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Com eleição no radar, fundo de US$ 5,7 bi diminui exposição ao Brasil

Eleições de outubro já dão sinais instáveis para investimentos no Brasil; Ibiuna Investimentos mantém cautela

Com eleição no radar, fundo de US$ 5,7 bi diminui exposição ao Brasil
Mercado nacional se mostra muito incerto para investimentos hedge durante período eleitoral. (Foto: Envato Elements)
  • Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas, ou o atual Jair Bolsonaro provavelmente dirão muito a respeito de seus planos antes das eleições
  • As dúvidas levaram o risco de crédito do Brasil, medido por credit default swap (CDS) de cinco anos, ao nível mais alto em cerca de dois anos

(Vinícius Andrade e Rachel Gamarski, Bloomberg) – As eleições presidenciais estão deixando “na defensiva e cautelosa” a Ibiuna Investimentos, uma das maiores gestoras de fundos de hedge independentes do Brasil.

A empresa com sede em São Paulo, fundada em 2010 por dois ex-diretores do Banco Central, está mantendo uma exposição reduzida aos ativos locais devido à incerteza persistente quanto ao futuro das políticas econômicas e fiscais do Brasil depois deste ano.

Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas, ou o atual Jair Bolsonaro (PL) provavelmente dirão muito a respeito de seus planos antes das eleições, de acordo com o sócio-fundador Rodrigo Azevedo.

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“Não há visibilidade para uma grande aposta no Brasil neste momento”, disse Azevedo, que atuou como diretor de política monetária no Banco Central do País entre 2004 e 2007, e agora ajuda a supervisionar mais de R$ 30 bilhões em ativos na Ibiuna. “As coisas talvez fiquem turbulentas e há muitas oportunidades em todo o mundo.”

Embora os preços pareçam atraentes – as ações estão sendo negociadas pelo valor mais barato desde 2008 e a curva da taxa de juros local sugere que a taxa Selic permanecerá acima de 12% nos próximos 12 meses –, há muita cautela por causa das perspectivas fiscais e da volatilidade política.

Lula, que apresenta uma ampla vantagem em relação a Bolsonaro nas pesquisas eleitorais, ainda não deu detalhes de seus planos econômicos. Embora ele diga que dará fim ao teto de gastos e fará uma revisão das reformas favoráveis ao mercado aprovadas nos últimos anos, seus assessores afirmam que ele será fiscalmente responsável.

A recente onda de gastos de Bolsonaro, entretanto, gerou dúvidas com relação a se a agenda de austeridade de Paulo Guedes prevaleceria em um segundo mandato. As taxas de juros futuros do Brasil dispararam na sexta-feira (1), quando o governo revelou planos de gastar cerca de R$ 34,8 bilhões para mitigar o impacto dos altos preços dos combustíveis. A medida contornará a regra do teto de gastos do País, que limita o aumento das despesas públicas e é visto pelos investidores como a principal âncora fiscal do Brasil.

As dúvidas levaram o risco de crédito do Brasil, medido por credit default swap (CDS) de cinco anos, ao nível mais alto em cerca de dois anos.

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“Há tanto prêmio de risco no Brasil que isso nos oferece uma chance de surfar no potencial rali em um estágio posterior”, disse Mario Toros, que sucedeu Azevedo no Banco Central e mais tarde ajudou a fundar a Ibiuna. “Não há pressa em assumir esse risco.”

Em vez disso, a empresa voltou suas apostas para as taxas crescentes em países do México à República Tcheca, Polônia e Alemanha, na perspectiva de que os formuladores de políticas precisariam se apressar para conter a inflação. Valeu a pena: o fundo estava entre aqueles que lucraram muito ao se antecipar ao aumento dos rendimentos dos títulos dos Estados Unidos este ano.

Embora a aposta dos EUA tenha sido reduzida, o comércio global ainda tem espaço para ser gerido, de acordo com Azevedo. As posições agora estão concentradas nas economias desenvolvidas, disse ele, acrescentando que o próximo grande debate será quando é o momento para começar a reduzir as taxas.

“Há uma grande chance de recebermos taxas no próximo ano, mas precisamos navegar nos próximos seis meses – e vamos depender dos dados”, disse ele.

A Ibiuna, que tem uma equipe com cerca de 60 pessoas, contratou recentemente o ex-gestor de carteiras da Verde Asset Management e da O3 Capital, Noman Khan, para sua estratégia macro. O principal fundo de hedge da empresa subiu 25% no ano passado, mais que o triplo do retorno de um grupo de pares locais.

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“A eleição torna todo o cenário muito mais complexo, e tanto o vencedor quanto suas propostas são grandes incógnitas”, disse Azevedo. “Em algum momento, descobriremos para onde eles estão tendendo. Até lá, vamos esperar.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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