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Por que estrangeiros voltaram a investir no Brasil e apostam na Bolsa

Fluxo mensal de novembro é o melhor desde março de 2022; um bom sinal para 2024, dizem analistas

Por que estrangeiros voltaram a investir no Brasil e apostam na Bolsa
Entrada de gringos na B3 em novembro foi a melhor desde o início de 2022. (Foto: Envato)
  • Novembro foi marcado pela maior entrada de investidores estrangeiros na B3 desde março de 2022
  • Ainda assim, acumulado de 2023 está bem abaixo do fluxo visto no ano passado
  • Especialistas traçam retrospectiva do ano e apontam porquem investidores podem esperar por 2024 com otimismo

A valorização de 12,54% acumulada pelo Ibovespa em novembro chamou a atenção de investidores na última semana. O desempenho, o melhor resultado mensal do índice de referência da Bolsa brasileira em três anos, desde novembro de 2020, parece ligado a um motivo específico: a volta do fluxo de investidores estrangeiros na B3. Entre os dias 01 e 30 de novembro, gringos aportaram R$ 21,1 bilhões no mercado do País, a maior entrada de capital internacional na Bolsa desde março de 2022.

Como contamos nesta reportagem, boa parte dessa alta na Bolsa – seja do Ibovespa, seja do capital estrangeiro –, foi motivada pela melhora do cenário macroeconômico no exterior. A sinalização mais clara de que os Estados Unidos podem já ter encerrado o ciclo de alta na taxa de juros gerou uma onda global de apetite a risco, com investidores voltando a ativos mais arriscados, como os mercados emergentes, depois de um ano muito focado na renda fixa americana.

“A divulgação de dados de atividade e inflação americana acabou fazendo com que o mercado não projetasse mais uma alta da taxa de juros do Federal Reserve (banco central dos EUA), como agora já começamos a falar quando essa taxa vai começar a cair”, afirma Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. “Isso acaba, de certa forma, jogando dinheiro de volta para países emergentes.”

Saldo de 2023 é positivo. Mas isso é bom?

Dados da B3 mostram que, entre janeiro e novembro de 2023, o fluxo total de capital estrangeiro na Bolsa foi de R$ 38,3 bilhões. É um saldo positivo, sim, mas relativamente tímido tendo em vista que 55% de todo esse montante corresponde ao fluxo apenas de novembro. Se tirarmos o desempenho do último mês, as entradas somariam R$ 17,2 bilhões.

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“Claro que ainda temos mais 30 dias para ver como o fluxo vai fechar o ano, mas basicamente o mês de novembro responde por todo 2023”, destaca Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo.

O saldo acumulado até aqui em 2023 também é bastante inferior ao registrado no mesmo período de 2022. Entre janeiro e novembro do último ano, a entrada de capital estrangeiro na B3 foi de R$ 104,5 bilhões – mais de três vezes o valor registrado este ano. O saldo total de 2022 ficou em R$ 119,7 bi.

Mas, segundo os especialistas, esta não é uma boa base de comparação. Na avaliação de Madruga, 2022 é que foi um ano atípico.

À época, uma soma de fatores ajudou o Brasil a se destacar entre os pares emergentes e atrair os investidores internacionais, em um momento de consolidação da reabertura dos mercados após a pandemia da covid-19 e maior apetite ao risco. Os ciclos de aperto monetário nas economias desenvolvidas estavam apenas começando, enquanto a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia disparou os preços das commodities, favorecendo mercados produtores como o brasileiro.

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“Em 2023, por conta de todas as tensões que aconteceram, o fluxo para países emergentes minguou. Mas o ano de 2022 é que foi atípico, não 2023 que foi ruim”, diz Madruga.

Com a disparada dos juros americanos, investidores globais direcionaram seu capital para as Treasuries, reduzindo consideravelmente o aporte em aplicações mais arriscadas, como é o caso do Brasil e de outros mercados emergentes. Como os títulos do Tesouro americano são considerados o investimento mais seguro do mundo, ficou difícil concorrer.

“É o famoso ‘copo meio cheio, copo meio vazio’. Apesar do fluxo de entrada do investidor estrangeiro ter sido menor que em 2022, ao mesmo tempo, é um ponto positivo visto que ele não retirou todos os recursos ao longo de 2023”, explica André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

O que esperar de 2024

O desempenho de novembro causou uma onda de otimismo no mercado brasileiro. Analistas e investidores voltaram a sonhar em ver o Ibovespa acima de seu recorde histórico de 130 mil pontos, enquanto casas de análises já fazem projeções mais otimistas para a Bolsa.

A XP Investimentos, por exemplo, havia divulgado no início de novembro um relatório em que explicava por que acreditava que o Ibovespa poderia subir até 136 mil pontos ao final de 2024 – o que já era uma projeção otimista para aquele momento. Com a virada de humor ao longo do mês, a corretora atualizou a projeção na última semana para 142 mil pontos ao final do próximo ano. E um dos motivos por trás da estimativa é justamente a volta do fluxo de capital estrangeiro com maior intensidade para a B3.

Com a inflação convergindo para a meta, a Selic no meio de um ciclo de queda e reformas econômicas importantes em discussão em Brasília, especialistas acreditam que o Brasil pode se diferenciar dos pares emergentes. Com um outro ponto também jogando a favor da Bolsa brasileira: os múltiplos ainda descontados dos ativos.

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“Hoje, ao olharmos o preço relativo dos ativos dos emergentes em comparação com os ativos dos EUA, em dólar, estamos no menor nível depois de 50 anos, o que atrai ainda mais o interesse do estrangeiro em alocar em países emergentes”, diz Fernandes, da A7 Capital.

Para que a tendência continue positiva e o fluxo de capital estrangeiro continue entrando na B3, o cenário macroeconômico precisa corresponder às atuais expectativas positivas. Se o BC americano tiver realmente chegado ao fim do ciclo de alta de juros por lá e iniciar as reduções já em meados de 2024, como prevê o mercado, isso seria positivo para o Brasil.

“A não ser que tenhamos um hard landing americano, uma recessão muito aguda nos Estados Unidos, que faria com que esse dinheiro buscasse de volta as moedas fortes, como o dólar. Mas se a gente tiver um soft landing, aí sim essa tendência positiva continua, e continua muito forte”, pontua Saadia, da Nomos.

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