- O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou em 0,25 pontos-porcentuais a Selic. Com o ajuste, a taxa de juros para o patamar de 10,75% ao ano
- Outros ajustes estão sendo preficicados pelo mercado que estima uma Selic a 12% no fim de 2024. Mesmo com essa perspectiva, os títulos pós-fixados não devem atrair a atenção dos investidores
- Marília Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), em elevar a taxa Selic para o patamar de 10,75% ao ano não deve trazer mudanças para o mercado de renda fixa no curto prazo. Para Marília Fontes, cofundadora da Nord Reserch, os títulos pós-fixados podem continuar perdendo espaço na carteira dos investidores para os prefixados e indexados ao IPCA.
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Isso acontece porque, desde abril, quando houve a mudança das metas fiscais, o mercado segue preocupado com o equilíbrio das contas públicas. E como na época o movimento era de redução de juros, esses títulos passaram a precificar o risco fiscal do País. “Não enxergo nenhum benefício nesses títulos (pós-fixados) com a alta da Selic porque temos bastante prêmio nos prefixados e nos títulos IPCA+. O mercado ainda está assustado com toda a questão fiscal no Brasil”, diz Fontes.
No pregão de sexta-feira (20), os títulos públicos prefixados estavam sendo negociados com um prêmio acima de 12%. Já os IPCA+ com retornos de até 6,6%. A duração desse bom momento para investir nesses papéis vai depender do posicionamento do governo frente ao problema das contas públicas. Se houver uma sinalização de corte de gastos, a tendência é que a atratividades desses produtos se mantenha. Do contrário, podem perder espaço para os pós-fixados.
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“Precisamos aguardar para entender se o governo vai cortar gastos ou vai mudar a meta novamente (como ocorreu em abril deste ano)”, ressalta Fontes. Ao E-Investidor, a co-fundadora da Nord Research falou sobre o que esperar da bolsa de valores do Brasil com a queda de juros nos Estados Unidos e sobre o fluxo estrangeiro para os mercados emergentes. Confira!
E-Investidor – O Copom decidiu elevar a Selic em 0,25% pontos-base e o mercado projeta novas altas até o fim do ano. Os títulos pós-fixados se tornaram a bola da vez no mercado de renda fixa?
Marília Fontes – O Copom subiu 0,25 pontos-base a Selic com uma linguagem muito dura, o que nos faz pensar que nas próximas reuniões poderemos acelerar o ciclo ao passo de elevar 0,50 pontos-base a taxa de juros. O mercado já precifica uma Selic terminal de 12% ou 12,5%. E quando olhamos a curva de juros, isso já está precificado. Então, quando comparamos para os títulos pós-fixados, não vejo nenhum benefício nesses títulos com a alta da Selic porque temos bastante prêmio nos prefixados e nos títulos IPCA+. O mercado ainda está assustado com toda a questão fiscal no Brasil.
Até quanto deve durar essa preferência pelos prefixados visto que eles estão pagando uma rentabilidade de 12%?
Vai depender de como o governo pretende endereçar a questão fiscal neste ano e no próximo ano. Estamos vendo os principais mercados reduzindo os juros e a nossa inflação não está ruim. Pelo contrário, os dados estão muito bons. O grande problema do Brasil é a expectativa de inflação que está péssima por conta do risco fiscal e da surpresa positiva na atividade econômica.
O Tribunal de Contas da União e o Banco Central já informaram que acham que o governo não vai cumprir a meta fiscal deste ano. Então, precisamos aguardar para entender se o governo vai cortar gastos ou vai mudar a meta novamente (como ocorreu em abril deste ano). Se ele mudar a meta, as taxas de juros vão continuar subindo. Agora, se houver uma redução crível de despesas, o prefixado se torna como o melhor título nesse cenário.
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E sobre os títulos IPCA+? Por que há um otimismo para esses títulos se a alta da Selic busca controlar a inflação?
A alta da Selic deveria reduzir as expectativas de inflação, mas não é o que está acontecendo. A inflação implícita está elevada e, mais uma vez, vai depender da posição do governo em relação à meta fiscal do que com o dado da inflação em si. O governo vai precisar se posicionar. Vamos cumprir a meta fiscal ou vamos mudar a meta? E o mercado vai cobrar um preço por isso.
Com a alta dos juros, muitos investidores correm para a renda fixa. Mas partindo do conceito que você defende, de que “a renda fixa não é fixa”, como montar uma carteira de renda fixa para diversificar o risco?
Só existe um título de renda fixa que não tem risco, que é o Tesouro Selic. Quando você investe em renda fixa, há dois tipos de risco: o risco de mercado quando você vende o papel antes do vencimento e o risco de crédito. Então, se você investe em prefixado do governo, não está correndo risco de crédito. Se você investe em um prefixado de uma empresa privada, você corre o risco de crédito. Então, o investidor precisa decidir qual risco deseja estar exposto. Eu não acho que vale a pena diversificar risco de mercado porque cada um dos três títulos (pós-fixados, prefixados e indexados à inflação) se comportam bem ou mal em um determinado cenário macroeconômico.
Mas é possível ter retornos expressivos com renda fixa semelhante ao das ações?
Sim! Por meio da marcação ao mercado, você consegue ter ganhos como 20%, 30%, 40% em um ano com efeito de marcação ao mercado. Então, é totalmente possível. Basta ter uma queda de juros relevante em um título de longo prazo, como aconteceu em 2016 com um título indexado ao IPCA com vencimento de longo prazo que estava rendendo em torno de 40%.
Em setembro, o Ibovespa não está dando continuidade aos ganhos de agosto. Acredita que a bolsa brasileira pode ter ainda uma recuperação após a decisão do Federal Reserve (Fed)?
Eu ainda vejo espaço porque o movimento da Bolsa em agosto foi motivada pelos investidores gringos em meio às expectativas de redução de juros nos Estados Unidos. Essa perspectiva impulsionou o capital estrangeiro para os mercados emergentes, como o Brasil. A bolsa da China também melhorou muito. Vejo que, se tivermos uma queda consistente dos juros americanos, o fluxo gringo deve sustentar a Bolsa brasileira nesses preços atuais.
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Mas ao olhar os dados de setembro, o saldo do capital estrangeiro voltou a ficar negativo. Há chances desse fluxo alcançar o mesmo ritmo de agosto e de setembro?
Acredito que sim. Está um pouco negativo, mas frente ao que entrou há alguns meses atrás ainda é um fluxo positivo.