- Com a decisão, os juros americanos, hoje no intervalo de 5% a 5,25%, se mantêm inalterados
- Essa foi a primeira vez que o Fed interrompeu o ciclo de aperto monetário desde março de 2022
- Para especialistas, os aportes em bolsa no Brasil apresentam boas perspectivas e podem ajudar a compor uma carteira diversificada
A decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de manter a taxa básica de juros do país, e a entrevista coletiva dada por Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, além da revisão da perspectiva de rating do Brasil pela S&P Global dão uma série de indicações de como o investidor brasileiro deve se comportar para aproveitar o momento.
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Os juros americanos, hoje no intervalo de 5% a 5,25%, se mantêm inalterados. O anúncio ficou em linha com a expectativa da maior parte do mercado – essa foi a primeira vez que o Fed interrompeu o ciclo de aperto monetário desde março de 2022. Um ponto, no entanto, chamou a atenção: a possibilidade de mais duas altas nos juros dos EUA ainda em 2023, o que vinha sendo descartado pelo mercado por conta da recuperação de alguns índices econômicos importantes.
Francisco Nobre, economista da XP, avalia que, mesmo com a manutenção da taxa de juros, será necessário esperar pelo menos até a próxima reunião do Fomc, em julho, para saber qual caminho o Fed seguirá.
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Por causa dessa incerteza, Jennie Li, estrategista de Ações da XP, alerta que o investidor não deve tomar decisões de mudança em sua carteira no curto prazo apenas com base na expectativa de que os juros americanos se mantenham no atual patamar até a próxima reunião ou venham a subir mais.
“Nunca recomendo tentar acertar o timing de mercado, porque isso não costuma funcionar. Minha orientação é que o investidor siga com o seu plano, no horizonte definido por ele e de acordo com o seu perfil de risco”, diz a estrategista da XP.
Nos EUA, renda fixa é oportunidade
Para quem está de olho em oportunidades e riscos no mercado americano, Jennie alerta que ainda há muita incerteza quanto ao tempo que vai levar para uma recuperação da economia. A especialista vê uma relação entre risco e retorno pouco favorável para ações americanas. Apesar da possibilidade de recessão, o cenário macroeconômico ainda não está bem precificado. Por essa razão, Jennie acredita que pode ter mais quedas nas bolsas americanas para frente, tornando esses ativos menos atraentes.
Até mesmo as empresas de tecnologia, que têm apresentado boa performance nos últimos meses, puxando para cima o Índice Nasdaq (ficando acima do Índice S&P), podem perder fôlego, dependendo do tamanho da contração da economia dos EUA.
Assim como a estrategista da XP, Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio de alocação de ativos da Principal Claritas, não recomenda ao investidor a exposição ao mercado de ações dos EUA por conta das incertezas e a chance de encolhimento da economia do país. “Em situações como a que vemos hoje, as empresas pagam menos dividendo, retendo mais capital, o que não é vantajoso para o acionista”, explica.
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Por outro lado, Cabraitz avalia que investir em renda fixa nos EUA pode ser estratégico mesmo para quem pensa em incluir agora esses ativos na carteira. O gestor lembra que, além dos juros básicos já estarem em um nível muito alto para o padrão americano, existe sim a expectativa de novas altas.
“Hoje vemos diversos títulos de renda fixa americanos pagando de 5,5% a 6% ao ano, em dólar, o que é muito bom. Assim, o investidor tem uma opção atraente e mais tranquila e não tem de correr risco com a bolsa”, detalha o gestor da Principal Claritas.
Bolsa brasileira ganha atratividade
Se o mercado de ações dos Estados Unidos pode sofrer nos próximos meses, trazendo incerteza para os investidores, os aportes em bolsa no Brasil apresentam boas perspectivas e podem ajudar a compor uma carteira diversificada. Ainda mais depois que a agência internacional de classificação de risco S&P Global revisou de estável para positiva a perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil. Com a mudança, anunciada também nesta quarta-feira, o País volta a ter a mesma classificação que tinha em 2019.
Segundo a estrategista de Ações da XP, a relação entre risco e retorno para a bolsa brasileira é mais favorável. Os papéis estão baratos, o que aumenta a atratividade por causa da perspectiva de recuperação dos preços dos papéis.
Na Principal Claritas, o posicionamento para a bolsa brasileira é neutro, com um viés levemente positivo. O gestor vê no Brasil uma boa oportunidade de alocação para os grandes investidores internacionais, ainda mais se comparado com outros emergentes, como Rússia e China. A entrada de investidores deve melhorar a performance dos papéis, ainda mais quando se leva em conta o potencial.
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“Quando olhamos para os múltiplos da bolsa brasileira, a média entre preço da ação e lucro é de 11 vezes, mas hoje ainda estamos em 8 vezes, ou seja, há espaço para crescer”, explica Cabraitz. O gestor explica que outros fatores da macroeconomia, como o novo arcabouço fiscal e a possibilidade de aprovação da Reforma Tributária, devem influenciar positivamente no humor e na confiança dos investidores, melhorando o desempenho da bolsa.
Mesmo com a expectativa de início da trajetória de corte de juros pelo BC brasileiro, entre agosto e setembro, e o otimismo em relação à bolsa, Cabraitz sugere que a renda fixa siga na composição de carteira.