Investimentos

Como aproveitar os juros altos para lucrar com fundos de hedge

Ao fazer a proteção cambial, esse tipo de investimento se beneficia do diferencial de juros entre os países

Como aproveitar os juros altos para lucrar com fundos de hedge
O hedge protege os investidores das variações cambiais, reduzindo risco do investimento no exterior. (Foto: Envato)
  • Os fundos de investimentos internacionais com hedge oferecem ao investidor uma exposição a diferentes tipos de ativos no exterior sem as variações cambiais comuns aos investimentos internacionais
  • Ao fazer a operação de proteção cambial, os gestores dos fundos hedgeados precisam trazer os contratos futuros das moedas utilizadas na operação para o valor presente, um cálculo feito a partir das taxas de juros de cada país. Dessa conta surge um diferencial que é “carregado” pelo fundo junto ao retorno dos ativos investidos
  • Essa opção de investimento é vista por especialistas como uma maneira de aproveitar a alta de juros para diversificar a carteira internacionalmente com menor exposição a risco

Nos períodos em que os juros estão elevados, como o atual, os investidores costumam ir para a renda fixa. Com a Selic em 12,75% ao ano, o movimento é uma tentativa de proteger a carteira da volatilidade, priorizando ativos de menor risco que remuneram um prêmio maior, dado o atual patamar da taxa.

Mas, correndo pelas beiradas e muitas vezes longe do radar dos investidores, há uma classe de ativos na renda variável que também pode se beneficiar do cenário.

Os fundos de investimentos internacionais com hedge – ou simplesmente fundos hedgeados – oferecem ao investidor uma exposição a diferentes tipos de ativos no exterior sem as variações cambiais comuns aos investimentos internacionais. Na prática, o hedge funciona como uma ferramenta a mais de proteção da carteira, mas paralelamente acaba beneficiado pela alta de juros no Brasil.

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Isso acontece porque, ao fazer a operação de proteção cambial, os gestores dos fundos hedgeados precisam trazer os contratos futuros das moedas utilizadas na operação para o valor presente, um cálculo feito a partir das taxas de juros de cada país. Dessa conta surge um diferencial que é “carregado” pelo fundo junto ao retorno dos ativos investidos.

Um exemplo: um fundo hedgeado que investe nos Estados Unidos protege o investidor brasileiro das oscilações de câmbio entre o dólar e o real. Por outro lado, surfa no grande diferencial de juros que os dois países têm. Enquanto no Brasil a taxa está em 12,75% ao ano, nos EUA, os juros estão em 0,75% – uma diferença que já coloca o investimento 12% no positivo.

“O investidor que está avesso ao risco e quer investir em renda fixa, tem duas boas opções para isso: a renda fixa local ou a renda fixa internacional hedgeada”, avalia Bernardo Queima, CEO da Gama Investimentos.

O especialista destaca a previsão de juros no curto prazo até o fim do ano: mesmo com a piora nas previsões monetárias dos EUA, onde os mais pessimistas já preveem uma taxa de 3% ainda em 2022, no Brasil os juros devem encerrar o ano perto dos 13%.

“Ainda estamos falando de 10 pontos percentuais de diferença. Se olharmos para a Europa, o diferencial é ainda maior já que os bancos centrais por lá ainda não iniciaram a alta de juros. Para o investidor brasileiro, é como se ele tivesse o retorno do CDI + a rentabilidade que o fundo está lá fora”, explica Queima.

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Ernesto Leme, diretor comercial e membro do Comitê Executivo da Claritas, vai além. Mesmo no longo prazo, olhando para a curva de juros de dez anos, o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ainda torna os fundos hedgeados atrativos. “Quando olhamos para um período de dez anos, vemos que os treasuries americano, hoje, estão em 2,8%; enquanto a taxa de 10 anos do Brasil está um pouco acima de 12%. Esse diferencial, mesmo no longo prazo, se mantém”, diz.

Por que hedgear?

O hedge cambial é uma ferramenta muito utilizada no mercado para anular a variação entre o real e outras moedas, de forma que uma possível desvalorização do ativo brasileiro não afete a rentabilidade do investimento. Nada mais do que uma tentativa de proteger a carteira do investidor. Mas vale sempre a pena?

Dá para olhar por diferentes lados, a depender da expectativa do investidor quanto à trajetória do câmbio e o seu apetite ao risco. “O hedge neutraliza o investimento e isso tem um lado positivo e um negativo. Se o dólar se valoriza e o fundo não é hedgeado, o investidor acaba ganhando mais. Mas o contrário também é verdadeiro. Se o real se fortalecer, parte da rentabilidade fica na mesa”, pontua Luiz Cesta, chefe de análise na Monett.

Com diversos fatores macroeconômicos influenciando a trajetória do mercado, a volatilidade do câmbio deve continuar em 2022. Para Cesta, a valorização do real frente ao dólar vista nos primeiros meses do ano não deve se repetir. Por isso, é preciso pensar bem antes de optar pelo hedge. “Como a minha expectativa é de volatilidade, com eleições aqui, crise na China, guerra na Rússia e uma escalada de juros nos EUA, a minha impressão é que o dólar pode se valorizar ainda mais frente ao real. O fundo hedgeado pode te deixar fora disso”, explica.

Por outro lado, os fundos hedgeados podem funcionar como uma boa opção para os investidores mais conservadores, que preferem deixar as carteiras o mais protegidas possível. Por isso, para Bernardo Queima, da Gama, eles funcionam como uma maneira de manter a diversificação internacional, mesmo em períodos de volatilidade.

“Não necessariamente o investidor quer ter exposição a uma moeda forte na carteira. Tem boas oportunidades lá fora para fazer essa diversificação sem o risco cambial. Se a volatilidade está tirando o sono das pessoas – e com razão, porque está demais – olhar para os fundos hedgeados pode trazer uma diversificação que vai deixar os portfólios mais robustos”, afirma.

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Antes de entrar nesse tipo de investimento, os investidores precisam ficar atentos às taxas de administração dos fundos e fazer uma boa escolha dos gestores e casas em questão. Mas, fora isso, a perspectiva segue positiva para quem quer aproveitar a alta nos juros para se expor a mercados internacionais sem os riscos tradicionais dos investimentos em bolsa.

“Sem dúvidas é uma oportunidade de diversificar e acessar setores que ainda não são muito desenvolvidos aqui no Brasil. Quanto mais diversificado você está, mais protegido está o seu investimento, por isso gostamos de ativos hedgeados lá fora”, diz Leme, da Claritas.

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