- Forte alta chamou ainda mais a atenção de investidores, inclusive institucionais, porque a economia global sofreu um duro golpe imposto pelas medidas de distanciamento social
- Risco inflacionário, incerteza sobre a pandemia, maior potencial de ganho e proteção econômica estão entre os fatores para o sucesso da criptomoeda
(Aléxis Cerqueira Góis, especial para o E-Investidor) – O Bitcoin (BTC) teve uma valorização de 837% em dólar em um período de 12 meses, de acordo com dados da corretora Coinbase. No dia 20 de março de 2020, enquanto o mundo sofria as primeiras consequências da disseminação do novo coronavírus, o criptoativo estava cotado a US$ 6.198,78. Um ano depois, em 19 de março de 2021, a moeda bateu US$ 58.126,10.
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A forte alta chamou ainda mais a atenção de investidores, inclusive institucionais, porque a economia global sofreu um duro golpe imposto pelas medidas de distanciamento social. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) de 157 países recuou, em média, 8,8 pontos percentuais, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Acompanhando essa tendência, importantes índices do mercado mundial, como a Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), Nasdaq, Tóquio (Topix), Xangai (SSE) e da Europa (Euronext) registraram um tombo de até 30% no volume de negociações nas primeiras semanas da crise sanitária. Os efeitos sobre o Ibovespa foram ainda mais devastadores, com o índice caindo quase pela metade.
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A retomada das negociações em todas as bolsas foi lenta. O Topix e o Nasdaq demoraram três meses para recuperar o mesmo patamar anterior à covid-19, enquanto o NYSE e o SSE precisaram de seis. O Ibovespa levou nove meses para alcançar o mesmo nível de negociação, e a Euronext precisou de quase um ano.
Por outro lado, o volume de negociações do Bitcoin cresceu 603% em 12 meses. Isso, somado à valorização da criptomoeda, impulsionou a capitalização do ativo para atingir a marca recorde de US$ 1 trilhão, um número equivalente à soma do valor de todas as ações negociadas pelo Ibovespa.
O que explica a alta do Bitcoin?
O Bitcoin foi criado há pouco mais de 10 anos e sempre foi uma moeda extremamente volátil. Entretanto, no último ano, o criptoativo encontrou uma série de fatores que proporcionaram um cenário perfeito para testar a resiliência do BTC como reserva de valor e proteção econômica, papel ocupado tradicionalmente pelo ouro e pelo dólar.
Risco inflacionário
Os investidores procuram um ativo para se manter protegidos frente a um futuro de incertezas. A injeção de trilhões de dólares no mercado global para tentar reverter a crise econômica provocada pela pandemia tende a gerar um aumento de preços e desvalorização monetária, o que pode ser um efeito colateral amargo para a economia.
O risco inflacionário, porém, inexiste para o Bitcoin. A inflação do criptoativo é fixa em 1,76% ao ano, o que corresponde à criação de 6,25 novos Bitcoins para cada bloco minerado, ou cerca de 144 BTCs por dia. Esse pagamento é reduzido pela metade a cada quatro anos, mecanismo conhecido como halving.
Incerteza sobre a pandemia
As dificuldades da vacinação e as novas ondas de infecção pelo coronavírus comprometem a retomada das atividades econômicas, reeditando um cenário de crise econômica aguda vivenciado no início da pandemia.
Mesmo os países com maior índice de imunização enfrentam restrições de circulação para não imunizados, mostrando que a recuperação pode demorar mais do que o imaginado.
Tal cenário de incertezas aumenta também o risco de uma nova queda brusca de ações e até de quebra de empresas, o que afugenta os investidores das bolsas de valores para outros ativos que oferecem melhor retorno.
Maior potencial de ganho
De forma sincronizada, além da pandemia, a alta do ouro e do dólar reduziu a possível remuneração desses ativos. A manutenção de taxas de juros em níveis baixos diminuiu a atratividade dos títulos de governo. Em meio a este cenário, ocorreu um halving que, por si só, leva a uma valorização da criptomoeda, uma vez que a emissão dos ativos é limitada.
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Todos esses fatores em conjunto proporcionam um maior potencial de ganho para os investimentos em Bitcoin em comparação com ativos tradicionais, como ouro, dólar ou títulos de dívida pública, aumentando a atratividade das criptomoedas.
Proteção econômica
O Bitcoin e os outros criptoativos se consolidaram como importantes ativos financeiros para a formação de reservas com a finalidade de proteção econômica de empresas durante a crise sanitária, apesar de ainda precisarem reduzir a sua volatilidade e aumentar a sua utilidade para manter o cenário de valorização a longo prazo.
Novos players, inclusive investidores institucionais, têm sido atraídos para as moedas digitais. Em outubro do ano passado, a gigante de pagamento PayPal passou a permitir que mais de 26 milhões de comerciantes em todo o mundo recebessem pagamentos em BTC. Mais recentemente, a Mastercard anunciou o suporte a criptomoedas, inclusive com a criação de um sistema de recompensas em BTC.
A empresa de tecnologia Tesla anunciou a compra de US$ 1,5 bilhão em Bitcoins para compor as suas reservas em fevereiro. Para provar a liquidez da moeda, a companhia chegou a vender US$ 272 milhões em BTC e registrou um lucro com a operação de US$ 101 milhões em seu balanço do primeiro trimestre de 2021.
Quais são as principais tendências das criptomoedas?
É impossível prever o comportamento do preço do Bitcoin a curto prazo. Porém, a longo prazo, a moeda tem uma tendência de continuidade de valorização. Isso porque os principais fundamentos do criptoativo, como a emissão limitada, a segurança da rede e a demanda crescente, devem continuar pressionando o preço dele.
O amadurecimento das moedas digitais, com avanços em termo de adoção, regulamentação e infraestrutura, deverá trazer mais segurança e continuar atraindo novos clientes globais individuais e institucionais para compor reservas com criptoativos.
Apesar de representar cerca de metade do mercado de criptomoedas, o Bitcoin não deve estrelar sozinho. O boom de finanças descentralizadas (Defi), observado em 2020, deve continuar com o surgimento de novos tokens e o fortalecimento de altcoins, criptoativos alternativos ao BTC
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Entre eles, o Ethereum (ETH), principal cripto utilizado para infraestrutura de tokens, deve aumentar a sua participação e ter uma valorização maior do que o próprio BTC. De forma descentralizada e com código aberto, o sistema serve como base para vários aplicativos descentralizados (Dapps), utilizado em praticamente todos os tokens de stablecoins, o que o coloca no centro das atenções dos criptoativos.
Fonte: Ibre/FG.