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Investimentos

Como conseguir retornos de até 13% com dividendos de bancos em 2024

Levantamento exclusivo revela que ainda há espaço para encontrar boas pechinchas no setor bancário

Como conseguir retornos de até 13% com dividendos de bancos em 2024
Fachada de agência do banco Itaú. (Foto: Pilar Olivares/REUTERS)

Mesmo diante da queda dos juros, o setor bancário está entre os favoritos dos investidores para renda passiva em 2024. No mês de dezembro, alguns bancos têm se destacado diante do anúncio de dividendos recorrentes e extraordinários. Mas será que ainda existem oportunidades com desconto para quem quer começar na jornada de dividendos?

Segundo analistas, para dividendos no curto prazo Banco do Brasil (BBAS3) e ABC Brasil (ABCB4) se destacam. Contudo, nas últimas semanas, Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) vêm ganhando espaço diante de possíveis distribuições de proventos extraordinárias.

Levantamento exclusivo de Fabio Sobreira, analista CNPI-P da Harami Research, para o E-Investidor revela que ainda há espaço para encontrar boas pechinchas no setor bancário.

O analista utilizou o múltiplo preço sobre lucro (P/L) para identificar quais ações podem ser consideradas baratas atualmente, comparando o indicador médio dos últimos cinco anos com o projetado para 2024. O papel pode ser considerado descontado quando o P/L projetado é inferior à média histórica. “Significa que a preço de hoje o investidor leva mais lucro amanhã”, explica.

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Sobreira também calculou o poder de lucro de cada banco, que indica a capacidade da empresa de pagar dividendos caso opte por distribuir 100% dos ganhos em 2024. E para que os proventos sejam interessantes, o analista apontou o preço máximo de compra das ações para os investidores garantirem um dividend yield (retorno em dividendos) de 6% ao ano, métrica utilizada por grandes nomes do universo da renda passiva, como Luiz Barsi Filho, conhecido como o Rei dos Dividendos, e Décio Bazin, autor do livro Faça Fortuna com Ações.

De acordo com o estudo, apenas o Banco Bradesco poderia não ser considerado barato sob a ótica de preço sobre lucro. O motivo é que a instituição financeira tem apresentado lucros abaixo da sua média histórica e, para o analista, mesmo com melhorias no cenário de inadimplência em 2024 os lucros continuarão insatisfatórios por alguns meses. “O mercado ainda vai ter um pouco de dificuldade de enxergar valor no Bradesco”, avalia.

Confira levantamento:

Ação P/L médio dos últimos 5 anos P/L projetado para 2024 Situação da ação Dividend yield nos últimos 12 meses Poder de lucro projetado para 2024 Preço máximo de compra para obter dividend yield de 6% ao ano
Itaú (ITUB4) 9,82 8,56 barato 4,67% 11,68% R$ 24,50
Bradesco (BBDC4) 6,09 11,5 caro 6,40% 8,70% R$ 17,55
Banco do Brasil (BBAS3) 9,81 4,22 barato 8,57% 23,72% R$ 79,72
Santander (SANB11) 14,09 11,21 barato 5,45% 8,92% R$ 25,56
Banco ABC (ABCB4) 9,61 4,46 barato 5,40% 22,44% R$ 29,85
Banrisul (BRSR6) 5,66 4,99 barato 7,67% 20,03% R$ 15,79
Banco Mercantil (BMEB4) 9,87 5,37 barato 4,95% 18,61% R$ 12,45
Banestes (BEES3) 14,26 7,21 barato 8,19% 13,88% R$ 10,29
Banco BTG (BPAC11) 12,75 10,09 barato 2,87% 9,91% R$ 12,37
Banco da Amazônia (BAZA3) 11,62 3,23 barato 6,58% 30,95% R$ 102,32

Levantamento: Fábio Sobreira, Harami Research. O levantamento considera o preço das ações até 07/12/23

P/L= Preço/Lucro   Dividend yield= retorno em dividendos

BBAS3: credencial de bom pagador

O Banco do Brasil (BBAS3) conseguiu manter em 2023 o seu sólido histórico de remuneração aos acionistas e permanece como uma das opções mais atrativas de renda no setor bancário para 2024, segundo analistas.

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Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, destaca a carteira de crédito do banco concentrada em segmentos resilientes, como agronegócio e crédito consignado para funcionários públicos, o que contribui com os índices elevados de rentabilidade. “O Banco do  Brasil vem entregando um Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE) acima de 20% há algum tempo”, destaca.

Ele também cita a forte capilaridade da instituição, que tem investido em plataformas online para oferecer serviços aos clientes, proporcionando mais engajamento e linhas de negócios. “Entendo que 2024 deve continuar sendo um bom ano para o Banco do Brasil, com taxas de inadimplência sob controle, potencial de entregar um ROE próximo de 21% e dividendos elevados”, pontua Biz. O analista do GuiaInvest espera dividendos de 9% para BBAS3 em 2024.

Hugo Queiroz, sócio e diretor da L4 Capital, tem uma visão muito otimista para os dividendos do Banco do Brasil e projeta dividend yield de 11% para o próximo ano, embora não recomende a compra dos papéis por acreditar que elas já estariam negociando perto do seu preço justo, se embutido os riscos de governança da estatal.

Ele lembra que historicamente o banco trabalha com um payout (parcela do lucro destinada a proventos) de 40% e que em 2023 remunerou os investidores com pelo menos 7 pagamentos de dividendos. “Recorrência, resiliência, carteira de crédito boa devem impulsionar os dividendos, porém o risco é a governança corporativa”, avalia Queiroz.

Na VG Research, a projeção é de um dividend yield de 9% para 2024, com recomendação de compra para as ações BBAS3. Milton Rabelo, analista do setor financeiro da casa, aponta que a instituição pode estar chegando em um ponto de “estagnação” em termos de rentabilidade, em que é esperado uma evolução pouco significativa nos lucros dos próximos trimestres. Apesar disso, a distribuição de proventos ainda deve permanecer robusta no próximo ano.

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Entre os riscos, o analista destaca o temor de que o governo venha a aumentar o crédito subsidiado e direcione a carteira do banco para produtores com menores spreads (taxas), o que poderia deteriorar o retorno da instituição.

Na Ticker Research, a expectativa é de dividendos de 8,5%, com manutenção dos patamares de distribuição vistos em 2023, mas não há recomendação de compra para o papel.

Vale lembrar que a gestão do Banco do Brasil já manifestou algumas vezes a intenção de manter esse payout de 40% do lucro destinado a proventos pelo menos até 2025.

Veja projeções dos analistas:

Ação Dividend yield projetado para 2024 Quem projeta
Itaú (ITUB4) 4,65% a 8% L4 Capital, Ticker Research, Harami Research
Bradesco (BBDC4) 5% a 13% L4 Capital, VG Research, Harami Research e DV Invest
Banco do Brasil (BBAS3) 8,5% a 11% L4 Capital, GuiaInvest, VG Research, Ticker Research e Harami Research
Santander (SANB11) 4,99% a 6,1% Harami Research e GuiaInvest
Banco ABC (ABCB4) 7,5% a 7,89% GuiaInvest, DV Invest, Harami Research
Banrisul (BRSR6) 7,75% a 12% Harami Research e L4 Capital
Banco Mercantil (BMEB4) 4,79% Harami Research
Banestes (BEES3) 6,98% Harami Research
Banco BTG (BPAC11) 2,18% a 3% Harami Research e DV Invest
Banco da Amazônia (BAZA3) 7,58% Harami Research

Fonte: Levantamento E-investidor com casas de análise

ABCB4: opção em bancos médios e crédito corporativo

Outra alternativa citada pelos analistas é o Banco ABC (ABCB4), conhecido por emprestar dinheiro para grandes empresas e para o segmento middle – com faturamento anual entre 30 e 300 milhões.

Biz explica que o banco ABC remunera os seus investidores de forma semestral, fazendo uso de juros sobre capital próprio (JCP) e com um payout de geralmente 40%. Segundo o analista, o banco possui uma carteira bem diversificada setorialmente, o que ajuda a mitigar riscos nos negócios.

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Para o próximo ano, as perspectivas são sólidas, com resultados “limpos” que não incluem provisionamentos de eventos como Americanas (AMER3), segundo Biz. Diante da queda dos juros, o analista destaca que o apetite das empresas por crédito pode crescer, beneficiando também o lucro do banco. “Esperamos um aumento no lucro do ABC entre 8% e 15% para 2024, o que deve favorecer boas distribuições de proventos”, pontua.

Em relação aos dividendos, a projeção é de um retorno de 7,7% para os papéis ABCB4 em 2024.

Renato Reis, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos, também acredita que ABC Brasil terá um retorno interessante em dividendos em 2024, com dividend yield de 7,5%, mas a recomendação do papel é neutra por conta do preço atual da ação, perto de R$ 23.

Entre as vantagens, Reis cita que o banco opera com clientes com baixa inadimplência, motivo pelo qual esse indicador do banco é um dos menores do mercado. No entanto, isso também acaba sendo sinônimo de menores ganhos e rentabilidades. “É por isso que o ROE  do Banco ABC fica um pouco abaixo do registrado no varejo tradicional”, explica.

ITUB4: sólido, mas pode decolar

O Itaú (ITUB4) é visto como uma das alternativas com mais equilíbrio do setor, embora nem sempre o seu retorno em dividendos seja elevado. Isso, no entanto, pode mudar em breve, segundo analistas da XP Investimentos.

Em relatório, a XP afirmou que o Itaú poderia distribuir até R$ 14 bilhões em dividendos extraordinários até o final deste ano. De acordo com a corretora, a definição sobre a implementação da nova regra de risco operacional pelo Banco Central (BC) permite que o Itaú distribua o capital que mantém em excesso, ampliando o rendimento dos papéis via dividendos para 9% em 2023.

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Os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre calculam que o banco poderia distribuir esse montante graças aos índices de capital que possui. O capital de Nível 1, por exemplo, estava em 14,6% em setembro, acima dos 13,5% que o Itaú tem como meta interna.

A novidade acabou animando analistas, que até então projetavam um dividend yield para Itaú de 5% para 2024. Embora as distribuições devam ocorrer em 2023, se o cenário se concretizar, poderia trazer um incremento na projeção do rendimento de dividendos também para o próximo ano. “Nesse contexto alternativo, os investidores poderiam esperar dividendos de 8% de ITUB4 em 2024”, destaca Queiroz, da L4 Capital.

O analista cita como vantagens de investir no Itaú a boa recorrência de rentabilidade e sustentabilidade de bons resultados, reflexo da gestão e do planejamento estratégico. “No Itaú, você entende que terá um ROE sempre acima do custo de oportunidade, superior a 20%, reflexo desse bom planejamento do banco”, avalia.

Já os riscos, segundo o analista, estão relacionados ao cenário macroeconômico, que poderia impactar na carteira de crédito, e na necessidade maior de provisionamentos.

Queiroz destaca que a carteira de crédito do Itaú está diversificada, contudo o banco trabalha com linhas bem tradicionais e com garantias – veículos, imóveis, crédito hipotecário – e tem aumentado a sua participação no consignado. “O cartão de crédito é oferecido para um grupo de clientes bem selecionado”, comenta.

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Já em relação aos dividendos, ele destaca que o banco faz pagamentos mensais, com algumas distribuições maiores perto dos resultados trimestrais. “Recomendamos a compra pela qualidade, pelas perspectivas e pela boa execução. Além dos dividendos, a ação do banco pode se valorizar até 30% do patamar em que se encontra atualmente”, diz. No pregão da última terça-feira (12), os papeis ITUB4 atingiram a cotação de R$ 31,64.

Mesmo diante da possibilidade dos proventos extraordinários no curto prazo, Sanches, da Ticker Research, não está muito otimista com os dividendos do Itaú em 2024 e acredita devem ficar abaixo de 6%, porque os múltiplos da ação estão elevados. “O ideal seria comprar as ações ITUB4 apenas se caírem uns 20% a 25% do preço atual”, observa.

Para Sanches, os dividendos extraordinários seriam não recorrentes e podem acabar não acontecendo. O analista mantém sua projeção de um dividend yield de 5% para ITUB4 no próximo ano.

BBDC4: otimismo com recuperação

De todos os bancos, quem ficou atrás dos pares foi o Bradesco, que corre para recuperar o tempo perdido. Os analistas já enxergam a instituição como uma oportunidade para o longo prazo, embora no curto ainda estejam céticos se vale a pena montar uma posição. Para analistas como Rabelo, da VG Research, o momento propicio de entrada seria agora, aproveitando que o mercado ainda não possui gatilhos de curto prazo que possam impulsionar uma forte valorização.

Rabelo aponta, contudo, que a estrutura do banco ainda está muito inchada frente aos concorrentes e existe um risco elevado da carteira de crédito, além de um certo atraso tecnológico em comparação com os pares, principalmente o Itaú. “Nesse momento delicado, operacionalmente, não parecem claros os pontos fortes do Bradesco frente aos concorrentes, que também possuem grande capilaridade no Brasil e balanços bilionários”, afirma.

Apesar dos erros cometidos no passado recente, o analista lembra que o Bradesco conta com uma carteira de crédito diversificada nos segmentos de pessoa física e pequenas e médias empresas. “Projetamos um dividend yield de 7% para 2024. Uma evolução esperada, ainda que lenta, deve impulsionar a remuneração dos acionistas”, afirma Rabelo. A recomendação é de compra.

  • Saiba mais: analistas projetam dividendos de até 9% do Bradesco. Hora de comprar?

Para Queiroz, Bradesco também seria recomendação de compra diante da perspectiva de recuperação de rentabilidade e um potencial de valorização. O analista espera um dividend yield de 9% para o próximo ano, com 40% de payout, mas cita que os dividendos poderiam chegar até 13% diante de um payout de 60% com reversão de provisionamento. “Para os investidores que conseguirem se posicionar desde já, dada a recuperação do cenário econômico e a retomada da rentabilidade, é possível garantir esse retorno em dividendos elevado”, argumenta.

“O banco possui uma carteira balanceada e equilibrada entre pessoa física e pessoa jurídica. Se machucou muito no último ciclo de crédito, mas está readequado sua estratégia diante da troca de gestão e deve recuperar a sua carteira no próximo ano”, reforça. O analista espera que nessa recuperação de rentabilidade o ROE do banco chegue ao patamar de 16% em 2024, podendo crescer até 20% nos próximos anos.

Para Reis, da DV Invest, Bradesco representa oportunidade para longo prazo, contudo, de alta volatilidade. “Não é a primeira vez que o banco teve uma crise e saiu machucado”, aponta. Em relação a 2024, ele ainda acredita que o lucro e rentabilidade do Bradesco fiquem abaixo da média histórica, o que deve pressionar ainda nos dividendos. A recuperação, segundo Reis, só deve acontecer em dois ou três anos. Mas há esperanças, diante das mudanças recentes feitas na gestão e diretoria, destaca.

O analista é mais pessimista sobre a projeção de dividend yield para 2024 e espera que o retorno seja de no máximo 5% em dividendos. A recomendação é neutra para BBDC4.

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