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- Na semana do dia 26 a 30 de julho, os principais índices do mundo, S&P 500, Dow Jones, Ibovespa, Hang Seng, Nikkei e CSI 300 fecharam o período em queda, com exceção do FTSE 100 de Londres
- No dia 24 de julho, as autoridades de Pequim divulgaram regras que obrigam serviços de tutoria escolar a operarem sem fins lucrativos, também as proibindo de levantar fundos nas bolsas de valores, com o intuito de lidar com os crescentes custos educacionais na China
- Segundo Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo, tudo começou com o IPO do Ant Group, que foi cancelado pelos reguladores chineses. O gestor pensou que as intervenções ficariam só nesse caso, tendo em vista que a empresa tinha a ver com o sistema financeiro
A repressão regulatória na China vem gerando preocupações em todo o mundo nas últimas semanas e diversos setores, como o de tecnologia e o de educação, foram impactados. O cerco regulatório foi tão grande que levou o SoftBank, um dos maiores players globais de investimentos e tecnologia, a interromper seus investimentos no país asiático.
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Em entrevista coletiva na terça-feira (10), o presidente executivo do grupo, Masayoshi Son, informou que os investimentos da companhia serão interrompidos enquanto o SoftBank espera a ação regulatória contra as empresas de tecnologia chinesas.
“Até que a situação fique mais clara, queremos esperar para ver. Em um ou dois anos, acredito que novas regras criarão uma situação diferente”, disse Son.
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As investidas das autoridades de Pequim não são nenhuma novidade, tendo em vista que o estado chinês tem muito mais influência na economia do que os países do Ocidente. Desde a tentativa frustrada do IPO da Ant Group, braço financeiro do Alibaba, os reguladores estão com um apetite mais voraz. O episódio mais recente é o caso das empresas de educação no país.
Reguladores miram empresas de educação
No dia 26 de julho, a regulação foi agravada com a decisão das autoridades chinesas de proibir plataformas ligadas à educação de abrir capital na bolsa de valores, obter lucro ou captar fundos. O país alega que o objetivo é controlar os custos do setor e tornar a educação mais acessível.
O endurecimento nas regras colocou o mercado em alerta, já que há bilhões de dólares investidos em um setor que havia decolado nos últimos anos. Larry Chen, fundador e CEO da Gaotu Techedu, por exemplo, viu o seu patrimônio encolher mais de US$ 15 bilhões diante da revisão regulatória. Segundo dados da Bloomberg, as ações da empresa de aulas particulares caíram cerca 69% nas negociações após o anúncio.
A iniciativa desencadeou uma forte derrocada nas bolsas ao redor do mundo. Na semana do dia 26 a 30 de julho, os principais índices fecharam o período em queda, com exceção do FTSE 100 de Londres. Confira:
- O Ibovespa fechou em queda de de 3,34%, aos 121.800,79 pontos;
- O Dow Jones (EUA) com -0,59%, aos 34.935,47 pontos;
- O S&P 500 (EUA) com -0,61%, aos 4.395,26 pontos;
- O Hang Seng (Hong Kong) com – 0,88%, aos 25.961,03 pontos;
- CSI 300 (Xangai e Shenzhen) com -2,32%, aos 4.811,17 pontos
- Nikkei (Japão) com – 1,97%, aos 27.283,59 pontos;
- FTSE 100 (Inglaterra) fechou em alta de 0,10%, aos 7.032,30 pontos.
Segundo Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo, a saga começou com o IPO da fintech Ant Group, ligada ao Alibaba. A abertura de capital foi cancelada pelos reguladores chineses ainda em 2020. O gestor pensou que as intervenções do governo ficariam por aí, tendo em vista que a empresa tinha relações com o sistema financeiro.
“O que mais assusta os investidores é que teve uma intervenção que, de fato, foi mais impactante e estrutural nas empresas privadas de educação. Isso levanta a dúvida de qual vai ser o próximo setor que o governo irá colocar o dedo. É um fenômeno de mais medo e incerteza quanto ao futuro e não pelo fato pontual da intervenção”, diz Felipe Arrais, especialista em investimentos globais da Spiti.
Como isso impacta o mercado brasileiro?
De acordo com Arrais, a reação de queda nas bolsas mundiais são conhecidos como “efeito contágio”. Esse fenômeno é muito importante quando falamos de países emergentes, pois o investidor estrangeiro vê tais mercados como uma coisa só, apesar de suas particularidades. Ele cita o exemplo de quando a Argentina deu o calote no Fundo Monetário Internacional (FMI). Na ocasião, os ativos brasileiros sofreram, mesmo não estando diretamente relacionados com a tese.
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Como o investidor está avesso ao risco chinês, isso o torna menos disposto a aplicar em ativos brasileiros, exatamente por esse efeito de contágio. “Pode até ser que a China demande menos commodities se algo sair pela culatra e o crescimento do país for impactado de alguma maneira”, diz Arrais.
Knudsen, da Vitreo, explica que os impactos dessas decisões dos reguladores possuem um impacto maior no curto prazo, mas que os efeitos no longo prazo são praticamente nulos.
Desta forma, podemos observar que apesar de as decisões dos reguladores não serem 100% responsáveis pelas quedas, elas desencadeiam momentos de mais volatilidade no mercado, que pela lógica do efeito de contágio acabam respingando em outras regiões.
Apesar de causarem efeitos pontuais, essas situações de contágio podem assustar aquele investidor que não está muito antenado no mercado e viu seus ativos no vermelho. Mas é preciso lembrar que, muitas vezes, as altas e quedas, sejam elas das bolsas de valores ou das ações, não acontecem de maneira linear, mas sim acompanhadas de solavancos no meio do caminho.
Os cuidados do investidor
A diversificação em classes de ativos distintas ou em termos geográficos é fundamental para ter uma carteira de investimentos sólida e robusta.
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Os especialistas concordam que ter a China na carteira é uma boa forma de diversificar o seu portfólio, já que, normalmente, quando os investidores aplicam no exterior, estão expostos apenas aos Estados Unidos.
Na visão de Knudsen, ao investir no país asiático, é preciso alocar um pedaço do patrimônio muito pequeno. O gestor explica que há quem se empolgue com a China e coloca 10% do patrimônio no país. Mas a indicação do profissional é de alocar de 1% a 2% (3% para investidores arrojados).
Para Arrais, é preciso conhecer melhor a tese de investimentos na China. Segundo ele, normalmente a atenção está mais para o potencial de ganhos do que os riscos.
“No mercado chinês, ao longo da história, uma correção de 20% é normal, mas, o brasileiro muitas vezes não sabe disso antes de colocar uma bela fatia da sua carteira em China, porque ele está pensando somente no potencial de ganhos”, diz.
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*Com informações da Reuters