Após COpom manter os juros brasileiros na última reunião de 2025, a discussão agora gira em torno de quando as taxas começarão a ceder; especialistas indicam onde investir com a Selic a 15%. (Imagem: Rmcarvalhobsb em Adobe Stock)
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) colocou um ponto final na última reunião deste ano com uma mensagem clara aos investidores: a taxa básica de juros, a Selic, fica em 15%. A decisão desta quarta-feira (10) deixa pela quarta vez o juro no maior nível em quase 20 anos e confirma que o BC ainda não encontrou conforto para iniciar cortes. Neste patamar, a renda fixa continua ocupando o topo das recomendações de onde investir com Selic a 15%, já que entrega retorno elevado com risco controlado.
A lógica é simples: enquanto a inflação resiste nos itens mais teimosos, como serviços, e as expectativas seguem acima do ideal, aplicar o dinheiro em títulos que acompanham a taxa básica de juros funciona como um escudo. Um movimento que, segundo especialistas, organiza o portfólio sem exigir malabarismos.
A discussão agora gira em torno de quando o juro pode começar a ceder. Analistas apontam março como o mês mais provável para um corte de 25 pontos base – para 14,75% ao ano –, deixando janeiro fora do radar. O Copom também observa o mercado de trabalho aquecido e o crédito ainda forte, fatores que sustentam pressões de preço. A projeção de inflação em 3,8% para 2027, ligeiramente acima da meta, reforça o posicionamento cauteloso e deixa o investidor atento às próximas atas.
Onde investir com Selic a 15%: o que ganha e o que perde
Enquanto o primeiro corte de juros não acontece, Rodrigo Marques, gestor e economista-chefe da Nest Asset Management, recomenda a renda fixa como ponto de partida. Para ele, os títulos públicos indexados à Selic – Tesouro Selic – e ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – Tesouro IPCA+ –entregam a melhor combinação entre retorno e segurança.
Nos papéis privados, a preferência fica com emissões de bancos e empresas classificadas como high grade, que carregam risco menor.
Segundo Marques, dois grupos de ativos tendem a se beneficiar de um juro alto por mais tempo. Os conservadores encontram abrigo natural nos títulos públicos, enquanto investidores com apetite por risco podem mirar fundos que compram ativos estressados, como créditos de empresas em recuperação judicial.
Quando o Banco Central começar a sinalizar o primeiro corte, o mapa de oportunidades muda gradualmente. A orientação é ampliar a exposição a títulos do Tesouro atrelados à inflação – Notas do Tesouro Nacional (NTNs), como o Tesouro IPCA+ – de vencimentos mais longos, que se valorizam com a queda dos juros, e observar com mais atenção as bolsas domésticas. O movimento deve ser progressivo para capturar a virada sem atropelos.
O estrategista de produtos de investimento do C6 Bank, Marcelo Freller, compartilha da mesma leitura e observa que a Selic a 15% torna difícil competir com outros ativos. Segundo ele, retornos altos e sem volatilidade reduzem o apelo de dólar, açõese fundos imobiliários (FIIs).
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Freller diz ainda que, mesmo dentro da renda fixa, o efeito não é uniforme: apenas os títulos pós-fixados atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI) se beneficiam plenamente desse ambiente, enquanto papéis prefixados e indexados ao IPCA sentem o impacto da perspectiva de juros elevados por mais tempo por causa da marcação a mercado.
Para o estrategista, o ciclo atual favorece emissores capazes de arcar com o custo financeiro gerado por um juro dessa proporção. “Estamos falando de renda fixa pós-fixada, mas não qualquer uma. Só vale para emissores de alta qualidade, que têm capacidade real de honrar o pagamento desses 15% ao ano mais os spreads de crédito. Na prática, estamos falando de títulos públicos e, no máximo, de empresas com balanços muito sólidos”, explica.
Os riscos escondidos da renda fixa com juro alto
Na mesma linha de Freller, Luciano Claudino, consultor de investimentos, também alerta para os cuidados que o investidor deve ter nesse período de juros ainda elevados.
“Não confundir juro alto com ausência de risco. Em períodos assim, aparecem promessas de retornos ‘acima da média’ e produtos cheios de detalhes, travas e condições que o investidor só entende quando dá problema. Se a aplicação parece boa demais e difícil de explicar em poucas frases, merece desconfiança”, avisa.
Ele reforça ainda a necessidade de ter cautela com títulos de longo prazo. Isso porque os preços desses papéis podem oscilar e surpreender investidores que esperavam renda totalmente estável, já que a marcação a mercado influencia o valor dos ativos. “E vale redobrar o cuidado com crédito de baixa qualidade, empresas muito endividadas e investimentos que dependem de crescimento rápido para fazer sentido”, completa.
Para especialistas, economia americana mantém posição de liderança em temas que influenciam os mercados, como a IA. Isso ainda sustenta o desempenho superior das bolsas e os lucros corporativos, mesmo diante das incertezas provocadas pelas tarifas comerciais. (Foto: Adobe Stock)
Mesmo com o retorno gordo da renda fixa doméstica, o investidor não deve abrir mão da diversificação global. O alerta vem de Bruna Centeno, economista, sócia e advisor da Blue3 Investimentos. Ela afirma que juros altos não anulam a necessidade de olhar para fora. Pelo contrário: reforçam.
A economista lembra que o investimento internacional não é uma busca imediata por rendimento, e sim uma ferramenta estrutural de proteção.
“Uma carteira bem estruturada precisa estar distribuída em diferentes classes e indexadores e isso vale para investimentos fora do Brasil. Aplicações nos Estados Unidos, tanto em renda fixa quanto em ações, por exemplo, oferecem segurança e potencial de valorização mesmo quando o Brasil apresenta juros elevados. Ter ativos internacionais ajuda a equilibrar o portfólio, porque quando uma ponta cai, a outra pode sustentar o resultado”, diz.
A economista explica que a alocação internacional não busca apenas rendimento imediato, mas funciona como proteção estrutural. Enquanto a Bolsa de Valores brasileira acumulou ganhos ao longo do ano, episódios políticos recentes mostraram que concentrar o patrimônio apenas em ativos domésticos pode trazer vulnerabilidade. Nesse contexto, ativos no exterior atuam como contrapeso, oferecendo mais estabilidade ao portfólio.
Centeno acrescenta que depender de um único país e de sua moeda aumenta os riscos. O real perdeu valor ao longo do ano, mesmo com juros elevados, e ter investimentos fora do Brasil garante que ganhos domésticos não sejam consumidos por oscilações cambiais, permitindo que a carteira mantenha equilíbrio e aproveite oportunidades globais.
Como ficam os seus investimentos com a taxa Selic em 15%
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), realizou uma simulação para analisar o desempenho de investimentos em renda fixa, levando em conta a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano.
O estudo utiliza uma previsão de 4,4% para o IPCA, conforme o Boletim Focus, e considera rentabilidade anual da poupança de 8,3%. A simulação abrange cálculos de rentabilidade bruta, líquida (após dedução de impostos e taxas) e real (ajustada pela inflação) para aplicações de R$ 1 mil em diferentes tipos de títulos.