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IPCA-15: o que a prévia da inflação indica aos seus investimentos e aos próximos passos do Copom

Mesmo com inflação abaixo do esperado, analistas continuam estimando alta para a Selic; entenda

IPCA-15: o que a prévia da inflação indica aos seus investimentos e aos próximos passos do Copom
IPCA. (Foto: Adobe Stock)

A prévia da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumido Amplo – 15 (IPCA-15), surpreendeu positivamente o mercado nesta quarta-feira (25). O indicador mostrou uma alta de 0,13% nos preços em setembro, abaixo das expectativas do mercado, que aguardava uma alta de 0,28%.

Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, explica por que o IPCA-15 de setembro animou o mercado: “Parte da surpresa baixista pode ser atribuída à volatilidade de itens específicos, como cinema e seguro de veículos. Por outro lado, os serviços subjacentes ligados à mão de obra e alimentação fora do domicílio seguem comportados, a despeito do mercado de trabalho apertado”, diz o economista.

Já Pedro Afonso Gomes, presidente do Corecon-SP, diz que o número não é uma grande surpresa. Ele comenta que já aguardava o indicador próximo de 0,13%. Segundo ele, essa estimativa foi feita com base no Índice de Preço ao Produtor (IPP). O indicador mostra como estão os preços das matérias-primas adquiridas pelas indústrias com os seus fornecedores para realizar a produção.

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O indicador registrou quedas em maio, junho e julho e, segundo o economista, isso impacta diretamente na inflação. “Com a aceleração da economia, os produtos estão sendo produzidos em maior escala e são repassados para a indústria de forma mais barata. A própria indústria e o varejo tendem a repassar essa queda de preços, gerando uma deflação para o consumidor na ponta final. Faz com que a inflação no agregado não registre uma alta acentuada”, argumenta Gomes.

Marianna Costa, economista chefe da corretora Mirae Asset, comenta que a prévia da inflação surpreendeu boa parte do mercado. Segundo ela, houve surpresa principalmente no comportamento das métricas dos núcleos, já que se aguardava alguma aceleração na margem. A média dos núcleos acompanhados pelo Banco Central caiu para 0,17%, ante alta de 0,29% em agosto.

“Vale ressaltar que o núcleo de bens industriais caiu na margem para 0,13% de 0,33% em agosto, mas a inflação acumulada em 12 meses para essa métrica subiu para 1,36% de 1,06% no mês anterior”, aponta a economista.

O que esperar da Selic após o IPCA-15?

Em linhas gerais, os analistas se dividem se o IPCA – 15 abaixo do esperado pode mudar o curso do atual ciclo de alta de juros. De acordo com Bruno Monsanto, economista e assessor da RJ+ Investimentos, é precoce tomar apenas este dado como uma eventual projeção para as próximas decisões do Copom.

Monsanto lembra que para a decisão final são consideradas as contas públicas, ainda com problemas, a atividade econômica, que segue aquecida, e o cenário externo, com impacto na dinâmica de preços no Brasil. Já Marianna Costa, da Mirae, argumenta que após os dados de hoje a decisão final do Copom segue em aberto.

Em suas comunicações ao mercado, o Banco Central sugere que existe espaço para aceleração do passo para altas de 0,50 ponto porcentual, diz ela. Todavia, a autoridade monetária foi clara ao dizer que o ritmo dependerá do comportamento da inflação corrente, das expectativas, do comportamento da atividade econômica, em particular do hiato do produto e do cenário externo. “Nesse sentido, o dado benigno de hoje mantém a chance de que o processo de aperto monetário siga de forma mais gradual. Nossa expectativa é de que a Selic termine o ano de 2024 em 11,75% e no fim de 2025 em 11%”, observa a economista.

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Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, afirma que ainda é muito cedo para definir se o dado de hoje deve fazer com que o ciclo de alta de juros seja mais suave que o esperado ou não. “O Banco Central está mais preocupado com a dinâmica da atividade econômica e com a desancoragem da inflação em um horizonte relevante de 18 meses. Então, nós acreditamos que não deve ter um impacto claro nas próximas decisões de juros”, argumenta.

O especialista diz esperar mais duas altas de 0,50 ponto porcentual até o fim de 2024, com a Selic a 11,75% no fim deste ano. Ele também calcula que a taxa básica de juros da economia, a Selic, deve ter uma última alta de 0,25 ponto porcentual em janeiro de 2025.

Leia mais: Como a alta da Selic no Brasil e a queda de juros nos EUA impactam seus investimentos?

Investidor deve ir para renda fixa ou variável após o IPCA-15?

Após os dados do IPCA-15 divulgados nesta semana, os analistas comentam que o melhor para o investidor é procurar equilíbrio no seu portfólio. Marcos Moreira, da WMS Capital, diz que existem “excelentes oportunidades” para surfar com os juros nesses “níveis elevados” na renda fixa no curto prazo.

Segundo ele, para o curto prazo, o ideal é o investidor aplicar em títulos pós-fixados no curto prazo. Já para o médio e longo prazo, o ideal é aportar em papéis indexados à inflação. Todavia, ele deixa claro que ainda existem boas opções para aportar na Bolsa, mesmo que ele tenha essa preferência pela renda fixa no momento.

“Estimamos que o Ibovespa deve terminar 2024 cotado a 150 mil pontos. Essa estimativa é feita com base nos múltiplos do índice. Na métrica Preço sobre Lucro (P/L), o Ibovespa está sendo negociado a 8 vezes. No entanto, na média histórica, o indicado é negociado a 10,8 vezes”, aponta Moreira.

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Marianna Costa, da Mirae, argumenta que o cenário de aperto monetário traz oportunidades tanto para a renda fixa como para a renda variável, porque reforça a credibilidade do Banco Central ao se mostrar comprometido com o regime de metas de inflação.

Leia mais: Renda fixa: “Não vejo benefício nos títulos pós-fixados com a alta da Selic”, diz Marília Fontes

“Há percepção de que este ciclo de aperto monetário deve ser um pouco menor que ciclo anteriores, em parte porque a inflação prospectiva, apesar de se mostrar acima da meta, tem dinâmica não explosiva e porque o cenário externo é de afrouxamento monetário na maioria das economias desenvolvidas, o que deve trazer alívio para o comportamento da moeda doméstica”, explica Costa.

Já Bruno Monsanto, da RJ+ Investimentos, reforça que a decisão deve ser feita com base no perfil do investidor e seu horizonte de tempo para os investimentos. Contudo, ele não nega que os juros devem permanecer acima de dois dígitos até 2025, mantendo a renda fixa atrativa. “Mas para quem busca maiores retornos no longo prazo, é importante manter uma posição em renda variável. O percentual de alocação entre as classes depende mais do estômago de cada investidor”, conclui o analista após comentar sobre o IPCA-15.