ações, com 6,9% de volume transacionado no semestre. “Não seria real falar nos números atuais da Bolsa há dois anos”, diz Cury. “Reagir a essa demanda é muito ruim para uma corretora tradicional, porque é preciso comprar máquina. Temos um processamento na nuvem e nos adaptamos de forma muito mais ágil.”

Ao olhar a corretora incomodando, em pouco tempo, as líderes de mercado, o nome escolhido pode parecer uma provocação aos concorrentes. Mas o Ideal que foi pensado pelos sócios é a união de “I deal”, que numa tradução livre do inglês significa eu negocio. Alguns comentários disseram que eles queriam mostrar o que é ideal para o mercado.

Algo parecido aconteceu quando André Esteves recomprou o Pactual três anos após a venda para o UBS. Ao nomear a instituição de BTG, muitos juravam que eram as três letras iniciais de Back to the Game (de volta ao jogo) e não Banking and Trade Group. Mas o mercado financeiro gosta mesmo é de fazer com que lendas corram pela Faria Lima. Seja como for, a Ideal já passou da fase de mistério para ser realidade.

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