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BDR sofre com concorrência de conta em dólar. Há risco de sumir do mapa?

Quase 2 milhões de investidores ainda têm BDRs, títulos que representam ativos no exterior, na carteira

BDR sofre com concorrência de conta em dólar. Há risco de sumir do mapa?
(Foto: Envato)
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  • Os Brazilian Depositary Receipts são ativos que representam ações de empresas estrangeiras emitidas e negociadas no Brasil. Facilidade em investir fora pode indicar um novo movimento
  • Nos últimos meses, fintechs, bancões e corretoras anunciaram novidades em relação às contas internacionais
  • Para os críticos,investimento em BDRs não é eficiente para quem pretende diversificar o risco geográfico

Desde que a B3 abriu os investimentos de Brazilian Depositary Receipts (BDRs) para pessoas físicas, em outubro de 2020, o número de CPFs ligados aos produtos do segmento só aumentou. Esses ativos são títulos negociados no Brasil que representam ações de empresas com capital aberto no exterior – representam, portanto, uma forma do investidor acessar empresas e fundos de índice estrangeiros.

Quase três anos depois do lançamento, os BDRs passam agora por um teste de concorrência diante da onda de popularidade das contas globais. “Hoje está muito mais fácil ter uma conta em dólar. Houve uma revolução das fintechs que permitiu à classe média ter uma parte de seu investimento fora do Brasil”, diz Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG. “Pelo aplicativo no telefone, na palma da mão, é possível transferir recursos para fora.”

Para alguns analistas, a facilidade de acessar os mercados globais reduziu a relevância dos BDRs. “Não tem vantagem nenhuma, só desvantagem”, afirma Leandro Petrokas, diretor de Research da casa de análise Quantzed. A questão do câmbio (os BDRs são comprados em real) e da menor liquidez em relação aos ativos que representam são motivos para o investidor procurar o ganho direto em moeda forte.

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Só nos últimos meses, fintechs como o C6 e também bancões como Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e grandes plataformas, a exemplo da XP, anunciaram novidades em relação a acessos às contas internacionais. Antes, Avenue e Nomad já ofereciam seus produtos no mercado.

Mesmo reconhecendo que os BDRs perderam atratividade diante dos novos concorrentes, Thiago Kramer, sócio da gestora Multinvest Capital, diz que o mercado de contas globais ainda precisa se provar. “A vantagem do BDR é estar no mesmo ambiente da B3, do ponto de vista da tecnologia. Hoje fica mais fácil o investidor visualizar os BDRs e seus outros ativos juntos no mesmo aplicativo”, diz.

Kramer ressalta que o caminho é desfavorável. “Com as contas globais não há intermediário e a operação é um pouco mais barata”, explica.

O tamanho do mercado de BDRs

Em 2020, quando os BDRs se abriram como uma alternativa à classe média de aplicação no exterior, havia 130 mil investidores do produto na B3. Um ano depois, ao final de 2021, o ativo já estava consolidado nas carteiras de mais de 1,43 milhão de pessoas.


Os números mostram um crescimento considerável de 34% de 2021 para 2022, quando esses títulos se popularizaram como opção de investimento entre os brasileiros. Ao que parece, a quantidade de clientes bateu num teto este ano (ver gráfico acima) de cerca de 1,9 milhão de investidores.

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Ao mesmo tempo, duas operadoras de contas globais já afirmam ter um número próximo de clientes: a Avenue, com 700 mil CPFs, e a XP, com 1 milhão.

O valor em estoque de BDRs caiu de R$ 8,8 bilhões investidos ao final de 2021 para R$ 7 bilhões em julho deste ano. A retração é de 20%, já considerando uma recuperação do final do ano passado até julho (ver gráfico abaixo), de acordo com números da B3.


A B3 defende que o BDR é um produto simples e que possibilita ao investidor brasileiro acesso ao mercado internacional e a empresas como Apple, Amazon e Google a partir de uma operação em reais, sem burocracia e com a mesma facilidade com que ele compra ou vende uma ação por meio de uma corretora.

Para os críticos, o investimento não é eficiente para quem pretende diversificar o risco geográfico – e monetário. "Com o BDR você está negociando na Bolsa brasileira, paga em real e recebe em real, ficando sujeito às variações de câmbio", diz Leandro Petrokas.  O real em comparação ao dólar tende a sair em desvantagem no longo prazo.

Proteção contra volatilidade

Há vários motivos para o brasileiro buscar investimentos fora: os mais ricos têm patrimônio elevado e há aqueles que viajam muito e possuem cestas de consumo no exterior. Para esses, faz sentido manter contas estrangeiras. A grande maioria, porém, procura mesmo uma proteção contra a volatilidade do Brasil e manter parte de seus recursos em moeda forte.

A gestora Avenue foi a primeira a lançar uma conta internacional para seus clientes acessarem o mercado norte-americano, em 2018.  "Fomos pioneiros no mercado em identificar o interesse do brasileiro médio em investir no exterior", conta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.

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Ele elenca uma série de desvantagens dos BDRs em relação ao investimento direto fora do País. Praticamente todas têm ligação com um único ponto: ao se posicionar em BDR, o investidor brasileiro não está se protegendo do risco Brasil. "É covardia comparar em dólar as duas bolsas no longo termo", diz, ao falar de retornos dos mercados americanos e o brasileiro. Mesmo na crise, a economia dos Estados Unidos é resiliente e produz uma bolsa que devolve rendimentos muito maiores em relação às empresas domésticas.

No entendimento do estrategista, procurar os EUA é uma forma de se proteger das oscilações de mercados emergentes. "Podemos falar em investir na Colômbia ou no México. Parece arriscado. Da mesma forma, o Brasil é visto como um país emergente", ilustra.

Tributos fazem parte

O governo vem lançando medidas que atingem os brasileiros que investem fora do País para compensar a perda de arrecadação gerada pelo aumento do teto de isenção do Imposto de Renda, em R$ 2.640. Uma das medidas provisórias (MPs) tributa em 15% rendimentos acima de R$ 6 mil recebidos no exterior. A alíquota vai para 22,5% para rendimentos maiores que R$ 50 mil.

Atualmente, ao investir diretamente nos EUA, por exemplo, o brasileiro tem 100% de isenção fiscal nos meses em que a somatória das suas vendas de ativos não atingir R$ 35.000. Acima disso, há o pagamento de 15% ao governo. No caso de BDRs, há uma alíquota de 15% sobre o lucro, mesmo que ele seja menor que R$ 20 mil, vantagem que as ações de empresas possuem.

Por não exigir remessas, os BDRS têm menos um tributo incidente. "São instrumentos que não exigem preocupações com taxas, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para conversão cambial, ou a necessidade de abrir uma conta estrangeira", diz Ronaldo Candiev, gestor da BRZ Investimentos.

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Um aspecto importante das plataformas oferecidas, tanto pela B3 quanto pelas corretoras, é dar opções ao investidor brasileiro, que ainda tem a tendência de investir uma parcela desproporcional de seus recursos em ativos domésticos. No campo das finanças comportamentais esse fenômeno recebe o nome de home bias.

Manter uma diversificação geográfica na carteira, principalmente em moeda americana, é uma forma eficiente de proteção de patrimônio. "Para o investidor que mira o longo prazo, o dólar tem se provado resiliente", diz Petrokas.

Mesmo que haja taxação, ele defende o olhar para fora e aconselha ao investidor fazer um estudo para saber como atuar da forma mais inteligente para manter uma menor carga tributária sobre a carteira, "dentro da lei", enfatiza. "De forma alguma as discussões sobre a tributação de investimentos no exterior devem ser motivo para se deixar de investir lá fora", argumenta.

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