

Os primeiros dias de abril exigiram do investidor fôlego e paciência para absorver todos os eventos desencadeados pelas tarifas recíprocas de Donald Trump. Contudo, para quem busca construir uma carteira de dividendos e alcançar a tão sonhada independência financeira, a volatilidade diária das Bolsas de Valores torna-se um problema secundário no portfólio. Para esses investidores, o foco está nas alocações regulares em ações boas pagadoras de dividendos e resilientes a cenários de caos.
Em janeiro, o AGF, plataforma que ensina aos investidores o jeito de investir do megainvestidor Luiz Barsi, listou 11 ações com esse perfil. São empresas de setores perenes e com histórico constante de pagamento de dividendos. Nesta estratégia, o foco não é alcançar um Dividend Yield (DY, rendimento em dividendos) extraordinário, mas o mínimo de 6% ao ano e de forma regular. Contudo, apenas alocar o seu capital neste tipo de papel não será suficiente para ter sucesso na Bolsa. Louise Barsi, economista e sócia fundadora do AGF, diz que o grande “segredo” está no reinvestimento dos dividendos, acompanhado pelos aportes periódicos.
Com essa estratégia, o investidor se beneficia dos efeitos dos juros compostos ao longo dos anos que potencializam os retornos na carteira de investimentos. Um levantamento da Elos Ayta Consultoria, encomendado pelo AGF, mostra os detalhes desse método. O estudo identificou as ações que mais pagaram dividendos nos últimos seis anos. O filtro considerou aquelas companhias que registraram um DY de pelo menos 6%, na mediana, e que tenham mantido um volume financeiro relevante.
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Ao identificar os papéis com esse perfil, o levantamento simulou os retornos das ações ao longo de seis anos com e sem reinvestimentos dos dividendos. As ações da Metal Leve (LEVE3) foram as que apresentaram a maior diferença. Em seis anos, o investidor com posição na companhia que não reinvestiu os dividendos ao longo do período, teve um retorno de apenas 11,19%. Já para quem seguiu os ensinamentos de Barsi, acumulou uma rentabilidade na ordem de 122,77% no mesmo intervalo de tempo. “Os dados mostram que o retorno das carteiras vem categoricamente do dividendo reinvestido e pelos efeitos dos juros compostos na carteira”, diz a sócia-fundadora do AGF.
Dividendos não são almoço grátis
Os dividendos não são um “almoço grátis” que as empresas de capital aberto dão aos seus acionistas por terem alcançado bons resultados no trimestre. Na verdade, as remunerações representam parte da rentabilidade das companhias. Fábio Sobreira, analista e sócio da gestora Rocha Opções de Investimentos, explica que, quando um investidor recebe dividendos na ordem de 10% ao ano, por exemplo, os papéis daquela empresa são negociados na Bolsa de Valores com “abatimento” proporcional ao provento distribuído.
“Os dividendos não saem “do nada”. São remunerações que saem do caixa da empresa”, diz Sobreira. “Empresas com negócios consolidados, como uma Taesa (TAEE3) ou grandes bancos, não têm mais para onde crescer. Então, a tendência é que as ações repassem cada vez mais dividendos porque já possuem uma base formada”, acrescenta. Do contrário, as companhias tendem a segurar os recursos para investir nos seus negócios e conseguir entregar aos acionistas resultados melhores no futuro.
Essa lógica também deve ser adotada por quem deseja viver de renda no médio ou longo prazo. Se o investidor não alcançou um patrimônio suficiente para garantir uma renda passiva, os dividendos que forem sendo pagos ao longo do período de acumulação devem ser reaplicados nos ativos do portfólio. “São os juros compostos que multiplicam os retornos da carteira. Quando eu gasto esses dividendos, não permito que os juros compostos atuem da forma total”, ressalta o sócio da gestora Rocha Opções de Investimentos.
Veja como se organizar para ter uma renda passiva
O primeiro passo para iniciar esta jornada acontece na separação dos gastos mensais considerados fixos e variáveis. Sem saber para onde vai o seu dinheiro, o hábito de destinar um valor mensal para os investimentos pode se tornar inviável. Isso acontece porque as chances de surgir uma despesa inesperada são maiores quando não há um planejamento financeiro.
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Por isso, os especialistas em educação financeira orientam que a organização seja feita da seguinte forma:
- 50% da renda devem ser direcionados para os gastos obrigatórios (água, luz e moradia);
- 30% para as despesas variáveis (lazer e bem-estar);
- 20% para os investimentos.
Vale destacar que essa é apenas uma recomendação genérica. Caso a sua realidade financeira não permita aportes na faixa de 20% da sua renda, qualquer quantia é válida. Agora, se o investidor não possui uma reserva de emergência para imprevistos do dia a dia, a orientação é que priorize a construção desse “colchão de liquidez”. Em outras palavras, os 20% que seriam para uma carteira de dividendos devem ser aplicados em ativos de renda fixa com liquidez diária e baixo risco de crédito para a construção dessa reserva.
“A reserva de emergência traz segurança e evita que o investidor precise resgatar seus ativos de longo prazo em momentos inoportunos”, diz João Zanott, analista CNPI da EQI Research. Com a garantia desses recursos, os valores excedentes da renda mensal podem ser aplicados nas ações de empresas com um modelo de negócio maduro e resiliente aos ciclos econômicos. O método “BESST”, criado por Luiz Barsi e repassado pelo AGF, por exemplo, seleciona os cincos setores da Bolsa de valores considerados “à prova de bala” – ou seja, menos suscetíveis aos ciclos econômicos. São eles: bancos, energia, saneamento, seguros e telecomunicações – conheça o método aqui.
“São empresas que atuam em setores perenes, são resilientes aos solavancos da economia. Possuem receitas que são corrigidas por inflação e têm poder de precificação de mercado”, explica Louise Barsi. As condições do negócio permitem às empresas terem um fluxo de caixa mais previsível e capacidade para distribuir dividendos regulares.