“O metal deixou de ser apenas um instrumento defensivo de curto prazo e passou a ocupar um papel estrutural dentro do sistema financeiro global”, comenta Cândido Piovesan, trader da mesa de alocação da Nippur Finance.
Para os analistas do Goldman Sachs, o rali deve perder a intensidade em 2026, com o metal possivelmente se consolidando neste patamar mais elevado, entre US$ 4.000 e US$ 4.500.
Um novo ciclo estrutural para o ouro
A performance é derivada de elementos estruturais que mudam a forma como os países e os investidores passaram a encarar a função do ouro como reserva de valor.
Esses fatores passam por mudanças no regime macroeconômico global, com maior endividamento público, questionamentos sobre a sustentabilidade fiscal de economias centrais e um sistema monetário mais fragmentado por fatores geopolíticos.
“A desdolarização parcial das reservas globais reforça o papel do ouro em 2025 como ativo monetário alternativo, reduzindo sua correlação com ciclos puramente financeiros e ampliando seu valor estratégico”, avalia Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora.
O principal vetor desse ciclo são as compras recordes de ouro pelos bancos centrais, que já somam mais de quatro anos consecutivos acima de mil toneladas anuais, lideradas por países emergentes como China, Índia, Turquia e Polônia.
Desde o início da guerra na Ucrânia e o congelamento de ativos russos, diversas autoridades monetárias, sobretudo de países emergentes, aceleraram a diversificação de suas reservas internacionais, reduzindo a dependência do dólar.
Faz sentido investir em ouro agora?
Para o investidor, avaliar o ouro pela alta acumulada no ano pode levar a decisões equivocadas, alerta Danilo Moreno, analista da Investo. Na sua visão, o metal não deve ser tratado como um ativo de “timing”, mas como um componente estrutural da carteira. “Para quem ainda não tem exposição, faz sentido considerar uma entrada gradual, diluindo o risco de curto prazo e evitando a tentativa de acertar o melhor momento”, diz.
Para quem já possui investimento em ouro, o foco deve estar no rebalanceamento, mantendo a alocação dentro do percentual previamente definido. “O ponto de entrada tende a ser menos relevante do que a consistência da alocação com os objetivos da carteira“.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, ressalta que o rali deste ano tem poucos paralelos históricos, mas, por outro lado, os principais catalisadores seguem presentes. “Enquanto os juros reais permanecerem em trajetória de queda, o viés para o investimento em ouro tende a seguir positivo”, diz.
Além disso, uma parcela significativa dos bancos centrais sinaliza a intenção de ampliar suas reservas de ouro nos próximos anos. “Diferentemente de ralis especulativos do passado, o ciclo atual é impulsionado por demanda oficial e institucional, e não por euforia do investidor de varejo”, contextualiza Cândido Piovesan.
Segundo Zogbi, para quem teme o risco de comprar no topo, uma alternativa seria observar o desempenho relativo entre os metais. “A relação prata/ouro está atualmente em torno de 85 vezes, acima da média histórica próxima de 65 vezes, o que pode indicar que a prata esteja relativamente barata em comparação ao ouro.”
Qual o papel do ouro na carteira do investidor?
Na carteira de investimentos, o ouro deve ser encarado como um componente de proteção e não como ideia de valorização. “O ouro cumpre a função de proteção contra choques globais, diversificação frente a ativos domésticos e hedge (proteção) cambial”, diz Mollo da Daycoval. “Embora possa haver ganho de capital, sua principal função continua sendo reduzir a volatilidade da carteira em cenários adversos.”
Números do ouro em 2025
| Indicador |
Dado |
| Valorização em 2025 |
+60% |
| Preço por onça |
~US$ 4.330 |
| Projeção Goldman Sachs (2026) |
US$ 4.000 a US$ 4.500 |
| Compras anuais de bancos centrais |
>1.000 toneladas |
| Alocação sugerida em carteira |
5% a 10% |
Os especialistas também dizem que não existe um percentual único de alocação na carteira, já que essa decisão depende do perfil e dos objetivos de cada investidor. “De forma geral, os analistas de mercado costumam indicar uma alocação entre 5% e 10% em investimento em ouro, suficiente para promover diversificação sem comprometer o potencial de crescimento no longo prazo”, comenta Paula Zogbi.
ETF é a forma mais eficiente de exposição ao ouro
Para a pessoa física, a melhor forma de investir em ouro é por meio de ETFs (Exchange Traded Funds). Com os fundos de índice, o investidor mantém liquidez na carteira em dois dias úteis, baixo custo, transparência e elimina riscos e custos associados à custódia física, como transporte, armazenamento e segurança. “No caso do GLDX11, ETF da Investo, o investidor consegue se expor ao metal a partir de R$ 100, utilizando apenas uma corretora local”, diz Danilo Moreno.
Paula Zogbi da Nomad lembra dos ETFS negociados no mercado internacional, a exemplo do GLD e do IAU. “Fundos locais podem apresentar taxas mais altas e, em muitos casos, não entregam uma exposição cambial tão eficiente quanto os ETFs internacionais”, defende.