Após o Banco Central (BC) manter a taxa Selic em 10,5% na quarta-feira (19), o mercado financeiro projeta que o patamar será mantido até, pelo menos, dezembro de 2024.
Leia também
Houve piora generalizada das expectativas entre o encontro desta quarta-feira e o anterior, em maio, levando o mercado a precificar que o ciclo de afrouxamento monetário chegou ao fim. Seguem no radar os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que vieram piores do que o esperado, e a possibilidade de que as chuvas no Rio Grande do Sul pressionem o preço de alguns alimentos. Tudo isso em meio à piora da percepção em relação ao fiscal do País, enquanto o Governo Federal enfrenta dificuldades para aprovar no Congresso medidas para aumentar a arrecadação nacional.
Vale lembrar que na reunião de maio, o Copom reduziu a taxa pela sétima vez consecutiva, mas não houve consenso prévio entre agentes, com parte dos membros do comitê apoiando um corte maior. Desde agosto de 2023, o colegiado vinha adotando um ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual na Selic, mas a piora do sentimento em relação aos fundamentos macroeconômicos no Brasil e no exterior levou parte do mercado a defender uma redução menor na taxa de juros, de 0,25 ponto percentual.
Publicidade
Agora, além da decisão em manter a taxa, os analistas já consideram até a possibilidade de aumento dos juros nas reuniões do segundo semestre. Afinal, essa foi a primeira vez desde agosto de 2023 que o colegiado não realizou nenhum corte nos juros.
No Boletim Focus desta semana, a projeção para a Selic no fim de 2025 seguiu em 9%, ante 8,5% há um mês. Para 2026, a projeção passou de 8,75% para 9%, ante 8,50% há um mês.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, alertou para a piora do cenário econômico no Brasil e os efeitos na Selic. “Desde maio, houve uma depreciação adicional no câmbio e a continuação da elevação das expectativas de inflação. A partir de agora, se o cenário continuar piorando, como o dólar e a inflação nas alturas, não descartamos uma elevação de juros até o final deste ano”, diz.
Rodolfo Margato, economista da XP, diz esperar que a taxa de 10,5% se mantenha por um “longo período”, mas não descarta novas altas. “Não dá para descartar a necessidade de um aperto monetário adicional, ou seja, elevação de juros, tampouco da retomada do ciclo de reduções. É um cenário bastante aberto”, afirma.
Publicidade
Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, espera que o governo anuncie novas medidas para controlar gastos para evitar que taxa suba. “Com essas medidas, achamos que o governo consegue voltar a controlar um pouco mais a questão do risco fiscal. Considerando esse cenário, em que o governo tenha sucesso em apresentar as medidas, a Selic pode ficar parada ao longo do segundo semestre”, afirma.
Veja as projeções para a Selic até dezembro de 2024
- Ativa Investimentos:10,5%
- C6 Bank: 10,5%
- EQI Asset: 10,5%
- Monte Bravo: 10,5%
- XP: 10,5%
Inflação
A Selic é o principal instrumento do BC para alcançar a meta de inflação. Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.
Quando o Copom diminui a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
Publicidade
A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do país – teve elevação, passando de 3,9% para 3,96% este ano. Para 2025, a projeção da inflação também subiu de 3,78% para 3,8%. Para 2026 e 2027, as previsões são de 3,6% e 3,5% para os dois anos.
A estimativa para 2024 está dentro do intervalo da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%. Para 2025 e 2026, as metas de inflação estão fixadas em 3%, com a mesma tolerância.
Em maio, pressionada pelos preços de alimentos e bebidas, a inflação do país foi 0,46%, após ter registrado 0,38% em abril. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, em 12 meses, o IPCA acumula 3,93%.
*Com Agência Brasil
Publicidade