- O mercado está precificando que o primeiro corte na Selic deste ciclo que dura quase dois anos aconteça no 2º semestre
- O E-Investidor conversou com corretoras e gestoras para entender se já é o momento de adequar as estratégias de investimento pensando neste novo cenário
- Para algumas delas, ainda é cedo demais; entenda o porquê
A taxa básica de juros brasileira, a Selic, não vê um ajuste para baixo desde agosto de 2020, quando foi cortada de 2,25% para 2% ao ano, no menor patamar da história. De lá para cá, foram 12 aumentos consecutivos suficientes para elevar os juros a 13,75% ao ano, nível em que estão estacionados desde agosto de 2022.
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As estratégias de investimento nesse período mudaram. Se os juros baixos favoreciam as ações na Bolsa, aos poucos, a renda fixa foi reconquistando seu lugar de queridinha dos investidores à medida que o aperto monetário penalizava os ativos da renda variável.
Agora, com a inflação dando os primeiros sinais de arrefecimento e os planos para a política fiscal ficando mais claros, o mercado passou a precificar o tão esperado primeiro corte na Selic para o segundo semestre do ano. Entre os mais otimistas, há quem diga que o Copom reduzirá o juros já na próxima reunião de junho, mas a expectativa geral é de cortes no encontro de setembro.
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Sinal de que as estratégias de investimento também vão começar a se alterar? Há quem diga que sim, como mostramos nesta reportagem , mas há quem acredite que ainda é cedo para realizar qualquer alteração nas estratégias de investimento pensando nisso.
Na Vita Investimentos, por exemplo, a perspectiva de corte de juros não tem alterado as preferências de investimento. A principal recomendação são os títulos de renda fixa atrelados à inflação, uma exposição que é responsável por parte relevante do portfólio da casa há mais de ano.
“Acreditamos que o cenário depende menos de um corte de juros e mais de como que a parte fiscal vai se comportar nos próximos anos”, explica Arthur Mello, sócio e co-CIO da Vita.
O entendimento é que, nesse cenário de incertezas fiscais, os títulos indexados ao IPCA podem ser uma proteção e entregar bons resultados no período de 5 anos, que a casa costuma trabalhar. “Nesse horizonte, esses títulos vão bater o CDI com folga”, diz.
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A Alphatree Capital também não está se posicionando motivada por um possível corte de juros. Para o co-CEO e diretor de investimentos, Rodrigo Jolig, por mais que seja comum no mercado tentar antecipar esses movimentos, parece cedo para já apostar em uma Selic menor.
“Não acho que faça sentido ficar carregando a posição agora. Tem um momento de entrar e ele é quando o Banco Central realmente sinalizar que vai começar, é nessa hora que a gente vai movimentar o portfólio”, explica.
Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da última quarta-feira (3), o BC deixou claro que ainda vê riscos no radar. Em um tom ainda duro, a instituição defendeu que a atividade econômica segue resiliente, que o arcabouço fiscal não leva necessariamente a uma convergência da inflação, e voltou a dizer que “não hesitará” em voltar a subir os juros, se necessário. Mostramos detalhes aqui.
Essa série de fatores faz a Oriz Partners manter como cenário base cortes nos juros apenas em 2024. Com isso, a preferência da casa ainda são as NTN-Bs. “É um instrumento para aproveitar essa onda dos juros elevados. Neste momento são as melhores oportunidade de investimento”, afirma Marcos de Marchi, economista-chefe da Oriz. Como a casa não prevê cortes de juros tão cedo, o entendimento é que o momento ainda não é adequado para entrarem outros tipos de ativos da renda variável, por exemplo.
Contra a maré
O E-Investidor conversou com analistas, estrategistas e gestores para entender como eles estão preparando os portfólios de investimento para capturar este possível movimento de redução dos juros. Como mostramos, dá para dividir as respostas em basicamente dois grupos – os que ainda não estão alterando as carteiras e aqueles que gradualmente já começaram os movimentos para tentar se antecipar ao corte na Selic.
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Mas há ainda uma terceira resposta possível. Quem está alterando a estratégia de investimento, mas motivado por uma razão contrária: o entendimento de que os juros podem demorar a cair mais do que o inicialmente previsto. É o caso do Santander, que divulgou na sexta-feira (5) um relatório em que destaca que está tirando de cena as alocações em renda variável justamente por entender que o risco ainda perdura.
A expectativa de postergação no corte na taxa de juros, somada à alta volatilidade da Bolsa brasileira, fez o time de research reduzir a exposição a ativos de renda variável na “Carteira Modelo” do mês de maio. Segundo Arley Junior, estrategista de Investimentos do Santander, o nível elevado de incertezas e juros alto não mostra no curto prazo um movimento mais positivo para a Bolsa. “Ao longo do mês esperamos que uma evolução na nova regra fiscal ajude a reduzir o nível de incerteza, o que pode diminuir a aversão ao risco”, afirma.