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Petrobras ofuscada: hora de outras 3 empresas brilharem nos dividendos?

No curto prazo, algumas empresas podem ter um retorno em dividendos de até 14%, segundo analistas. Vale a pena investir?

Petrobras ofuscada: hora de outras 3 empresas brilharem nos dividendos?
Plataforma de petróleo no mar. (Foto: Freepik)

Após alguns anos na posição de rainha dos dividendos brasileiros, o brilho da Petrobras (PETR4) começou a ser ofuscado. As distribuições de proventos estão cada vez menos generosas, mas ainda arrancam sorrisos dos investidores, embora estes estejam desconfiados sobre o futuro da petrolífera.

Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, 2024 não será um ano espetacular para os proventos da estatal– como teria sido se a companhia não tivesse mudado sua política de preços de combustíveis e alterado a sua política de dividendos e criado uma reserva de capital –, mas o dividendo ainda deve vir. “Eu calculo R$ 5,58 por ação para 2024, um dividend yield de aproximadamente 16%. É um bom retorno em dividendos se comparado com outras empresas da bolsa”, afirma Arbetman.

Mas se comparado com o histórico da própria Petrobras em anos passados, deixa a desejar. Em 2022, por exemplo, a petrolífera teve um dividend yield de 58,84%, bem acima dos 16% projetados. Apesar disso, “ainda pode ser considerado um dividend yield decente”, observa Arbetman.

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Enquanto as distribuições de proventos da Petrobras recuam, outras empresas menores do setor, conhecidas como “junior oils”, começam a atrair os investidores diante de possíveis retornos com dividendos a curto e médio prazos.

Embora estas companhias sejam mais utilizadas para estratégias de valorização e crescimento, nomes como PetroRecôncavo (RECV3) e Prio (PRIO3) têm despertado a curiosidade daqueles que buscam gerar renda passiva. Afinal, seria possível esperar dividendos também destas empresas?  O E-Investidor consultou alguns analistas e apresenta os cenários a seguir:

PetroRecôncavo (RECV3): possível substituta no curto prazo?

Entre todas as junior oils, a que ganhou mais adeptos foi a PetroRecôncavo (RECV3) pela possibilidade de entregar dividendos elevados em 2024, em patamar próximo ao da Petrobras.

No consenso Bloomberg, por exemplo, que reúne diversas projeções, a RECV3 já figura com um dividend yield estimado de 9,90% para 2024. Segundo Luan Alves, analista-chefe da VG Research, a empresa tem se mostrado eficiente, com forte geração de caixa e perspectiva de crescimento. A casa de análise tem recomendação de compra para o papel RECV3 e espera um dividend yield de 14% em 2024.

Alves explica que a PetroRecôncavo foca em trabalho onshore – desenvolvendo e revitalizando campos terrestres de óleo e gás – diferente da Petrobras que trabalha offshore (no mar e geralmente distante da terra).  A companhia possui atualmente 59 concessões e 1 bloco exploratório – operando 32 campos na Bacia Potiguar e 26 campos na Bacia do Recôncavo.

Para Alves, a curva de crescimento de produção da PetroRecôncavo nos próximos anos é ascendente, de cerca de 20% por ano. “Isso por si só já faz com que a empresa tenha mais dividendos”, destaca. O motivo é que com produção crescente, o caixa da empresa se fortalece e caso não haja novas oportunidades de investimento em novos campos, o recurso vai virar dividendos com retornos muito robustos.

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Este pelo menos é o cenário que temos atualmente e o que tornaria a PetroRecôncavo uma alternativa para quem busca renda no curto prazo, mas talvez para uma alocação tática, destaca o analista independente Ricardo Schweitzer.

Schweitzer lembra que a folga no caixa da PetroRecôncavo se deve a um efeito pontual: a companhia queria comprar o Polo Bahia-Terra da Petrobras, que desistiu de vende-lo. Se a petrolífera não arranjar um outro investimento para fazer, a grande expectativa do mercado é que isso vire dividendos em 2024. “De forma pontual poderia ser uma alternativa para dividendos, mas de forma sustentada, não”, adverte Schweitzer. O analista não recomenda a compra da ação para uma estratégia de dividendos no longo prazo.

Alves, da VG Research, é um pouco mais otimista com a RECV3, e reconhece que ainda não dá para chamar os dividendos da companhia de recorrentes – até porque a petroleira não possui uma política de remuneração de acionistas estabelecida no estatuto– contudo, a expectativa é que a PetroRecôncavo continue com boas distribuições nos próximos anos (2025 em diante), mas atreladas sempre a necessidade de aquisição de novos campos.

“Como ela não comprou outro campo de petróleo, deve pagar esse montante em dividendos. Se a empresa achar algum campo para comprar, aí poderá pagar menos proventos”, pondera o analista. Entre as vantagens de investir em PetroRecôncavo, Alves destaca a exposição ao dólar e ao petróleo, além de aplicar seus recursos em uma empresa eficiente com forte geração de caixa e perspectiva de crescimento. Já nos riscos, cita possíveis problemas de execução do plano de crescimento da companhia.

Prio (PRIO3): saiu da seca dos dividendos

Imagine investir em uma companhia operacionalmente muito eficiente, com boas perspectivas de crescimento, mas que há uma década não pagava um dividendo sequer aos seus acionistas. É assim como o mercado poderia descrever a Prio (PRIO3).

Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research, explica que a Prio trabalha com a produção de petróleo offshore –  ou seja, opera em plataformas petrolíferas em alto mar, fazendo a extração no oceano. O modelo é semelhante ao da Petrobras e outras grandes empresas do setor.

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O diferencial, contudo, é que a Prio trabalha com campos maduros de petróleo, aumentando a vida e produtividade deles com custos baixos. Esses campos são geralmente vendidos pelas grandes petroleiras e reaproveitados por companhias menores como a Prio.

Arbetman, da Ativa, lembra que a Petrobras é especialista na exploração no pré-sal – uma área de reservas petrolíferas localizada abaixo de uma profunda camada de sal no subsolo marinho – enquanto a Prio ainda deve dar os primeiros passos nesse tipo de incursão com a recente aquisição do campo Wahoo.

Foram todos esses investimentos em campos maduros e construção de portfólio, além de uma reestruturação no passado, que mantiveram a Prio ocupada na última década e sem distribuir dividendos. Mas, recentemente a companhia anunciou o pagamento de R$ 60,615 milhões em dividendos intermediários, ou R$ 0,07 por ação que foram depositados na conta do investidor no dia 22 de dezembro.

O anúncio, embora modesto, surpreendeu os investidores, mas uma dúvida ficou no ar: seria o único dividendo que a companhia pretende distribuir após uma década ou teremos espaço para mais?

As opiniões do mercado são diversas. Hugo Queiroz, sócio e diretor da L4 Capital, acredita que este dividendo já sinaliza que a companhia vai continuar distribuindo proventos enquanto aguarda novos desinvestimentos das grandes petroleiras para adquirir novos campos e expandir a sua produção. “Teríamos que ver alguns campos da Shell, Equinor, Petrobras disponíveis para ter um crescimento da Prio e acredito que isso ainda deva levar algum tempo”, afirma Queiroz. Para ele, a Prio deve passar por um período de estabilidade de produção, crescimento menor e margens elevadas, o que deve dar espaço para proventos.

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Contudo, no começo da jornada o dividend yield não deve ser muito elevado, segundo as estimativas de Queiroz. O analista espera que com o barril de petróleo negociando entre US$ 70 e US$ 80, a Prio entregue um dividend yield de entre 1,5% e 3% em 2024. “Se o preço do petróleo ficar acima disso neste ano pode até surpreender”, diz.

Tem os que preferem não esperar nada para não se decepcionar, como Vaz, da Nord, que acha que essa crença do mercado de que a Prio pode chegar a ter um retorno em dividendos de 4% neste ano é empolgação demais. “Isso pode não acontecer se tiver alguma aquisição ou se a companhia fizer algum investimento, esse yield pode cair ou até zerar no ano que vem”, comenta.

Para Vaz, ainda não há sinais claros de dividendos recorrentes na Prio e, embora a companhia deva começar 2024 com uma geração de caixa muito forte, as prioridades serão diminuir o endividamento e investir para aumentar a sua produção. “Só depois disso, ou eles pagam proventos ou destinam para aquisição de novos campos.”

3R Petroleum (RRRP3): dividendos só para 2026

Outra que não remunerou seus acionistas foi a 3R Petroleum (RRRP3). Desde a sua estreia na B3, em novembro de 2020, a companhia não pagou nenhum provento.

Schweitzer explica que a companhia também adquire campos maduros e recorre a recursos técnicos para aumentar a produtividade e vida útil deles. Diferente dos pares, a exploração aqui ocorre de forma mista offshore, onshore e também conta com uma parcela relevante da operação voltada a gás.

Há quem não veja a companhia distribuindo dividendos no curto e médio prazo, Schweitzer, por exemplo, não recomenda a ação para quem busca proventos. Outros, como Queiroz, enxergam que a empresa ainda está em fase de crescimento e aumento de produção, por isso, é natural que segure o caixa para novos investimentos, mas no médio prazo pode oferecer dividendos muito atrativos aos seus acionistas.

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Para Queiroz, 2024 será um ano de captura da geração de caixa e a entrada de novos campos na empresa. A companhia tem o desafio de diminuir seu custo de extração que atualmente está entre US$ 14 e US$ 20 o barril, segundo o analista.

A partir de 2025, o analista espera um crescimento do retorno em dividendos, que pode chegar a 5%. O auge da maturação da companhia ocorreria a partir de 2026, na visão dele. “A 3R Petroleum será uma excelente pagadora de dividendos de no mínimo 15% a partir de 2026”, avalia.

Até 2026 chegar, a companhia já terá reduzido o seu endividamento, potencializado a sua geração de caixa e consolidado algumas aquisições, para ficar finalmente pronta para pagar proventos, de acordo com Queiroz.

E a Petrobras?

A Petrobras ainda deve remunerar os seus investidores com proventos por algum tempo, embora modestos. Para 2024, a perspectiva ainda é positiva.

Arbetman, da Ativa, espera um dividend yield de 16%. Pelo consenso Bloomberg, as estimativas para Petrobras apontam para um retorno em dividendos de 19,20%.

Na VG Research, Alves calcula um retorno em dividendos de 13% para PETR4, mas a recomendação para o papel é neutra.

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Para Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, Petrobras deve continuar gerando um forte caixa, a depender da dinâmica do barril de petróleo. “O mercado projeta que o barril de petróleo Brent deve ficar na faixa dos US$ 70 e isso favorece a geração de caixa e os proventos da empresa”, destaca.

Embora não a veja mais como a maior pagadora de dividendos da bolsa em 2024, Duarte ainda enxerga a Petrobras figurando entre as maiores. O analista espera um dividend yield de entre 12% e 13% para a petrolífera.

Sérgio Neto, analista de ações da Capitalizo, acredita que a Petrobras tem potencial de entregar dividendos na faixa de 9,2%  em 2024. Contudo, nesse patamar, avalia que há melhores oportunidades no mercado de ações que possam oferecer os mesmos yields ou até superiores, mas com riscos menores.

A questão é: o investidor vai preferir uma velha conhecida ou dar uma oportunidade a outras novatas do segmento?