- Taesa (TAEE11) enfrenta um cenário difícil, combinação de alavancagem elevada, menor número de projetos em andamento, resultados financeiros não tão expressivos e uma revisão em sua política de dividendos
- No 1T24, a companhia divulgou uma mudança na base de cálculo de sua política de dividendos, que agora será feita a partir do lucro líquido regulatório
- Analistas esperam por queda no dividend yield de curto prazo, em meio à necessidade de novos investimentos e endividamento alto
Uma das ações preferidas dos investidores para ganhar dividendos recorrentes está com a distribuição de proventos ameaçada para 2024. A Taesa (TAEE11) enfrenta um cenário difícil, combinação de endividamento elevado, menor número de projetos em andamento, resultados financeiros não tão expressivos e uma revisão em sua política de dividendos. Um combo que fez o mercado revisar as projeções de dividend yield para o curto prazo.
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A Taesa divulgou seu balanço financeiro referente ao primeiro trimestre de 2024 no dia 9 de maio. O Ebtida Regulatório reportado foi de R$ 485 milhões, abaixo dos R$ 491 mi que esperava o mercado. Junto com os números, a companhia de transmissão anunciou uma mudança em sua política de dividendos.
Em fato relevante, a Taesa informou que passará a utilizar o lucro líquido regulatório, e não o IRFS (padrão internacional de contabilidade), na base de cálculo para a distribuição de proventos. A proposta é remunerar os acionistas com o mínimo de 75% do lucro líquido regulatório em 2024 e, a partir de 2025, propor a distribuição entre 90% a 100% desses valores.
“Os investidores pessoa física gostam muito da Taesa porque, não só é uma empresa que se valorizou muito nos últimos 5 anos, como paga dividendos em torno de 8% a 10% ao ano”, diz Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento. “Só que, ao mudar a base de cálculo para o lucro líquido regulatório, o montante potencial de dividendos reduz”.
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A medida não altera muito do processo de geração de valor para o acionista de longo prazo. Mas aqueles que mantêm a TAEE11 na carteira com foco no recebimento de proventos devem ser impactados negativamente, ao menos no curto prazo.
Na avaliação da Genial Investimentos, a mudança do dividendo para a contabilidade regulatória é um avanço, tendo em vista a aderência do método em relação a geração de caixa da empresa. Ainda assim, traz como um efeito prático a redução do yield esperado para 2024 – após a divulgação da mudança, a corretora reduziu a estimativa de dividendos da Taesa de 11% para 8% no ano.
“O rendimento esperado de dividendos para o ano de 2024 deve ser pressionado pela aplicação dessa política enquanto os próximos anos devem ser normalizados em relação ao pay-out histórico. O evento é marginalmente negativo Para investidores focados em dividendos, o evento é marginalmente negativo”, destacam Vitor Sousa e Israel Rodrigues, analistas do setor elétrico da Genial.
Velhos desafios no radar
Segundo a Taesa, a mudança na base de cálculo dos dividendos tem como visa “a execução do planejamento estratégico e maior previsibilidade por parte do mercado” e “reforça a estratégia da Companhia baseada no crescimento sustentável e solidez financeira”. Mas a redução dos proventos pagos pela companhia não é uma possibilidade que surge agora na tese da companhia.
Há algum tempo, analistas chamam a atenção para o nível de endividamento da empresa. A dívida líquida sobre Ebitda em 12 meses da Taesa, que mede o nível de alavancagem de uma companhia, está em 3,8 vezes; a maior entre os pares. Uma “pedra no caminho” dos novos investimentos no radar da empresa.
Para a Genial, uma questão se impõe: a Taesa deveria focar primeiro em reduzir sua alavancagem para então viabilizar novos projetos e aumentar a receita, ou deveria priorizar a aquisição de novos projetos para elevar a receita e acelerar sua desalavancagem? Não há resposta certa, mas todos os caminhos apontam para uma queda da remuneração de investidores.
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“Em ambos os cenários, a empresa enfrentará perdas potenciais, seja por perder oportunidades de aquisição no curto prazo ou por ampliar ainda mais seu endividamento”, explicam os analistas Vitor Sousa e Israel Rodrigues. “Já tínhamos adiantado que uma das possibilidades para a Taesa seria diminuir o fluxo de pagamento de dividendos para acelerar o processo de desalavancagem e abrir espaço para entrada de novos projetos, uma vez que quando adquiridos, os novos projetos demoram cerca de 3/4 anos para começarem a gerar receita”, afirmam.
Há cerca de um ano, circulou no mercado rumores de que a companhia estaria se preparando para realizar uma oferta de ações para captar cerca de R$ 2 bilhões. O follow-on teria como objetivo captar recursos para os leilões de linhas de transmissão de energia que aconteceram no segundo semestre de 2023.
À época, como mostramos aqui, analistas acreditavam que a companhia poderia optar pela operação para ter caixa para adquirir novas concessões sem precisar reduzir o pagamento de investidores – isso porque, como parte dos contratos vigentes da companhia estão com prazos avançados, o mercado já entendia que havia a necessidade de a companhia ganhar novos projetos nos leilões.
A Taesa logo se pronunciou, dizendo que não havia decisão formal sobre o tema, e o follow-on realmente não saiu. Mas isso mostra como este não é um tema que entrou agora no radar.
Flavio Conde, da Levante, destaca que a mudança na política de dividendos pode ter sido a alternativa encontrada. Como muda a base de cálculo da distribuição, reduz os valores e a serem pagos aos investidores; abrindo espaço para que a companhia consiga atuar no endividamento ou desenvolver os novos projetos que são essenciais para a recomposição da receita futura.
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“É um dilema que vale para todas as empresas do setor. As companhias precisam crescer, vão ter que se endividar temporariamente por causa dos novos investimentos; isso aumenta a despesa financeira, diminui a receita financeira e aí cai o lucro líquido. Naturalmente, eles distribuem menos dividendos”, explica. “Essa mudança na base de IRFS para lucro regulatório foi feita justamente para não deixar a empresa tão alavancada”.
Ação cara
Apesar de ser um papel queridinhos dos investidores e uma empresa bastante sólida no mercado de energia brasileiro, analistas não têm recomendado a compra das ações da Taesa. O consenso de mercado disponível no Broadcast traz sete recomendações para as units TAEE11: duas de venda, cinco neutras.
O primeiro ponto por trás desse posicionamento é o atual preço dos ativos. A média dos preços-alvos entre as recomendações do Broadcast é de R$ 36,84 por papel, um potencial de valorização muito pequeno em relação à atual cotação. O entendimento é que o valuation está elevado, principalmente em relação ao dos pares Alupar (ALUP11) e Isa Cteep (TRPL4).
Flávio Conde, da Levante, explica que a métrica de valuation mais utilizada para avaliar os ativos do setor de energia é o EV/Ebitda, um indicador que relaciona o valor da companhia com a sua geração de caixa. Isso porque, ao contrário da métrica de preço sobre lucro (P/L), também muito utilizada no mercado, o cálculo do EV/Ebitda leva em conta o endividamento de determinada companhia; um ponto importante na avaliação das elétricas.
“O EV/Ebitda da Isa Cteep em 2024 é de 6,7 vezes e o da Alupar, de 6,5 vezes. O da Taesa é de 9,5 vezes”, destaca Conde. “Em relação aos pares, é o papel mais caro.”
Em um contexto de valuation esticado e dividendos menores no curto prazo, a Genial Investimentos é uma das que tem recomendação de manter as ações da Taesa. Em relatório divulgado logo após a publicação do balanço 1T24 da companhia, os analistas da corretora destacaram que o resultado não foi negativo, mas tampouco justifica que a empresa seja negociada acima de seu valor justo. “Pelas nossas estimativas, com a empresa negociando com uma Taxa Interna de Retorno Implícita de 8,3% em termos reais, contra 6,13% das NTN-Bs 2045, aos atuais níveis de preço não vemos razões para uma recomendação mais agressiva ao papel.”
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A EQI Research também prefere se manter neutra no papel. “Preferimos outros nomes do setor, considerando que a empresa enfrenta um desafio de alavancagem crescente, perspectiva de queda de receita no médio-longo prazo e uma provável redução nos dividendos que antes eram vultuosos”, diz Luis Moran, analista da EQI Research, em relatório.
As duas recomendações de venda da TAEE11 são do Itaú BBA, que está restrito no papel, e do Santander, que têm como preço-alvo R$ 35,95 e R$ 35,02, respectivamente.
Sobre a TAESA (TAEE11)
A Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. (Taesa) é uma empresa brasileira que atua no setor de transmissão de energia elétrica. Fundada no início dos anos 2000, a Taesa é especializada na construção, operação e manutenção de ativos de transmissão.
Em 2003, a empresa italiana Terna S.p.A. assumiu as concessões das companhias de transmissão de energia Novatrans e TSN. Em 2006, a Terna estabeleceu a holding Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. para administrar as concessões. Nesse mesmo ano, as ações da empresa foram listadas na Bolsa de Valores de São Paulo.
A Terna vendeu a holding para a CEMIG e o FIP Coliseu em 2009 e a empresa passou a se chamar Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A (Taesa). Nos anos seguintes, a Taesa realizou dois IPOs para impulsionar seu crescimento e em 2013 ocorreu uma Oferta Pública Secundária, que arrecadou um total de R$ 1,3 bilhão.
A Taesa está presente em todas as cinco regiões do país, atuando em 18 estados e no Distrito Federal. A empresa é responsável por cerca de 14 mil quilômetros (km) de linhas de transmissão, sendo mais de 11,5 mil km destinados à operação e manutenção e cerca de 2,5 mil km em construção. Aproximadamente 100 subestações de transmissão em todo o território nacional estão sob controle da companhia.
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A empresa detém por volta de 40 concessões autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com prazos que variam de 2030 a 2057. Na B3, está listada com ações ordinárias (TAEE3), preferenciais (TAEE4) e units (TAEE11).