

A queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estampada em pesquisas recentes, gerou um efeito positivo nos índices de investimentos. Em meados de fevereiro, quando o Instituto Datafolha mostrou que a aprovação do petista bateu o menor patamar dos seus três mandatos, a Bolsa de Valores e o câmbio tiveram um pregão de euforia – evidenciando que as eleições presidenciais de 2026 já entraram na pauta dos investidores.
Mas a antecipação desse “trade de eleição” tem agora uma nova etapa, que pode não ser tão positiva assim. São as possíveis respostas do Executivo à queda de popularidade e alta da inflação, com medidas que podem ampliar os gastos públicos em um contexto que já é de preocupação com a trajetória da dívida do País.
Para Erich Decat, head do time de análise política da corretora Warren Renascença, e colunista do E-Investidor, o cenário de curto prazo deve ter uma piora. Especialmente se medidas como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, já prometida pelo governo, vier sem uma contrapartida que compense o peso do benefício nas contas públicas. “Isso seria um gatilho dentro do mercado financeiro para vivermos um cenário muito próximo do que aconteceu em dezembro, quando o dólar disparou e a Bolsa despencou, justamente pela apreensão em relação ao equilíbrio fiscal”, destaca.
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Em entrevista ao E-Investidor, Decat explica que há uma perspectiva mais positiva, sob a ótica do mercado financeiro, para o segundo semestre, quando a oposição começar a se articular para apresentar uma candidatura competitiva para 2026. Antes disso, no entanto, em um contexto já de incertezas fiscais e em relação a juros e tarifas de Donald Trump no exterior, os movimentos do governo para combater a inflação podem levar a um período de estresse maior.
E-Investidor – Parece que as eleições de 2026 entraram na pauta do mercado de forma antecipada, com reações de investidores às pesquisas de popularidade presidencial. Qual a sua avaliação sobre esse movimento?
Erich Decat – Alguns episódios confirmam a antecipação do debate político eleitoral. No fim do ano, foi marcante a situação em que Lula precisou fazer uma segunda cirurgia e, assim que saiu a informação pela imprensa, o mercado reagiu com ganhos na Bolsa e dólar em queda. Houve ali um entendimento de que o presidente poderia ser afastado e o vice Geraldo Alckmin, mais market friendly, assumiria, mesmo que momentaneamente. Em um segundo momento, houve uma nova demonstração, mas de fraqueza de apoio, que foi a pesquisa do Datafolha. Também nessa ocasião, houve uma reação muito forte no mercado. Há, sim, uma sensibilidade maior antecipada quando se mostra uma possibilidade de alternância de poder em 2026 e isso vem sendo demonstrado por meio de pesquisas.
Em Brasília, a leitura dessas pesquisas tem sido a mesma que no mercado financeiro?
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O sentimento em Brasília é o mesmo desde o início do começo do Lula 3: o mundo político tem se queixado do isolamento em que o próprio presidente se colocou frente a parlamentares e ministros. O mercado financeiro quer entender qual a força o presidente Lula ainda tem para aprovar algumas propostas e se essa perda de apoio nas pesquisas de popularidade vai se reverter em perda de apoio dentro do Congresso – é muito cedo para dizer isso até o momento, já que não houve nenhum teste na nova gestão do Hugo Motta e do David Alcolumbre. O atual quadro é bastante ruim, mas ainda há tempo hábil para o governo tentar minimizar isso no médio prazo.
Qual a resposta esperada por parte do presidente para reverter a baixa popularidade?
Há um sentimento de que, em razão da queda de popularidade, o presidente Lula pode a qualquer momento apertar o botão do gastar mais com várias ações populistas. É uma possibilidade observada com bastante apreensão. Os primeiros movimentos estão saindo, como a questão do FGTS; também estamos monitorando como virá a proposta do Imposto de Renda. Não havendo uma compensação suficiente para cobrir os gastos da medida, isso vai ser um gatilho dentro do mercado financeiro para vivermos um cenário muito próximo do que aconteceu em dezembro, quando o dólar disparou e a Bolsa despencou, justamente pela apreensão em relação ao equilíbrio fiscal. Também há uma apreensão do que o governo pode fazer para combater a alta da inflação; se as medidas vão ser equilibradas ou artificiais, envolvendo sinalizações de congelamento de preço, criação de estoques. Isso também teria impacto no mercado.
Alguns gestores têm pontuado que a euforia com a possibilidade de troca no comando do País em 2026 poderia fazer o mercado “aguentar” uma piora econômica até lá. Você concorda?
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Concordo em partes. Vamos pensar em calendário: em setembro ou outubro, quando começam as movimentações dentro da centro-direita para apresentar um candidato para disputar em 2026, acredito que o mercado coloque isso na balança. Algo na linha de aguentar um pouco e não ter impacto muito grande nos principais índices da Bolsa, tendo em vista a possibilidade de uma candidatura competitiva para 2026; independentemente de nome, em um País polarizado, se a centro-direita se organizar, a candidatura será competitiva. E isso cria uma expectativa positiva dentro do mercado financeiro, que hoje vê como positivo a questão da alternância de poder. Mas, até lá, há um primeiro momento difícil, ainda neste semestre, tendo em vista as dúvidas em relação a como o governo vai enfrentar a inflação, qual será o desfecho da reforma do imposto de renda. Será um período de estresse e apreensão muito grande. No curto prazo, vai piorar um pouco antes de melhorar.