- É possível acessar a renda fixa dos EUA sem comprar diretamente os títulos do tesouro americano
- ETFs de renda fixa são o caminho mais simples para o investidor brasileiro se expor aos juros americanos
- Diversificação no exterior deve ser pensada como uma estratégia de proteção à desvalorização cambial
O custo de compra de títulos do tesouro americano pode ser elevado para o brasileiro médio, que terá de pagar preços acima de US$ 5 mil. Isso significa um desembolso de mais de R$ 25 mil, que não pode ser fracionado, como acontece em investimentos em bolsas americanas.
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Mesmo para quem não dispõe deste montante, ainda é possível acessar a renda fixa dos Estados Unidos por meio das contas internacionais oferecidas pelas instituições financeiras do Brasil.
Nos últimos meses, o aperto monetário nos EUA para segurar a inflação chamou a atenção dos investidores brasileiros para os chamados Treasuries. Os títulos do governo dos EUA são considerados o investimento mais seguro do mundo e pagam hoje, no curto prazo, 5,5% ao ano em dólar. Esse percentual é o mais alto da curva de juros americana neste século.
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Para os menos abastados, há alternativas como fundo Money Market, da Avenue, com prazo de liquidez D+2 a partir de US$ 1.000. Ainda sim, um valor alto, se considerar que não é todo brasileiro que pode reservar mais de R$ 5 mil em um aporte mensal, depois de pagar todas as suas contas. O dólar varia hoje acima dos R$ 5.
Entre as opções do mercado, clientes da conta internacional do C6 Bank têm duas opções de ficarem expostos aos juros americanos, com investimentos a partir de US$ 100, ou pouco mais de R$ 500. A instituição oferece os chamados TDs (time deposits) de resgate diário, sem taxa de corretagem.
No entanto, há alguns custos envolvidos. A conta internacional do banco tem uma anuidade de US$ 120 (em 12x de US$ 10) com taxa de manutenção de 6% ao ano sobre o patrimônio líquido, isento para correntistas com menos de US$ 10 mil aplicados. Ainda há incidência de Imposto de Renda no resgate.
ETFs são o caminho mais simples
Outros bancos e gestoras que não possuem produtos específicos em suas contas globais dão acesso, ao menos, aos ETFs (Exchange-traded fund), fundos de índice negociados na bolsa americana que permitem a exposição aos títulos de dívida do governo do EUA.
“Com US$ 20, US$ 50, US$ 100 dólares é possível investir em renda fixa americana”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. Os custos deste produto envolvem taxas anuais de administração do fundo (cobradas diariamente) e corretagem na compra e venda do ETF. Caso a venda de ativos não ultrapasse R$ 35 mil em um mês, não há cobrança de IR.
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Há inúmeros ETFs atrelados à renda fixa americana. Para quem quer investir pensando no longo prazo (e com alta volatilidade de curto prazo), o TLT, da gestora BlackRock, é um exemplo de ETF com muita liquidez. Para quem pensa num prazo menor e quer ficar atrelado à inflação americana, há outros como o TIP (BlackRock) e o VTIP da Vanguard, maior gestora de fundos de investimento do mundo.
Os cuidados ao investir no exterior
Apesar de ser o caminho mais simples para o investidor brasileiro ter acesso à renda fixa americana, investir em ETFs envolve cuidados. Inclusive, é importante evitar comprá-los em momentos de alta do mercado.
“O investidor precisa estar ciente do custo de oportunidade. Quando investe num produto, ele deixa de investir em outro”, diz Bruno Perottoni, diretor de tesouraria do Braza Bank. Ele recomenda que o primeiro passo para dolarizar os investimentos, e entender as aplicações de produtos como ETFs, é buscar um bom gestor de investimentos, atrelados a entidades reguladas e supervisionadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aqui no Brasil e a SEC (Securities and Exchange Commission), nos EUA.
Perottoni lembra ainda que, mesmo com os juros americanos pagando algo em torno de 5%, as taxas básicas no Brasil são superiores a 12%, atualmente. “Além disso, há um custo de fechamento de câmbio para enviar dinheiro e trazê-lo de volta, além do IR. É uma conta mais complexa”, afirma.
Proteção em dólar
Celso Pereira, diretor de Investimentos da Nomad, casa que oferece conta internacional ao investidor brasileiro, pondera que é preciso levar em conta a proteção em dólar, quando se fala em investimentos na renda fixa americana. “No último mês, o câmbio variou 1,6%, passou de R$ 4,98 para o atual nível de R$ 5,5. Se anualizar essa taxa, chegamos a 21%, um retorno superior à atual Selic de 12,75%”, argumenta.
Ele defende que a diversificação no exterior deve ser pensada como uma estratégia de proteção à desvalorização cambial e como diversificação de riscos. E, como investir em renda fixa americana envolve o câmbio, o investidor deve estar preparado para uma volatilidade intensa no curto prazo. “É comum o dólar variar 2%, 3% numa semana”, comenta Pereira.
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Mesmo considerando que a moeda americana entrou num patamar mais alto desde setembro, acima dos R$ 5 e, ainda, a uma descompressão nas mensagens do Fed em relação ao aperto monetário, Alves reforça que o investimento em títulos americanos são importantes para a diversificação na carteira e apresentam, agora, uma boa oportunidade de entrada.
“Se pensar a longo prazo – em um horizonte de cinco anos -, o nível atual da taxa de câmbio não deve ser um problema. Além disso, as maiores taxas de juros dos últimos anos continuam sendo uma realidade nos EUA”, diz.