O governo federal espera arrecadar R$ 20,5 bilhões neste ano e R$ 41 bilhões em 2026 com as mudanças no IOF, que também incluem alterações para planos de previdência privada do tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) e créditos para empresa. As medidas começaram a valer na última sexta-feira (23).
Horas depois de anunciar as novas regras, no entanto, o Ministério da Fazenda voltou atrás na ideia de tributar com IOF aplicações de fundos de investimentos fora do País. Remessas para contas no exterior direcionadas para investimentos também retornaram à tributação anterior, de 1,1%.
Diante das mudanças, o planejamento financeiro se mostra mais necessário – afinal, existem diferentes maneiras de enviar recursos do Brasil para outros países. Segundo Jorge Ferreira dos Santos, professor de economia do curso de Administração da ESPM, uma das opções é a transferência bancária tradicional via ordem de pagamento. “Essas operações costumam ser bastante seguras, mas têm um custo mais alto por conta das tarifas bancárias”, afirma.
Nos últimos anos, uma alternativa que tem ganhado força são as contas internacionais em plataformas digitais, como Nomad, Avenue e Wise. “Esses players oferecem transferências com taxas competitivas e boa experiência digital. Para essa modalidade a alíquota atual de IOF é de 3,5%”, explica o professor.
Santos aponta ainda que os tradicionais cartões de crédito se mantêm como opções em viagens internacionais, enfrentando agora uma alíquota de 3,5% de IOF, sendo que a anterior era de 3,38% em 2025. A compra de moeda estrangeira em espécie também passou a sofrer com uma alíquota maior. “Para essa modalidade, a alíquota do IOF é de 3,5%, antes era de 1,1%. A modalidade oferece liquidez imediata, mas sempre há o risco de perda ou roubo”, diz.
Para Elson Gusmão, Diretor de Operações da Ourominas, com o IOF igualado, a diferença de custo entre as alternativas para enviar dinheiro para fora diminuiu. “Ainda assim, operações via corretora ou remessa direta costumam oferecer melhores taxas de câmbio e maior transparência em relação aos custos totais, especialmente se comparadas ao uso do cartão de crédito no exterior”, explica.
Spread e câmbio: dois pontos de atenção
Especialistas consultados pelo E-Investidor destacam ser necessário observar dois pontos na hora de escolher uma forma de enviar dinheiro ao exterior. Um dos pontos é o chamado spread cambial, que representa a diferença entre a cotação oficial da divisa estrangeira, como o dólar, e o valor efetivamente cobrado por bancos e instituições financeiras na conversão de moeda em compras internacionais.
Essa taxa também influencia no custo total da operação de câmbio de um cliente. “Bancos tradicionais ainda apresentam custos mais elevados devido a spreads maiores e taxas adicionais, mas não se engane, nem sempre as plataformas digitais são a melhor opção”, alerta Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. “Diversas cooperativas de crédito têm spread zerado, ficando mais barato que utilizar as plataformas tradicionais”, acrescenta.
A seguir, o planejador compartilha uma tabela que simula os custos totais (incluindo IOF e spread) das principais contas globais e cartões de crédito internacionais disponíveis no mercado brasileiro:
Outra questão é a cotação do dólar utilizada para as operações. “O IOF é apenas um dos componentes do custo total dessas transações. A compra de moeda por meio das contas digitais é realizada com base no câmbio comercial, mais vantajoso que o câmbio turismo usado pelos cartões de crédito tradicionais”, ressalta Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
A principal diferença entre o dólar turismo e o comercial é a variação dos preços. O primeiro, típico em compra e venda de moedas para viagens internacionais, tem uma cotação mais elevada, já que existe um custo de operações para garantir a estabilidade das casas de câmbio, por exemplo.
Vale comprar dólar de uma vez só para fugir do IOF?
Juliana Benvenuto, sócia e coordenadora de conteúdo da Avenue, explica que a forma como o cliente fragmenta as operações não interfere no IOF. “Como o imposto não é uma taxa fixa, mas sim um percentual calculado sobre o valor enviado, mandar tudo de uma vez ou aos poucos não faz muita diferença”, afirma.
A especialista explica que as remessas regulares de dólar podem ajudar a manter a estratégia de diversificação internacional de investimento. “Nunca será possível prever o melhor momento para o câmbio. Justamente por essa incerteza sobre o valor do dólar no futuro, as remessas periódicas são uma estratégia mais adequada para quem pretende investir no longo prazo.”
Patzlaff, planejador financeiro, também defende a estratégia de compra mensal do dólar. “Ao comprar aos poucos, você terá um preço médio de meses. Isso é interessante em países onde a moeda tende a desvalorizar, como Brasil. Nesse caso, por mais que a divisa oscile, você terá os dólares para viajar já guardados”, diz. “Em alguns momentos pontuais, porém, vale fazer compras maiores para dar um gás nas reservas, em especial quando a cotação cair bruscamente”, complementa.
Do ponto de vista estratégico, Shahini, da Nomad, realizar múltiplas transferências menores pode ter vantagens adicionais relacionadas à cotação da moeda. Ao enviar dinheiro de forma periódica e constante, o usuário dilui o risco de entrar no mercado em momentos desfavoráveis de câmbio, obtendo uma cotação média mais estável ao longo do tempo. Essa estratégia pode proporcionar uma proteção contra flutuações cambiais significativas, ainda que o custo percentual do IOF permaneça constante.”